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Como um engenheiro português chegou à NASA

Vive em Pasadena, Califórnia, onde ajuda a criar “cérebros” para satélites. O encontro com a NASA deu-se numa ação de recrutamento quando fazia o doutoramento. É um ilustre filho do Técnico e da cidade das Caldas da Rainha.
29 Março 2017, 16h05

Com boa dose de probabilidade não pisará a Lua, nem o solo de Marte, menos ainda Júpiter… Também não é isso que o move. O que diariamente o faz voar da cama é ajudar o homem a ultrapassar essa última fronteira da humanidade que é o espaço. Nuno Filipe, 32 anos, licenciado em Engenharia Aeroespacial pelo Instituto Superior Técnico, é Guidance and Control Engineer na NASA, a agência espacial norte-americana.

Em Pasadena, Califórnia, no Jet Propulsion Laboratory, um dos mais importantes laboratórios da agência espacial norte-americana, o jovem português ajuda a criar “cérebros” para satélites. “O que eu faço é, essencialmente, pilotos automáticos para satélites. Os pilotos hoje têm a forma de software, o software que incorpora a nave espacial e a torna inteligente”, explica ao Jornal Económico.

Europa Clipper, o projeto no qual trabalha, consiste na criação de uma sonda a enviar para uma das luas de Júpiter, em 2022. Até lá, Nuno Filipe verá a família em solo pátrio pouco mais do que uma dúzia de vezes, no Natal e no Verão. A distância entre Portugal e a Costa Oeste dos EUA mede-se em 14 horas de avião e 8 fusos horários. Com uma agravante: por lá, não há tantas férias… Vive em Pasadena com a mulher, uma jovem americana, desde que conseguiu o emprego na NASA, há dois anos. Foi o corolário de um sonho. “Sempre quis ter um trabalho relacionado com o espaço”, conta, acrescentando: “Há duas coisas que tinha a certeza. A outra era que queria estudar no Técnico”.

Nascido em 4 de setembro de 1984, nas Caldas da Rainha, zona Oeste, estudou sempre em escolas públicas. Na Secundária Rafael Bordalo Pinheiro, a inclinação que desde pequenino mostrara para a Matemática revelou-se um caso sério. E o 12.º ano foi selado com chave de ouro: 20 a Matemática e 20 a Física, no exame nacional. Limpinhos. “Não fui o único”, sublinha. O Técnico, que desde o início da adolescência lhe enchia a cabeça, era agora uma certeza. Corria o ano de 2002.
Na Alameda encontrou e fez amizade com outra dobradinha de “vintes” nos exames nacionais desse ano. Esta também jovem engenheira trabalha numa companhia de bombas hidráulicas para centrais térmicas e é casada com um amigo dele, que está na Boeing. De resto, o grupo dos amigos mais chegados inclui também um engenheiro que exerce na área das patentes, no European Patent Office, outra em microsatélites, outro na agência espacial francesa e outro ainda que é piloto da TAP. “É a malta com quem faço a Passagem de Ano. São todos ótimos e estão todos muito bem profissionalmente”, diz. Jovens na flor da idade, com carreiras brilhantes, a beberem a taça do sucesso em diferentes lugares do mundo. Nuno Filipe não põe de parte a possibilidade de regressar um dia. Nenhum dos amigos a exclui. Saíram porque foram atrás dos sonhos.

Outra coisa não poderiam fazer dada a falta de condições nas suas áreas de especialização. “Quem sabe se não seremos nós a tentar criá-las, um dia!”, diz. Quem sabe. Nos próximos anos não será certamente. “Ainda tenho muito, muito para aprender”, acrescenta.

Por estes dias, veio até Lisboa na pele de ilustre filho do Técnico para explicar aos mais jovens como se chega à NASA. “Foi um longo caminho”, contou. Formou-se em Engenharia Aeroespacial em 2007, continuou na Universidade de Delft, a maior e mais antiga instituição de tecnologia holandesa, para onde seguiu ainda como estudante de Erasmus. Aí fez o mestrado e arranjou passaporte para um estágio na ESA. Com uma bolsa Fulbright avançou para o doutoramento no Georgia Institute of Technology, conhecido pela forte ligação ao setor aeroespacial. Distinguiu-se, mais uma vez. Foi aí que se lhe abriram as portas da NASA, numa operação de recrutamento. “Tentei a minha sorte. Correu bem”, diz. Foi importante estar no sítio certo à hora certa, como importante foi a forma determinada como trabalhou para concretizar os sonhos de infância.

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