1. Falemos da TAP. A privatização foi evitada “in extremis”, disse fonte ligada ao processo a todos os OCS. Ao longo de três dias a pressão foi fundamental para se chegar ao ponto atual. Foi repassada a informação de que a nacionalização seria inevitável e estava decidida, depois a ideia de que o primeiro-ministro não queria essa solução, fazendo o papel de “polícia bom”, enquanto o ministro Pedro Nuno Santos fazia o papel de “polícia mau” e afirmava no parlamento que a nacionalização seria inevitável para não deixar a empresa cair.

Depois, o problema estava na diferença entre o que Neeleman, o acionista privado, pedia para sair, 55 milhões, e o valor que o Estado lhe dava, 40 milhões de euros. A história termina com o Estado a pagar os 55 milhões de euros e a vangloriar-se porque evitou que o obrigacionista brasileiro Azul, controlado por Neeleman, convertesse obrigações em ações em 2026 e, o que permitiria a Neeleman manter, ainda que indirectamente, uma posição de referência na companhia.

O país esteve suspenso durante uns dias, enquanto a TAP se mantinha maioritariamente em terra e com os credores a apertar a malha. Depois de tudo isto, o Governo sente-se confortável para avançar com a cobertura de um empréstimo até 1.200 milhões de euros numa primeira fase, e no futuro logo se verá. Aqui chegados perguntamos: isto é uma necessidade ou uma mistificação para aprovarem uma substituição acionista na TAP?

O ministro da tutela e a gestão andam às “turras” há meses e foi criada a convicção no cidadão comum de que a TAP é necessária para a imagem e turismo do país, mas é uma má empresa. Ora, nada de mais falso se pode atribuir à transportadora de bandeira nacional. Está longe de ser uma má empresa: faturou 3,3 mil milhões com o um EBITDA de 525 milhões de euros, e tinha em caixa quase 400 milhões de euros, para além de um cash-flow positivo de centenas de milhões.

Estamos perante uma máquina de fazer dinheiro. O que a empresa tem é custos de amortização com aviões, mas isso é investimento e não afeta o resultado operacional e o resultado líquido negativo é essencialmente da renovação da frota.

Claro que a Covid-19 lhes tirou o negócio, mas isso nada tem a ver com a má gestão na TAP. Claro que tem um problema de financeiro, porque andou a pagar sozinha a paragem da indústria e tem uma estrutura de custos pesada para aquilo que será a aviação do futuro. Acontece que este Governo e o ministro da tutela digeriram mal a privatização feita por Sérgio Monteiro, e de outro Governo, e querem arranjar um acionista mais simpático para as suas cores.

Convém ainda não esquecer que haverá sempre alguém (não sabemos quem) que ganhará com o negócio de mudança de acionistas e de uma venda futura da posição do Estado. Convenhamos: a TAP é uma excelente companhia do ponto de vista operacional e alguém, no futuro, ficará com uma empresa limpinha que agora vai ser paga pelos contribuintes.

2. Covid-19. As autoridades de saúde e as autoridades políticas perderam a noção do que estão a fazer. O desconfinamento abrupto fez com que se perdesse o controlo da situação. O encontro do Infarmed só demonstrou que os peritos têm mais dúvidas do que certezas. Medina e Temido enfrentam-se como inimigos e o primeiro-ministro passa ralhetes. A economia tem de retomar, mas nenhum político tem a coragem de afirmar que vão morrer muitas mais pessoas.