Faz a História que o preço do petróleo teria que subir – aos 80 dólares por barril (Brent) na semana passada, o que não acontecia há três anos e meio, um aumento de 20% desde o início do ano. Diversos fatores estão por trás: à retoma do crescimento internacional somaram-se recentemente a retirada dos EUA do acordo nuclear com o Irão e as sanções que se seguirão, e a situação política e social na Venezuela, a quem os EUA podem vir a aplicar sanções na sequência das eleições de domingo. Neste momento não é claro se o petróleo vai ser sustentadamente mais caro no futuro ou se apenas atravessamos uma fase transitória.

A OPEP, a Rússia e nove outros produtores já vêm limitando a produção, para subir o preço, num “corte” estimado de 1,8 milhões de barris/dia (mbd). Mas é pouco provável que agora aumentem significativamente a produção, embora a Arábia Saudita esteja interessada na estabilidade do preço. Assim, a quebra nas exportações da Venezuela, cuja infraestrutura petrolífera precisa de urgentes investimentos de renovação (a produção caiu de 2,8 para 1,5 mbd no ano até final de abril), e do Irão com as sanções, podem deixar o mercado com menos 1,5 mbd adicionais.

Isto quando a Goldman Sachs reporta que a procura de petróleo registou no primeiro trimestre a taxa de crescimento anual mais alta desde 2010, sobretudo devido à China, cujas importações vão fixando recorde a cada trimestre e cuja produção doméstica está no mínimo de sete anos. Os stocks dos países da OCDE estão a mínimos de três anos, segundo a Agência Internacional de Energia.

Os efeitos vão sentir-se noutros mercados energéticos. A Total, envolvida num investimento de cinco mil milhões de dólares no campo de gás de South Pars (o SP11), o maior investimento no setor no Irão em mais de dez anos, diz agora que só o fará com a garantia expressa dos EUA de que não lhe serão aplicadas sanções. Ou seja, não será alvo de sanções “secundárias”, dada a sua presença nos EUA (90% dos seus financiamentos incluem bancos americanos, 30% do seu capital é detido por entidades americanas e os seus ativos nos EUA representam mais de dez mil milhões de dólares).

A emenda poderá ser pior que o soneto, pois o outro parceiro no negócio, a CNPC chinesa, poderá tomar a parte do negócio da Total. As empresas chinesas estão preparadas para lidar com sanções americanas, ao contrário das europeias. A Maersk também irá abandonar as operações no Irão, por receio de sanções secundárias sobre o seu negócio americano, como a Allianz e outras.

Mesmo que devido a medidas temporárias, o redesenho das trocas internacionais ao nível micro que se está a dar terá efeitos permanentes; e um acordo EUA-China dificilmente beneficiará outros países. Teremos, pois, de nos preparar na Europa para petróleo mais caro, mas para outras coisas mais.