É oficial: a reboque do clamor público, vai haver terceiro inquérito parlamentar à Caixa Geral dos Depósitos (CGD). Significa isto que o PS, PSD e CDS vão ter uma excelente oportunidade para se indignarem com o trabalho dos gestores que têm andado a nomear desde o 25 de Abril – e que os seus respetivos e sagazes deputados, apesar das evidências, nunca desconfiaram que forjassem decisões profissionais e técnicas a reboque da vontade política dos mesmos dirigentes que os convidam, a eles deputados, para integrar “as listas” (sendo que alguns destes também se sentam em São Bento para melhor poderem ‘coordenar’ a vida política partidária).

Parece confuso, admito. Mas é assim. Tão certo como Bloco e PCP irem agora também fingir não terem ajudado o PS a matar a segunda comissão de inquérito para esconder o pouco, mas terrível, que finalmente se sabe sobre a perda de 1,2 mil milhões de euros em créditos irregulares. Fica assim oficializada a tese cândida do Bloco, ou seja, que as comissões parlamentares só se promovem para investigar dados conhecidos. Excelente teoria!

E, no entanto, deveria haver ainda muito a investigar, tanto na CGD, em particular, como no sistema bancário português, de uma maneira geral, nem que fosse para termos uma ideia mais concreta dos crimes cometidos e que a Justiça tarda em julgar.

Os impostos dos portugueses serviram para tapar 17 mil milhões de euros evaporados nos bancos na última década, entre os quais estão os 4 mil milhões da recapitalização da CGD mas também se contam os  5,1 mil milhões que transformaram o BES em Novo Banco, já não falando do longínquo BPN e de outros roubos de menor escala. Este é um dos retratos de Portugal, que a política não quer reconhecer porque é, de facto, a autora moral das irregularidades à espera de serem reconhecidas como crimes.

Confesso a minha nula expectativa nesta terceira ronda parlamentar sobre a CGD. Quem não quis saber do porquê da recapitalização de 4 mil milhões não vai querer genuinamente aprofundar as responsabilidades políticas históricas na gestão CGD. É disso que estamos a falar, muito para além das marionetas utilizadas.

Nesta conjuntura, não há como não sentir apreço pela carta que a eurodeputada Ana Gomes, do PS, escreveu às autoridades europeias pedindo-lhes que sigam o caso e verifiquem se o Governo português promove o apuramento das responsabilidades, que deve incluir a verificação criminal dos gestores e a restituição do dinheiro por parte dos grandes devedores. É terrível que uma carta a dizer coisas normais nos pareça um acto de coragem, eu sei. Mas é esta a triste realidade do país, dominado pela corrupção.

Neste preciso momento a atenção deve focar-se nos elementos que, a reboque de um pretenso respeito pelo sigilo bancário, a CGD retirou do relatório enviado ao Parlamento. O argumento pode servir para tentar esconder, pela enésima vez, tudo aquilo que a sociedade portuguesa tem o direito de saber.

 

O Presidente da República anunciou a promulgação do diploma, aprovado com a única abstenção do PS (é uma vergonha, não é?), que permitirá conhecer os nomes dos grandes devedores de todos os bancos recuperados pelos contribuintes. Mal chegue será assinado. Que venha rápido essa lista para termos um mapa mais exacto de como funciona o regime.