Heinrich von Kleist, um dos nomes maiores da literatura alemã do século XIX e o mais importante dramaturgo do movimento romântico alemão, escreveu “O Duelo” em 1811, cujo argumento roça o género policial. Com dramaturgia a cargo da ensaísta Maria Filomena Molder e encenação de Carlos Pimenta, o desafio desta peça está em narrar a história enquadrando-a no teatro invisível. E o que é isso? É o teatro em que o espectador é protagonista da ação.
Mais não dizemos, a não ser que a interpretação está a cargo do ator Miguel Loureiro, única voz das várias vozes desta novela sobre um triângulo amoroso. E o que nos conta Kleist? Que a jovem Littegarde é difamada pelo conde Jacob Barba-Ruiva, que ambiciona ficar com a coroa e a usa como álibi quando acusado da morte do irmão. Littegarde, pede ajuda ao seu apaixonado, Frederico von Trota, camareiro de Duque de Breysach, para desmontar esta inenarrável mentira. O camareiro desafia o conde para o desfecho que o título da peça deixa antever, o duelo, na tentativa de limpar o bom nome da sua amada. Ou seja, a lei está na ponta da espada, pelo que a justiça não passa de uma ilusão.
Esta história romântica de contornos policiais traz a lume o cálculo e o acaso, o fracasso e o sucesso, lançando pistas, quiçá, acerca da vida contemporânea. No dossiê de imprensa lê-se que Kleist criou uma obra em “desajuste com a sua época e as suas leis”, nela se observando um “rigor impiedoso”, na instrução jurídica do século XIV, nos quais a crença religiosa falava mais alto.
“O juízo divino, os triunfos da espada, a lei e o sentido de justiça acabam por ser colocados em causa quando o vencido do duelo recupera das terríveis feridas do confronto e o vencedor sucumbe no seguimento de uma leve arranhadura”.
“O Duelo” foi uma das poucas novelas escritas por Kleist que viria a ser estreada em palco. E se Goethe renegava o mestre da dramaturgia alemã e Kafka o elegia como um dos seus autores preferidos, para Thomas Mann “O Duelo” era, tão-só, “uma das grandes obras da literatura alemã”.
Uma Coprodução Centro Cultural de Belém, Teatro Nacional São João e Horta Seca, para ver hoje e amanhã, 26 de novembro às 21h00 (quinta e sexta-feira) e às 19h00 (sexta-feira), no Grande Auditório do CCB, em Lisboa.
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