A visita a Luanda iniciou com a polémica sobre as calças denim o primeiro-ministro. No entanto, tal como o protagonista do anúncio televisivo do bálsamo popular nos anos 70 e 80, António Costa é um homem que sabe sempre o que quer e não deixou uma mera gaffe protocolar interferir nos objetivos.

Aterrar no aeroporto 4 de fevereiro era, já por si, um enorme sucesso. Significava que o ‘divórcio temporário’, como o outrora colérico mas agora apaziguador ‘Jornal de Angola’ o chamou, terminara. Com o chamado ‘irritante’ processo Fizz ultrapassado, era altura de acabar com os avanços e recuos no agendamento de visitas.

O primeiro-ministro português aproveitou a visita de dois dias para formalizar o convite de Marcelo Rebelo de Sousa para João Lourenço vir a Lisboa em novembro. Costa salientou que é essencial que as visitas entre os dois países não sejam tão espaçadas no tempo, porque há matérias que se acumulam por tratar.

Confesso que não partilhei do entusiasmo dos líderes portugueses e angolanos com o fim do ‘irritante’, do envio para Luanda do processo que acusava o ex-vice-presidente angolano Manuel Vicente do crime de corrupção ativa em Portugal. A questão da soberania, que foi a base da decisão, tem o seu peso, mas é difícil aceitar que um processo tão importante saia das mãos da autoridades portugueses.

No entanto, fait accompli, é preciso aproveitar as consequências positivas, e António Costa quer e sabe como ninguém fazer isso.

O primeiro-ministro sabe que o contexto político em Angola também mudou com a saída de cena de José Eduardo dos Santos e que a nova liderança em Luanda também precisa de uma relação sólida e produtiva com Portugal, especialmente num momento em que a economia angolana continua a enfrentar enormes dificuldades.

Costa trouxe na mala de regresso um importante acordo  para acabar com a dupla tributação. Entre várias outras medidas anunciadas, destaca-se o aumento da linha de crédito às exportações para Angola e um acordo sobre o transporte aéreo, para aumentar a frequência de voos entre Lisboa e Luanda.

Costa tem razão, há vários assuntos que se têm arrastado devido às tensões entre os dois países. O dia-a-dia das pessoas e das empresas portuguesas em Angola não tem sido fácil nos últimos anos. Além da questão dos voos, o problema da dificuldade em obter vistos é um tema crucial.

António Costa e João Lourenço estiveram em sintonia, ambos querem intensificar as relações entre os dois países, com maior cooperação no investimento, no comércio, na defesa e em várias outras áreas.

Mas antes de acelerar essa cooperação é preciso resolver os problemas existentes. Os atrasos no pagamento das dívidas do estado angolano a empresa portuguesas é um dos mais importantes.

Esperemos que na mala de viagem para Lisboa em novembro, João Lourenço traga boas notícias sobre o tema.