Há sempre um provérbio adequado para a circunstância. Neste caso, à polémica em torno do relatório da OCDE, intitulado “Economic Survey of Portugal – 2019”, aplica-se o ditado popular que diz que “o que nasce torto, tarde ou nunca se endireita”.

Começámos por saber que ao Governo português desagradavam várias referências na versão preliminar do relatório, que, sendo factuais, recordavam circunstâncias menos positivas para a imagem paradisíaca desejada pelos nossos governantes socialistas. Entre elas incluía-se uma menção indireta à Operação Marquês e comparações negativas para Portugal face a outros países. O mal-estar gerado foi tornado público e as notícias sobre o braço de ferro institucional surgiram, aumentando a expectativa face à apresentação oficial do documento.

Como habitualmente, ou assim se pensava, a uma apresentação à comunicação social com a presença dos representantes da OCDE e de membros do Governo, suceder-se-ia a apresentação pública aberta, em parceria com a Ordem dos Economistas (OE). Qual não foi o espanto quando, sem que fossem claras as razões e apenas que as mesmas eram alheias à OE, surge a notícia do cancelamento dessa sessão aberta aos representantes do mercado e dos setores económico e financeiro, onde seriam colocadas perguntas de cariz mais técnico e específico.

Só posteriormente, então, veio a saber-se que para além desse cancelamento e por pressão do Governo junto da OCDE, não estaria em Portugal – ao contrário do que fora anunciado – o principal autor do trabalho de campo que serviu de base ao relatório. Ou seja, o ex-ministro da Economia do governo PSD-CDS, Álvaro Santos Pereira, diretor do Country Studies Branch da OCDE desde 2014.

Em suma, foi suavizado o relatório e expurgadas as tais referências, Santos Pereira “desapareceu” do palco e o secretário-geral da OCDE, na conferência de imprensa, Angel Gúrria, acabou por enaltecer as políticas do Governo português e surgir nas notícias como defensor de um agravamento fiscal para o gasóleo.

Houve quem classificasse como “inócua” a versão final do relatório. Mas considero tudo menos inócuos os efeitos desta cadeia de acontecimentos na imagem de ambas as instituições. Na imagem do Governo português por surgir como adversário da transparência e instrumento de pressão sobre uma entidade internacional. Na imagem da OCDE por fazer passar a mensagem de que a instituição é permeável a pressões políticas secundarizando as recomendações técnicas. Numa palavra: lamentável.

 

 

Flickr

O anúncio da recandidatura de Bernie Sanders a presidente dos EUA veio aumentar o picante em torno das eleições que terão lugar em 2020. Muitos outros nomes foram já anunciados e outros se perfilam. Mas o regresso de Sanders, senador nos seus 77 anos, juntando-se na disputa a figuras como Elizabeth Warren e Kamala Harris, promete animar as hostes democratas. A ver vamos se também o ex-vice-presidente Joe Biden se lança na corrida.