Nas últimas semanas, temos assistido a várias notícias sobre o Montepio, a propósito das eleições internas para a Associação Mutualista, a dona do banco centenário. Estas notícias, apesar de já bem antigas, ao virem agora a público, de forma massiva e desgarrada, têm como objetivo a tentativa de condicionar o processo eleitoral em curso, na esperança de obtenção de vantagem. Mas a verdade é que, mais do que prejudicar a recandidatura da atual liderança, esta avalancha de notícias põe em causa a estabilidade daquela que é a segunda maior instituição financeira portuguesa, a seguir à Caixa Geral de Depósitos.

Desde as irregularidades no aumento do capital social da Caixa Económica, o crédito passado atribuído a clientes, aos ataques à idoneidade de Tomás Correia, tudo serve para tentar influenciar o sentido de voto. A maioria lembrar-se-á que foi no mandato em curso que a Associação Mutualista (AM) fez a capitalização da sua Caixa Económica, no montante de 620 milhões de euros, sem qualquer ajuda do Estado (ao contrário de quase todos os outros bancos), ou abriu o capital e os órgãos sociais do banco a instituições da economia social, sendo até hoje o Presidente da Assembleia Geral, não ninguém da AM, mas sim António Tavares, o Provedor da Santa Casa de Misericórdia do Porto?

Este frenesim eleitoral assemelha-se e muito aos processos eleitorais dos partidos políticos, pois deriva do modelo de governação da Associação Mutualista, que se baseia em “um homem = um voto” em que basta ter uma quota associativa de dois euros por mês para se poder candidatar à liderança. O modelo aplicado a instituições financeiras e sociais é assim delicado, pois torna-se permeável a candidaturas populistas ou de tentativa de assalto ao poder.

Não seria admissível também equacionar que uma Associação de cariz social e mutualista, que gere ativos superiores a quatro mil milhões de euros, o equivalente a 2% do PIB Português, possa vir a ser governada com a experiência curricular por exemplo, como se de uma Sociedade Anónima Desportiva como a do Salgueiros ou do Leixões se tratasse? Outros exemplos poderíamos avaliar, na esfera financeira ou social, como por exemplo a eleição dos Órgãos Sociais dos bancos privados , onde vale o peso da detenção do capital, ou mesmo da Santa casa da Misericórdia de Lisboa que detém os jogos.

Por isso urge à instituição refletir e promover um debate sério, sobre o atual modelo de governação passadista, que em nada foi alterado pelo atual Código Mutualista aprovado pelo Conselho de Ministros em 7 de junho passado, quando o projeto de Código do anterior governo PSD preconizava um quadro evolutivo da eleição direta para a democracia representativa na governação das Associações Mutualistas. Esta necessária alteração, protegia, neste caso a Associação das lutas eleitorais que prejudicam e muito a reputação da marca Montepio por irresponsabilidade dos candidatos, o que se tem verificado.

A tentação de colocar assim este assunto na esfera política é grande, pois a “cultura do medo” aos associados e trabalhadores assemelha-se a uma estratégia básica de tempos idos nas técnicas de combate político, mas que mais não é do que a assunção da derrota dos próprios. E a questão é mesmo esta, pois quem mais critica, denigre e semeia o pânico, é também quem mais busca o poder e parece mais interessado em conquistá-lo.