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“O BCP quer ter condições para estar sentado à mesa” das fusões, admitiu Miguel Maya sobre o futuro até 2024

O BCP apresentou o novo plano estratégico para 2021-2024. Nele renova a meta de rentabilidade de 10% e o CEO garante que tem alavancas para atingir a meta que falhou no plano estratégico anterior.
  • ANTÓNIO COTRIM/LUSA
27 Julho 2021, 08h15

No dia em que apresentou resultados líquidos do primeiro semestre a caírem 84% para 12,3 milhões devido a 214,2 milhões de euros de provisões para riscos legais associados a créditos em francos suíços concedidos na Polónia e a itens específicos de 87,2 milhões em Portugal (respeitante essencialmente a custos de reestruturação) e uma rentabilidade dos capitais próprios a cair de 2,6% em junho de 2020 para 0,4% em junho deste ano, Miguel Maya apresentou os objetivos do BCP para 2024.

O CEO prepara o Millennium BCP do futuro e até 2024 quer “superar com sucesso o impacto da pandemia e atingir níveis robustos de rendibilidade e qualidade do balanço; acelerar a diferenciação competitiva do banco em eficiência e no envolvimento com os clientes, com base no atendimento humano qualificado e em novas soluções mobile/digital; e dar resposta aos desafios da sustentabilidade com enfoque nos riscos e oportunidades das alterações climáticas, da vertente social e do bom governo da sociedade”.

O BCP conta com a recuperação económica após a pandemia para atingir as metas que definiu para o novo plano com um horizonte 2021 a 2024.

“O BCP quer ter condições para estar sentado à mesa” das fusões

Sobre a possibilidade de o novo plano estratégico integrar (ou não) projectos de concentração bancária, Miguel Maya disse que “não estamos a planear o que quer que seja para além do crescimento orgânico”. Mas não se ficou por aqui, pois acrescentou: “temos plena consciência que há uma agenda do regulador europeu de consolidação bancária, temos a clara consciência que temos de estar em condições de estarmos sentados à mesa para se aparecerem oportunidades as podermos analisar, e depois tomaremos a decisão que tivermos de tomar”.

O BCP volta a ser ambicioso nas metas do novo Plano Estratégico 2021-2024. O cost-to-income volta a ter a meta (não atingida) dos 40%. O banco falhou na meta do rácio de eficiência no plano estratégico 2018-2021, com o cost-to-income a fixar-se em 53% (45% sem custos não recorrentes) quando a meta era os 40%.

“Um rigor ao nível do capital e do risco e liderar a eficiência, o que é um imperativo”, fazem parte do plano estratégico de 2024, a que acrescentou o compromisso com a sustentabilidade. “Estamos a pensar incrementar  a produção de green project finance em cerca de 50%”, disse o CEO.

Desde logo, e até ao fim do ano o BCP vai reduzir em 800 pessoas o quadro de pessoal, em nome da melhoria da eficiência. O banco prevê poupar 35 milhões de euros por ano em custos com isto.

Miguel Maya falava ainda das metas para 2024, quando explicou que o BCP está a contar “com três mil milhões de financiamento a empresas versus 2020”, aproveitando as oportunidades associadas ao quadro de fundos europeus para a retoma económica (PRR, PT 2030). “O banco está ainda a contar com três mil milhões de ativos sob gestão, versus 2020 e três mil milhões de financiamento a particulares versus 2020”, isto daria “os 300 milhões de euros de produto bancário adicional, a que se juntam as poupanças recorrentes na ordem dos 35 milhões de euros, o que permite esperar por uma melhoria do cost-to-income que tem de convergir para um rácio de 40%”.

Depois do banco ter falhado no plano estratégico a ambiciosa meta de atingir uma rentabilidade (ROE) de 10%, volta a colocá-la no plano para 2021 e 2024.

As alavancas para chegar a este ROE, segundo Miguel Maya, “são o crescimento expressivo no negócio de particulares, o crescimento expressivo da rentabilidade do segmento de negócios/empresas e um programa de reforço da eficiência”.

A rentabilidade no plano estratégico anterior ficou muito longe da meta, com um ROE de 0,4% em junho, o que, segundo o banco, seria de cerca de 4% sem provisões para os créditos em francos suíços concedidos até 2008 no banco na Polónia.

“Em termos de qualidade dos ativos e não obstante a pandemia, atingimos com cerca de seis meses de antecedência a redução do stock de NPE [crédito improdutivo]. Apresentamos uma redução de cerca de 60% desde o início do plano estratégico. O custo do risco está a convergir, mas no plano anterior não foi atingido”, referiu o presidente do BCP.

O BCP volta a pôr no Plano Estratégico um rácio de NPE de 4%. O que não será difícil de atingir tendo em conta que em junho o rácio de Non-Performing Expure é já de 5,2%.

Apesar da melhoria da carteira de crédito, com um rácio de NPE de 5,2%, a crise não o deixou desarmar as imparidades e assim falhou a meta de ter um custo do risco de 0,50%. Essa meta volta a estar no novo plano estratégico.

Em junho deste ano o custo do risco melhorou para 0,55% face a 0,85% um ano antes. No entanto o custo do risco passa para 0,68% quando ajustado de reversões one-off de 0,81% em Portugal e de 0,38% nas operações internacionais.

Apesar de Miguel Maya continuar a dizer que “distribuir dividendos é muito importante”, o BCP falhou a meta de um pay-out de 40% dos lucros, graças à pandemia, ao BCE (que recomendou a suspensão dos dividendos) e graças aos custos na Polónia. O mais relevante é que o BCP desta vez não colocou qualquer meta em relação a dividendos no plano apresentado. “Sabendo que é muito importante pagar dividendos, vamos esperar por setembro para fazer essa reflexão”, disse o presidente do banco.

Em termos de rácio de capital, o BCP não tem uma folga significativa quando comparado com alguns dos seus pares. Mas para 2024 a meta do rácio de CET1 é de mais de 12,5%.

O rácio de capital do BCP em junho ficou rés-vés, ao atingir os 11,6% de CET1 (11,8% pro forma), quando a meta era de 12%. Miguel Maya reconheceu que o rácio de capital do BCP não tem uma grande folga, mas está confortável para o modelo de negócio e de risco do banco.  A pandemia e as provisões para litigância no Millennium Bank na Polónia trocaram as voltas ao BCP que não conseguiu quatro das 10 metas que compunham o Plano Estratégico de 2018-2021. “Apesar da prossecução dos objetivos financeiros ter sido condicionada por fatores exógenos (pandemia e riscos de litigância dos clientes na Polónia por causa dos créditos em francos suíços), a execução do Plano Estratégico anterior cumpriu nas iniciativas core e posicionou o banco para o futuro”, explica o banco.

Se a pandemia prejudicou umas metas, ajudou noutras. O BCP atingiu os clientes ativos de 6 milhões em junho, quando a meta era 6 milhões ou mais. Os clientes digitais são já 67% do total, a meta era atingir em 2021 60% e os clientes mobile já são 53% acima da meta de 45%. Estas metas foram atingidas “com mais de seis meses de antecedência”, disse o CEO.

Para o plano de 2021-2024 o BCP quer que os clientes mobile superem os 65% e que o crescimento em clientes de elevado envolvimento com o banco supere os 12%.

No plano estratégico anterior o rácio de transformação (loans-to-deposits) foi de 82%, abaixo dos 100% fixados como meta. Pelo que este tema não consta do novo plano.

O novo plano vem com a média de rating ESG (environmental, social and corporate governance) que se em 2020 era de 75%, a meta para 2024 é superar os 80%.

Miguel Maya lembrou que o setor bancário enfrenta desafios relevantes. Nomeadamente a banca portuguesa opera com um “enquadramento competitivo desnivelado em contexto de reduzida rendibilidade”. Aqui voltou a falar do montante significativo de contribuições obrigatórias, o que pesa nos custos.

O BCP lembrou o cenário de baixas taxas de juro por um período prolongado, restringindo os níveis de rendibilidade, para além dos novos competidores (novos players tecnológicos e digitais) estarem a crescer, o que afecta todos os bancos a nível europeu.

No que toca a desafios em Portugal, onde o banco teve resultados líquidos de 45,1 milhões (-0,1%) o banco fala em restrições estruturais ao comissionamento e em níveis de provisionamento elevados devido a Covid-19, e fala do legado de NPE (e carteira de créditos hipotecários em créditos suíços, na Polónia).

O maior feito do BCP foi ter conseguido reduzir a carteira de crédito malparado (NPE) em -10,7 mil milhões de euros entre 2013 e o primeiro semestre de 2021. O que incluiu, em média, uma venda organizada de carteiras por trimestre, desde 2016.

A normalização do custo do risco (novas imparidades sobre o total da carteira) também é um feito a destacar. Entre 2013 e junho de 2021, baixou -76 pontos base.

No que toca à conta de resultados, o banco viu no primeiro semestre subir o produto bancário 6,6% para 1.122,6 milhões face a junho do ano anterior, mas há a registar a subida dos resultados de operações financeiras, que evoluiu de 31,8 milhões em junho de 2020 para 79,8 milhões de euros. O que traduz em boa parte venda de dívida pública. O que em regra pode comprometer a margem financeira em trimestres futuros.

Na resposta ao jornalistas sobre este tema, Miguel Maya ressalvou que a comparação com o ano passado está enviesada pelos números muito baixos do semestre de 2020, mas reconheceu que houve neste semestre vendas significativas de dívidas soberanas e de dívida corporate.

Na apresentação o BCP avança que o total de dívida pública em carteira é de 18,8 mil milhões, dos quais 15,3 mil milhões com maturidade superior a 2 anos. Aqui a dívida pública portuguesa totalizou 9,2 mil milhões, polaca 4,2 mil milhões e moçambicana 0,5 mil milhões; “outros” incluem dívida pública espanhola (1,6 mil milhões), italiana (1,1 mil milhões), francesa (1,0 mil milhões), belga (0,5 mil milhões), irlandesa (0,5 mil milhões) e norte-americana (0,2 mil milhões).

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