Todas sabemos que no “Clube do Bolinha” menina não entra. No caso do Bolinha dos livros de banda desenhada, o objectivo era mesmo manter afastada a Luluzinha, mas na sociedade em que vivemos, o objetivo parece ser manter todas as mulheres afastadas de qualquer lugar em que remotamente haja poder de decisão. O que se passa é que, apesar de sermos a maioria da população, de sermos a maioria nas universidades, somos uma minoria efetiva no que diz respeito ao poder. Aliás, de certeza que qualquer alguém que pense um pouco se lembra de equipas em que a esmagadora maioria – se não a totalidade – dos efetivos é mulher, mas em que as chefias são homens. Como se houvesse uma aceitação geral de que as fêmeas estão talhadas para trabalhar, mas não para liderar, chefiar ou comandar.

Os estudos dizem que somais mais, que temos mais habilitações. Mas também dizem que nada de chefias – só 7% dos presidentes de câmara usam saia (pelo menos, em público); só 14% dos administradores de empresas do PSI 20 – na verdade, um PSI 17 – são mulheres; e só 2% – duas em cada 100 – são presidentes do conselho de administração, segundo um estudo da consultora Deloitte (para comparação, a nível global, as mulheres que lideram empresas são poucas, mas, em percentagem, encontramos o dobro do que vemos em Portugal).

Antes deste governo, o Expresso fez um trabalho em que concluía que ao longo de 41 anos, 25 governos e 15 primeiros-ministros diferentes, foram nomeados para funções governativas 1.609 homens e 127 mulheres: 92,7% com cromossoma Y e 7,3% com cromossoma X. “É assim Portugal”, diziam. E não mudou substancialmente com este governo: são três ministras em 18 ministros (contando com o primeiro) e 18 secretárias de Estado num grupo de 43. As percentagens são, agora, melhores, é um facto, mas estamos ainda longe da paridade. E nem estou a falar do que defende uma amiga minha, imensamente competente, que ocupou cargos de topo e que diz que “a paridade só chega quando tivermos mulheres incompetentes nomeadas para cargos de chefia”, como acontece com os homens.

Se olharmos bem, vemos que nas principais instituições só encontramos homens. A exceção, agora, são os reguladores, que são reguladoras, mas por imposição da lei – com a qual discordo, em conceito, mas com a qual concordo, na prática.

E isto leva-nos, de novo, à conversa sobre o assédio. Como disse no último texto, trata-se de uma questão de poder. Assedia quem pode, quem tem poder para impor o seu comportamento ou a sua vontade. E o que se passa é que as mulheres continuam a estar longe de poder ter posições em que possam exercer poder, ou seja, na questão do assédio, continuarão a ser, sempre, vítimas do “Clube do Bolinha”.