1 – Apetece fazer como Rafael Bordalo Pinheiro quando nos deparamos com as condições em que foi “cozinhada” a nova lei de financiamento dos partidos políticos. O jornal “Público” traz uma peça jornalística que diz tudo sobre o funcionamento completamente obscuro dos partidos políticos. A indignação entre os cidadãos que foram tomando conhecimento do sucedido é mais do que muita.

Os partidos políticos legislaram de acordo com as suas necessidades numa total promiscuidade, falta de transparência e, claro, integridade. Durante nove meses, conta o “Público” toda a legislação foi “cozinhada” em reuniões onde os jornalistas não tiveram acesso, onde não existiram atas e onde as propostas eram orais. O que foi proposto por quem? Ninguém sabe. Agora que a iniciativa legislativa está nas mãos do presidente Marcelo, ficámos a saber que os partidos querem o fim do valor máximo dos fundos angariados, uma medida que beneficia PCP e PSD, e a devolução do IVA, uma medida que beneficia o PS, um partido que tem litígios com o fisco por causa deste tema.
Depois de tudo isto a conclusão é óbvia: A Assembleia da República e os partidos que a compõem consideram-se os donos da democracia. Todos os que criticam não são democratas, independentemente da ideologia e das “guerrilhas” que são transmitidas mediaticamente, e quando precisam os polos unem-se. Os partidos estão à vontade para negociarem o que querem e como querem. Tudo pode ser feito num corredor. É a democracia no seu pior nível. Marcelo é a última esperança de um país com dificuldade em se manter democrata.
2 – Das eleições da Catalunha o que se retira é a força da vontade de um povo que apresenta uma participação cívica como pouco se vê em outras regiões de Espanha, ou em outros países. Os independentistas ganharam e esperam-se consequências. O Rei perdeu espaço de manobra quando deixou de ser árbitro para passar a jogador, mas há, claramente, uma democracia abundante. A Catalunha voltou a existir, mas perdeu a força quer se queira virar para um lado ou para o outro.
3 – O executivo de Costa quer plagiar Marcelo e quer ser um Governo de afetos. Não percebe que tudo tem o seu tempo. O discurso do primeiro-ministro teve o mérito de repor alguma da sobriedade que se impunha perante as tragédias de 2017 e deixar os números e as projeções para o final do texto. Ainda assim, plagiar a tática dos afetos não está a resultar. Marcelo tem este quintal bem guardado e vai continuar a ser um jogador e, cada vez mais, terá de vir em socorro do Executivo sob pena de uma alteração de 180 graus na imagem deste quando vista da perspetiva do eleitorado. Ficam as promessas para 2018, sobretudo as que não se concretizaram em 2017. Há denúncias públicas que por serem tão chocantes estão a dar frutos e estão a provocar uma alteração de mentalidades. Bom ano em 2018 para todos os amigos leitores.