Diz o provérbio chinês que se deve cavar o poço antes de se ter sede. No financiamento das economias também é assim: tem que se tratar da coisa antes dela ser um problema. A Itália apresentou dia 15 o seu projeto de orçamento, com um défice de 2,4% do PIB, acima dos 0,8% anunciados há menos de seis meses. A Moody’s desceu o rating da dívida italiana para Baa3, embora com “outlook estável”. Para a Itália, isto apenas mereceu um comentário: num comunicado da Presidência do Conselho de Ministros diz-se que tudo se passa como previsto. Entretanto, o spread entre obrigações italianas e alemãs atingiu um máximo de cinco anos.

A Comissão Europeia não foi branda e chumbou o projeto. Agora ficamos à espera do dia 26, quando a S&P anunciar o seu rating.

O que aconteceu com a Itália é importante por quatro ordens de razões: primeiro, a Itália é um país grande, a terceira economia da zona euro, signatária do Tratado de Roma e fundadora do euro, logo isto não deixa de ter repercussões nos outros países da União. Segundo, a dívida italiana está acima dos 130% do PIB; com este défice orçamental e dadas as perspetivas de crescimento económico que tem, iria continuar próxima deste valor por algum tempo. Terceiro, o “chumbo” constitui um sinal que os mercados lerão, tal como o será a resposta que a Itália lhe der. Quarto, a exposição do país a uma subida da taxa de juro é elevada, quando começamos a aproximar-nos do momento desta subida.

Com efeito, a taxa de juro já está a subir do outro lado do Atlântico e o seu aumento na Europa é apenas uma questão de tempo. A Reserva Federal (FED) começou o unwind do Quantitative Easing há cinco anos e o BCE já está a reduzir as suas compras de títulos, que terminarão em janeiro.

Mais, os americanos já não reinvestem os rendimentos destes títulos desde o ano passado, coisa que o BCE ainda não fez. FED e BCE têm em ativos mais de 4 mil milhões de dólares e euros, respetivamente, mas em diminuição na FED. Seguem-se os aumentos de taxas diretoras, que a FED iniciou em dezembro de 2015 e o BCE começará talvez em meados de 2019. Vamos esperar para ver que novidades traz a forward guidance, hoje mais relevante pois vão deixar o BCE Peter Praet, o seu economista-chefe, a meio do ano, e um trimestre depois o presidente, Mario Draghi.

Vamos ver como acaba este episódio do orçamento italiano. Para a Comissão, a situação é complexa – se um diferendo com a Itália representa um risco para o sistema financeiro europeu e para o euro, também não pode permitir que, passe o exagero do ditado, o crime compense. Mas a Itália está numa situação igualmente complexa, presa entre compromissos eleitorais e uma subida do prémio de risco sobre a dívida, que pode fazê-la perder para os juros a despesa extra que pretendia para outros fins. E os mercados financeiros têm destas coisas, ou, cpara citar Art Rooney, ‘o chefe’, “the biggest thrill wasn’t in winning on Sunday but in meeting the payroll on Monday.”