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Como será o adeus anunciado às notas e moedas?

A revolução digital chegou aos métodos de pagamento e a diretiva PSD2 alargou a infraestrutura financeira a outras entidades que não têm de ser bancos. Pagar já não é o que era: agora é digital.
30 Dezembro 2018, 17h00

Nos Estados Unidos já existem supermercados nos quais os clientes, com o smartphone a fazer de carteira, apenas precisam de escolher os produtos que pretendem levar para casa e sair, sem terem que fazer fila para pagar. Trazidos da ficção científica para a realidade, atualmente, há nove Amazon Go, inventados pela gigante do e-commerce, que assentam na tecnologia just walk out. Oferecem uma experiência de compra rápida e eficiente porque os clientes só precisam de abrir a app da Amazon Go, passar o QR Code no leitor à entrada da loja, escolher o que querem e sair. Inteiramente cashless, os pagamentos são automática e instantaneamente processados e visíveis na conta Amazon.

Esta experiência de compra é talvez o expoente máximo da eficiência dos novos sistemas de pagamentos eletrónicos, e que potenciam o e-commerce. Quando falamos neles, “falamos fundamentalmente da evolução normal do ato de pagar”, explica Paulo Raposo, diretor geral da Mastercard Portugal. O tema é relevante porque “o mercado procura agilidade, flexibilidade e simplicidade em algo tão simples como pagar”, sublinha Sebastião de Lancastre, CEO e fundador da easypay, uma fintech portuguesa, especialista em pagamentos eletrónicos para empresas.

A tendência dos pagamentos eletrónicos será de crescimento, pelo que as soluções presentes no mercado vão multiplicar-se. “Um estudo recente da “Economist” revelou que o retalho vai crescer entre 3% a 5%, em média. Mas, no e-commerce, o crescimento será de 21%”, salienta Paulo Raposo.  Em Portugal, “um mercado tradicionalmente mais conservador”, na ótica de Sebastião de Lancastre, “as compras online estão a aumentar”. Para o fundador da fintech portuguesa, “os novos sistemas de pagamentos ganham (…) relevância, tanto para os negócios, que, ao terem um sistema de pagamentos como a easypay, conseguem acelerar as vendas e a entrada de fundos, como para os consumidores, que têm ao seu alcance diferentes tipos de pagamentos, seguros e eficazes para as suas compras”.

PSD2 e o futuro das transações financeiras

A diretiva dos pagamentos PSD2 entrou em vigor em Portugal no dia 13 de novembro deste ano, com onze meses de atraso, pois devia ter sido transporta em janeiro. “Se um ano civil é o equivalente a sete anos de tecnologia, estamos, neste momento, [mais de] quatro anos atrasados”, alerta o CEO da easypay. Além disso, esta “falta de pontualidade dos portugueses (…) presente na forma como nos adaptamos aos novos quadros legislativos” constitui, para Sebastião de Lancastre, “o maior obstáculo ao desenvolvimento dos novos meios de pagamento”.

Apesar do atraso, o CEO encara a PSD2 como uma “grande oportunidade”, abrindo “a porta a grandes inovações com um novo impulso ao mercado único de pagamentos na União Europeia, um reforço da segurança, mais inovação e, acima de tudo, mais convinência para os consumidores”.

Baseada na autenticação forte do cliente, que conjuga dois de três elementos para o controlo das transações eletrónicas – como explica Raposo, “o que eu sou” (por exemplo, uma impressão digital), “o que eu tenho” (um dispositivo móvel) e “o que eu sei” (uma palavra-passe) -, a PSD2 vai trazar alterações no negócio da banca. O diretor da Mastercard sublinha que, no setor bancário, haverá “uma quantidade de entidades que vão prestar serviços financeiros, nomeadamente pagamentos, sem a necessidade de sererm um banco”.

“Podemos estar a falar de entidades que vão ser uma plataforma tecnológica que não vão ter uma licença bancária”, clarifica. “São entidades que, pela sua relação com os consumidores, permitem intermediar com os bancos [diversos] serviços financeiros”. A consquência? “Há um efeito transformacional para a banca e há uma necessidade de os bancos reprensarem a sua experiência para o consumidor”, conclui.

O caso mais recente é o da Revolut, uma fintech sediada em Londres que já tem mais de três milhões de utilizadores. Através de uma app, começou como um cartão digital para fazer pagamentos eletrónicos, entre outras funcionalidades. Mas, este mês, obteve uma licença bancária na Europa, o que significa que pode  gerir depósitos e conceder financiamento, concorrendo directamente com a banca tradicional.

Pagar nunca foi tão simples.

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