Na semana passada soubemos que a economia americana continua a ter um desempenho sólido: criou 201 mil empregos em agosto, mantendo a taxa de desemprego nos 3,9%. Os EUA vão já em 95 meses consecutivos de crescimento do emprego, o que é surpreendente. Mas, mais importante, os salários cresceram 2,9% face a um ano antes, a mais alta taxa em nove anos.

Até aqui as dúvidas sobre a sustentabilidade da retoma americana residiam sobretudo no fraco crescimento dos salários. Mesmo quando a taxa de inflação começou a aumentar, e a ultrapassar os 2%, os salários continuavam com uma evolução anémica, o que favoreceu o criticismo à política monetária da Reserva Federal (Fed), e em particular às subidas da taxa de juro, até do Presidente Trump. Agora as dúvidas sobre a robustez da retoma estão a desaparecer.

O crescimento do emprego tem criado dificuldades para as empresas que querem contratar. Segundo a National Federation of Independent Business, quase 40% das PME queixavam-se em julho de não conseguir recrutar, um recorde. Por outro lado, a taxa de participação (percentagem de indivíduos que trabalha ou quer trabalhar) vinha a aumentar nos últimos tempos, o que significa que cada vez mais dos que já tinham desistido de procurar emprego regressaram ao mercado de trabalho, o que ajuda a entender porque os salários estagnavam.

Mas em agosto a taxa de participação diminuiu de 62,9% para 62,7% – esta “reserva” está a esgotar-se. Assim, esta situação explica porque os salários estão finalmente a aumentar. Há, claro, que ter prudência com as explicações dadas pelas Ciências Sociais, que não são ciências exatas.

O Reproducibility Report mostra que as tentativas de reprodução dos resultados empíricos publicados em revistas científicas ficam, no máximo, pelos dois terços. Em Psicologia, só em 36% dos 97 estudos analisados foi possível confirmar as conclusões publicadas. O Experimental Economics Replication Project obtém, para Economia, 61%. Mas as relações entre emprego, salários, inflação e crescimento estão muito estudadas, portanto o grau de fiabilidade é superior.

Porém, nem tudo são boas notícias. A sustentabilidade da retoma americana dá força ao dólar, que se valorizou 0,3% no dia da publicação destes dados. A vida fica mais difícil para as economias emergentes endividadas. E são seguros os dois aumentos de taxa de juro previstos pela Fed para este ano e mais prováveis os do próximo.

Isto ajuda a perceber a recente reviravolta do novo governo italiano sobre a sua política orçamental; a Itália precisa de se refinanciar em perto de 300 mil milhões de euros em 2019, e o seu spread para as obrigações alemãs ultrapassa 250 pontos base. A subida das taxas de juro cria um problema assimétrico na Europa, e um novo teste à coesão europeia. Os avisos dos últimos anos sobre a subida das taxas de juro foram uma reedição da história de Pedro e o Lobo, em parte devido à corajosa intervenção do BCE. Mas desta vez o lobo anda aí.