O Facebook vai alterar o algoritmo que seleciona os conteúdos do feed de notícias dos seus utilizadores. Esta alteração poderia dizer respeito apenas aos utilizadores desta rede social, mas as suas implicações vão muito além disso.

Nos últimos anos, os meios de comunicação social apostaram no Facebook e em outras redes sociais para atraírem tráfego para os seus sites, de modo a captarem mais investimento publicitário. Num mercado completamente desregulado, onde os media apenas recebem algumas migalhas do investimento publicitário no online (o Facebook e o Google devoram 80% do bolo), esta foi a forma que o setor encontrou para gerar receita.

Claro está que esta estratégia teve consequências na linha editorial e no modelo de negócio dos media, como refere o trabalho da jornalista Mariana Bandeira, que pode ler na página 37 desta edição do seu Jornal Económico.

Na linha editorial, a aposta nas redes sociais levou à proliferação de conteúdos com pouco valor acrescentado ou mesmo do chamado clickbait, que consiste em conquistar visitas (cliques) com recurso a títulos enganosos. Esta tendência tem conduzido a um decréscimo da qualidade da informação disponibilizada em muitos sites noticiosos.

No que diz respeito aos modelos de negócio, a dependência do Facebook e de outras redes sociais tornou possível a existência de meios de comunicação 100% digitais que disponibilizam informação gratuita. E cujo modelo de negócio assenta essencialmente na venda de publicidade online.

As alterações que o Facebook vai fazer no seu algoritmo terão impacto neste estado de coisas? A resposta é sim. A alteração do algoritmo levará a que seja mais difícil a estes meios 100% digitais atraírem leitores nas redes sociais. Por consequência, terão menos visitas e visualizações de páginas e, logo, menos receitas publicitárias.

Mas esta alteração de paradigma, a confirmar-se, far-se-á sentir também nos media tradicionais e naqueles meios que, como o Jornal Económico, apostam na venda de conteúdos informativos nos dois suportes, em papel e online, mas que também têm sites com conteúdos gratuitos.

Em suma, os meios de comunicação social terão de fazer mais e melhor, de modo a merecermos a confiança dos nossos leitores. Vamos ter de nos reiventar e de apostar cada vez mais no jornalismo de qualidade. Como diz José Carlos Lourenço, administrador da Global Media, no artigo da Mariana Bandeira, a decisão do Facebook é um desafio mas também uma oportunidade para quem tiver o know how necessário para fazer bom jornalismo e souber tirar partido das novas tecnologias.

Uma coisa é certa: nenhum sector de actividade pode sobreviver oferecendo de graça aquilo que produz. E da sobrevivência do jornalismo sério e de qualidade depende o futuro da democracia.