Um urso pardo atravessou a fronteira e devorou 50 quilos de mel, pertencentes a um apicultor de Montesinho. Depois, regressou a Espanha de onde viera. Deu que falar. Tanto nas redes sociais como nos órgãos de comunicação social. Em simultâneo com as notícias sobre o regresso do urso, o Instituto Nacional de Estatística divulgou que em 2018 a carga fiscal imposta aos portugueses foi equivalente a 35,4% do nosso PIB, um crescimento no encaixe fiscal de 6,5%, em termos nominais. Em suma, a maior carga fiscal de sempre. O Estado arrecadou 71,4 mil milhões de euros, sendo que os maiores contributos vieram do IVA e do IRS e que o imposto sobre o consumo subiu mais de mil milhões de euros.

Esta inusitada carga fiscal, tal como o CDS denunciou em sede de debate parlamentar, coincide com a política de desinvestimento público levada a cabo pelo Governo socialista, com os efeitos altamente nefastos que essa decisão tem comprovado na decadência da rede ferroviária, as chocantes notícias que quotidianamente surgem associadas às dificuldades gravíssimas para a gestão dos hospitais públicos enfrentadas pelo Serviço Nacional de Saúde e a decadência geral da qualidade dos serviços públicos.

Uma situação que, aliás, é espelhada a nível autárquico na Câmara Municipal de Lisboa – na qualidade de vereador, não me tenho cansado de realçar desde o mandato anterior. Fernando Medina aumenta as taxas e taxinhas por um lado e, por outro, insiste na repetição de modelos de concurso público lesivos para as contas da CML, como é bem exemplo o anúncio de mais um concurso público num valor que pode ascender a mais 50 milhões de euros para o fornecimento de bicicletas, após a falência desse mesmo modelo de negócio comprovado pela rescisão com a empresa Órbita.

É evidente que o comportamento do Governo é o mesmo que o do urso pardo. Ataca o mel dos cidadãos contribuintes e vai-se embora, deixando nas colmeias – que são aqui a metáfora das micro e pequenas empresas e das famílias – um rasto de desolação. O spin de António Costa é facilmente desmontado pela realidade dos factos. Afirma o primeiro-ministro que a receita fiscal subiu apenas porque a economia melhorou.

Tal falácia é desmontada todas as semanas pelos relatórios da UTAO, pelos alertas expressos nos barómetros trimestrais da Ordem dos Economistas, pela retração do investimento publicitário, pelas dificuldades partilhadas pelas empresas que se refletem já no número de encomendas dos seus produtos. A tudo isto António Costa responde com o mesmo otimismo desenraizado da realidade a que já assistimos no passado com José Sócrates e que deu no que deu. Todos os receios que possamos ter são, infelizmente, mais do que justificados.

 

Já aqui falei várias vezes da Caixa Geral de Depósitos. A recente audiência de Berardo em comissão parlamentar foi confrangedora em mais do que um aspeto. A começar por, mais uma vez, ter demonstrado como o banco público – em especial quando gerido por Carlos Santos Ferreira e Armando Vara – tratou o dinheiro dos contribuintes. Sem que a CGD lhe tenha pedido avais pessoais para os créditos que deu, é chocante mas não surpreendente que Berardo agora se ria de todos nós.