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Negócio ‘Newcastle’ poderia acontecer em Portugal? “Fragilidade” pós-Covid pode ditar esse caminho

O comentador do programa “Jogo Económico” refere ao JE que “várias entidades a nível europeu e Portugal, por força de maus investimentos vão ficar muitos expostas a capital fora da Europa, nem sempre proveniente de regimes e personagens muito transparentes”.
23 Abril 2020, 16h01

A provável venda do Newcastle a um fundo de investimento da Arábia Saudita veio abrir novamente a discussão sobre a entrada destas entidades no futebol. Segundo o “The Guardian” o proprietário do clube inglês, Mike Ashley, já terá concordado em vender 80% dos ‘magpies’ por 355 milhões de euros.

O advogado e consultor Luís Miguel Henrique, comentador do programa “Jogo Económico”, da plataforma JE TV, refere ao Jornal Económico que este tipo de negociações continuam a acontecer devido a “um conjunto de entidades a nível europeu, não só em Portugal que, por força de maus investimentos e pelo facto das pessoas que controlam esses investimentos terem ficado numa situação mais débil, vão ficar muitos expostas a capital fora da Europa, nem sempre de regimes e personagens muito transparentes”.

De resto, este consultor acredita que este é um tipo de negócio que poderá acontecer também em Portugal. “Como nas costas dos outros vemos as nossas, é muito percetível que aquilo que está acontecer no Newcastle, num outro tipo de situação e dimensão, poderá acontecer em Portugal face à tal fragilidade que podemos atravessar”, afirma.

No entanto, este é um processo que poderá ter ramificações para lá dos relvados, podendo mesmo vir a causar um conflito diplomático entre Inglaterra e o Qatar. Isto porque, a BeIN Sports, de origem qatari e uma das principais emissoras desportivas da Europa, enviou uma carta à Premier League a pedir que a venda do Newcastle seja proibida.

Na base deste pedido está uma acusação da estação televisiva ao governo saudita, que acusa de piratear o sinal de transmissão dos seus eventos e exibi-los de forma ilegal no seu país, causando prejuízo à empresa, bem como violando os direitos de exclusividade.

“É importante perceber que o futebol europeu passa também por ser um branqueador de imagem, não sei se de capital, mas da imagem de regimes autocráticos que vêem no futebol uma maneira de poderem fazer um refreshment aos seus países e marcas”, salienta Luís Miguel Henrique.

Na carta enviada à Premier League, Yousef al-Obaidly, CEO da BeIN Sports, explica que “a potencial aquisição do Newcastle causará enormes danos às receitas comerciais do próprio clube e da Premier League, com o legado do serviço ilegal a continuar a causar impactos no futuro”.

O responsável frisa que “quando a temporada da Premier League recomeçar nos próximos meses, todo o conteúdo das emissoras da liga continuará disponível prontamente e ilegalmente através dos descodificadores de streaming da BeoutQ, vendidos em quantidades significativas na Arábia Saudita, nos Estados Unidos, e também no Médio Oriente e no norte da África”, acrescentando que “tudo isto acontece num momento em que os clubes de futebol precisam de proteger ainda mais as suas receitas de transmissão dado ao efeito económico enfraquecedor que o coronavírus está a exercer sobre a indústria do desporto”.

De acordo com o “The Guardian” a Premier League, juntamente com outros órgãos governamentais e detentores de direitos televisivos, já terá pedido à operadora de satélite Arabsat que retire da emissão televisiva a BeoutQ por pirataria.

A BeoutQ terá iniciado as suas atividades de transmissão ilegal em 2017, ano em que a Arábia Saudita e o Qatar se envolveram em polémicas ao nível da política que terminaram com o corte de relações diplomáticas entre os dois países.

Segundo o jornal inglês, fontes próximas da negociação de compra e venda do Newcastle acreditam que o acordo será feito, sendo um dos motivos dessa confiança o facto da Premier League ter aprovado a venda de 100% do Sheffield United a capitais sauditas no ano passado.

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