Portugal está ainda numa fase preliminar da doença. A contenção social e a declaração do Estado de Emergência no país – algo que nunca tinha acontecido na vigência da atual Constituição – é um passo relevante para controlar a propagação do contágio. E, por enquanto, as contas são ao número de vítimas e infetados e aos muitos milhões que o Governo anuncia como apoios.

Mas há dois pontos relevantes que se devem discutir para o presente e para o futuro. Desde logo, e para o presente, aquilo que famílias e empresas querem não são adiamentos, como se de um vendaval se tratasse, que tudo destrói e depois recebe a bonança. Não. Precisam de apoios monetários imediatos, liquidez para pagamentos imediatos a título de crédito a muito longo prazo e sem custos.

Não vale a pena pensar que as empresas irão pagar daqui a três meses, muito pelo contrário. Com a generalidade das pequenas e médias empresas a viverem no “fio da navalha” em termos de tesouraria, o futuro será o colapso. Os três mil milhões de euros em medidas avulsas são claramente ridículos. Espanha anunciou um pacote quase setenta vezes superior e a Polónia um valor quinze vezes superior.

Mas há um aspeto que merece reflexão para o “depois” deste quase “shutdown”. O país e a Europa não podem continuar sem estratégia. A cadeia de fornecimento da base alimentar, industrial e de serviços tem de começar no país, continuar para os parceiros europeus e só depois chegar a parceiros extra-europeus. Como é possível que a Europa tenha dificuldade de abastecimento em indústrias cruciais porque a China parou?

No futuro nada poderá continuar como até aqui, repetimos. O fornecimento base de produtos essenciais tem de estar assegurado. Isto não é o fim da globalização e muito menos da livre circulação na Europa comunitária, mas é um claro sinal de que há ativos estratégicos que países e regiões não podem prescindir pelo simples facto de haver um país asiático ou sul-americano que venda mais barato.

Em Portugal, e repetimos aquilo que técnicos vão frisando, com a pandemia a começar a fazer vítimas, é de realçar que empresas e cidadãos tomaram iniciativas antes dos poderes públicos o fazerem no mesmo sentido. O isolamento social e o teletrabalho – sempre que possível – resultaram da cooperação entre gestores e colaboradores e tem sido um claro sinal de maturidade do país. Recuperar de uma nova crise – que possivelmente será pior do que aquela que que tivemos com a assistência internacional da troika – é possível, mas recuperar uma vida não.

É escusado afirmar que as medidas pecam por tardias, ou que não tivemos um Presidente com estofo de militar para decidir antes de um isolamento voluntário, ou ainda que as ajudas anunciadas para as empresas e famílias são pouco substanciais. É necessário exigir aos políticos que façam a gestão da coisa pública para a qual quiseram e foram eleitos. Queremos o “Ronaldo das Finanças” a fazer a diferença.