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Escolas de negócios adotam novos formatos e metodologias na resposta à pandemia

A formação online assume o protagonismo na atual conjuntura, mas o presencial voltará em setembro. No pós-Covid, o ‘blended learning’, misto entre sessões presenciais e à distância, irá afirmar-se cada vez mais.
21 Maio 2020, 07h25

Quando em março foram suspensas as aulas presenciais devido à Covid-19, as escolas de negócios não ficaram sentadas à espera de melhores dias. Reagiram. Ao ritmo de cada uma, estão a reinventar a oferta de formação para executivos, usando a atividade online e o ensino a distância. Trilham um caminho que vai seguramente ser aprofundado.

A crise desencanta desafios, mas também oportunidades. Ao Jornal Económico, José Crespo de Carvalho, presidente do ISCTE Executive Education, destaca uma em particular. “Uma tremenda oportunidade para pensar fora da caixa, desenhar oferta formativa diferente e acompanhar empresas através de novos formatos e aproximações”.

No curto prazo, o futuro prevê-se que “regresse” em setembro. Nessa altura, à semelhança de todas as atividades educativas universitárias, também os programas para quadros das empresas, gestores e empresários vão retomar a atividade presencial. Com distanciamento físico, cuidados de proteção, como máscaras, e também algumas interrogações.

Até que ponto se sentirão as pessoas seguras nesse regresso ao presencial? Até que ponto, vão as empresas manter os budgets que investiam em formação antes desta crise? – questiona Ana Côrte-Real, associate dean para a Formação Executiva da Católica Porto Business School. Entre estes dois enormes desafios a que só o futuro conseguirá responder, a responsável por esta escola de negócios com proximidade às empresas vê uma grande oportunidade: o surgimento de novas metodologias de ensino, em formatos online, blended, à distância, de acordo com os conteúdos, com o perfil do público alvo e com o perfil dos professores.

“Se existem cursos que devem voltar ao ensino presencial a 100%, outros permitem identificar oportunidades de novas metodologias, permitindo, inclusivamente, mais flexibilidade aos participantes e o acesso a novos mercados”, adianta Ana Côrte-Real.

Forte componente à distância
É indiscutível que a pandemia funcionou como um acelerador poderoso da adoção do ensino a distância. Mas, conforme salienta Filipa Cristovão, diretora do ISEG Executive Education, ao Jornal Económico, “não é caso para anunciar a morte do ensino presencial”. Na perspetiva desta responsável da escola de negócios da Universidade de Lisboa, uma solução que emergirá no pós-Covid-19 será o ‘blended learning’. Este híbrido, que conjuga sessões presenciais e sessões a distância, “consegue reunir as vantagens de ambos os modelos”, justifica.

Pedro Nunes da Costa, presidente da Coimbra Business School/ISCAC, alinha pelo mesmo diapasão. Na sua perspetiva, no pós-Covid, a formação executiva irá inevitavelmente manter “uma forte componente à distância”, devido a “sua facilidade e flexibilidade”. E isto porque, justifica, “o seu público alvo irá estar muito ocupado e mais concentrado no relançamento e reativação da atividade económica, na procura de novos mercados para as empresas”. Por isso, componentes relevantes de formação a distância irão permitir uma melhor gestão do tempo e dos custos das empresas com a formação.

 

Ferramentas para o futuro
A formação executiva é o negócio das escolas de formação e, como em qualquer outro negócio “encontra-se sob a pressão de adaptação e reinvenção constante”, salienta ao JE Pedro Brito, associate dean para a Executive Education & Business Transformation da Nova SBE, que o “Financial Times” elenca este ano como a primeira escola do ranking português e a 44.ª a nível mundial.

O grande desafio da formação executiva passa pelo “cumprimento da sua missão de apoiar pessoas e empresas a responderem aos desafios sentidos em contexto de adversidade”, justifica.

Céline Abecassis-Moedas, diretora da Formação de Executivos da Catolica-Lisbon, 39.ª melhor escola do mundo em programas costumizados para empresas, segundo o “Ranking Global do Financial Times Executive Education 2020”, coloca as coisas desta forma: “A educação executiva não é sobre o que foi bem feito no passado, é sobre encontrar respostas para hoje e liderar o caminho para inovar e construir o amanhã”.

No fundo, o que as escolas de negócios fazem é fornecer conhecimento transformável em técnicas, ferramentas e instrumentos que permitem a um executivo ser mais bem sucedido, a ele e naturalmente à empresa onde trabalha ou que lidera.

Alexandre Silveira, Marketing manager da HP, foi em busca dessas ferramentas quando decidiu fazer um MBA, a jóia da coroa da formação executiva. Ao Jornal Económico explica que “o crescimento profissional faz-se por etapas” e resulta de uma coincidência de oportunidades e capacidades.

“A formação executiva é uma excelente ferramenta para alargar as capacidades, mas não significa que só por si faça com que as oportunidades apareçam”, diz. A verdade é que, salienta Silveira, as ferramentas são boas ou más em função do que se faz com elas, e no caso de uma formação executiva tem que ser bem aproveitada no momento da aprendizagem e no momento da prática.”

Mafalda Rodrigues de Almeida, entrepreneur e fundadora do blogue Loveat, também procurou conhecimento especializado após a licenciatura em Ciências da Nutrição pelo Instituto Superior de Ciências da Saúde Egas Moniz. Em Londres fez o mestrado em Políticas Alimentares e ganhou ferramentas que lhe permitiram tomar o futuro nas mãos. “Um formação é verdadeiramente um passo em frente. Já não se trata do nosso conhecimento de base, mas, sim, daquilo que nos vai distinguir no mercado de trabalho, que nos vai diferenciar e tornar, de alguma maneira, únicos”.

 

Oferta renovada
A Porto Business School (PBS), terceira escola portuguesa a integrar o Top 100 das melhores do mundo do “FT”, foi muito rápida a reagir à pandemia. Logo, logo, lançou oito programas de formação para executivos exclusivamente em regime online, abarcando áreas como gestão, liderança, finanças, inovação e gestão de pessoas. Rui Coutinho, Executive Director for Innovation and Growth da PBS, diz ao JE que a PBS “tinha há algum tempo uma task force que preparava uma oferta integrada de soluções de formação executiva em e-learning”. Além disso, alguns dos seus programas já incorporavam algumas soluções online e soluções blended. “O que fizemos foi acelerar este processo e, em três dias, passámos toda a nossa oferta de longa duração (MBA e pós-graduações) para o formato full online”, explica.

A Nova SBE também reinventou o seu portefólio para 2020 com uma oferta de formação executiva digital first, destinada a ajudar as empresas a enfrentar a disrupção da pandemia. São mais de 20 programas pensados para “dar resposta ao contexto de disrupção atual. Pensados em formatos práticos e intensivos, estes programas incluem diagnósticos prévios aos participantes. Objetivo? Aferir desafios e contexto individuais de forma a permitir que o corpo docente desenvolva exercícios que permitam a cada participante desenvolver competências para planos de ação que possam ser aplicados na sua realidade profissional.

Também a Coimbra Business School/ISCAC está a reagir à pandemia com novos trunfos. Pedro Nunes da Costa, presidente da instituição, adianta ao Jornal Económico que a sua escola vai proporcionar formações mais especializadas, muito focadas em assuntos estritos, específicos, com pouca carga horária.

No mesmo eixo de reação encontra-se a Católica-Lisbon. A escola de negócios do pólo de Lisboa da Universidade Católica prepara-se para apresentar, em breve, novos programas online, adianta Céline Abecassis-Moedas: “Estamos a preparar uma oferta inovadora em programas online, que usará novas metodologias pedagógicas e que se focará em conteúdos muito atuais, respondendo às necessidades dos profissionais e das empresas nesta era Covid”.

Além de mais atividade online, a formação executiva vai ter mais temas ligados à economia digital e à economia social. Definitivamente, os tempos são outros.

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