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O longo braço da China combate os protestos de Hong Kong na net

Como vem sendo hábito, as redes sociais são um dos palcos onde os inimigos se encontram para esbracejar argumentos. Os protestos em Hong Kong não haviam de ser diferentes, mas desta vez as redes sociais, normalmente distraídas, resolveram atuar.
  • Dado Ruvic/Reuters
22 Agosto 2019, 14h00

Já ninguém passa sem uma boa troca de palavras, palavrões e outras manigâncias nas redes sociais quando o assunto é qualquer assunto – e, por maioria de razão, quando o assunto impacta a nível internacional, a soldadesca de dedo em riste atua com a brevidade que o ‘sinal’ lhe permitir. Não havia de ser diferente com a convulsão que assentou arraiais em Hong Kong, região especial chinesa onde os protestos contra a China e os seus representantes está no auge.

Compreensivelmente – dado que todos fazem isso – a China invadiu as redes sociais com as suas tropas e, segundo a agência Reuters, os pelotões são não só numerosos, como vêm munidos de artilharia capaz de silenciar os adversários (nas redes, entenda-se) através dos famigerados apagões.

A Reuters, partindo de um caso específico – alguém que possivelmente se chama Wang Ying – diz que uma série de cidadãos chineses migraram nas últimas semanas para as as redes sociais ocidentais (Facebook, Instagram e Twitter), para criticarem os manifestantes da antiga colónia britânica.

Ying, diz a Reuters, faz parte de uma crescente ofensiva, emergente na China nos últimos dias, que tem como objetivo promover a narrativa de Pequim sobre o que está a acontecer em Hong Kong, na tentativa de convencer os desinformados ocidentais de que é o governo chinês que tem razão. Meios de comunicação estatais, celebridades chinesas e os utilizadores regulares da internet uniram-se, diz a agência, neste esforço de ‘camuflagem’.

Quem não esteve pelos ajustes – apesar do historial de ter estado pelos ajustes em tantas outras situações – foram o Twitter e o Facebook, paladinos da verdade: segundo a CNN, a primeira rede social juntou-se à segunda, que já antes tinha decidido no mesmo sentido, para impedir propaganda de veículos alegadamente sob a alçada do governo chinês implicados numa campanha “secreta” para desacreditar os revoltosos de Hong Kong.

“Os meios de comunicação estatais da China, dizem as redes ocidentais, inundaram as plataformas de Internet dentro e fora do país, com histórias e imagens retratando os protestos de Hong Kong como o trabalho de “terroristas” manipulados por potências ocidentais e “forças radicais”. E terão pago para promoverem a sua narrativa sobre Hong Kong em sites como o Twitter e o Facebook, que são proibidos na China, diz a Reuters – não se percebendo como é que se ‘inunda’ uma coisa que não existe (o Twitter e o Facebook na China).

As duas empresas afirmaram que o governo chinês também montou uma campanha de propaganda usando contas falsas, as quais foram canceladas aos milhares nos últimos dias, depois de terem surgido nas redes por via da ‘Great Firewall’, uma rede privada virtual. “São apenas os hipernacionalistas que recebem rédea solta e os seus conteúdos não são censurados”, disse Fergus Ryan, analista do Instituto Australiano de Políticas Estratégicas (ASPI, financiado pelo Estado australiano desde 2001), que estuda os media sociais chinesas, citado pela Reuters. “Eles têm permissão para conduzir campanhas, são capazes de se organizar on-line… o que acontece na China, dentro do ‘Great Firewall’, que depois se espalha pela internet”, disse Ryan, que admite ainda não ter descoberto quem é, em Pequim, o autor do ataque, nem qual foi para já o impacto da coisa.

Lee Foster, analista da empresa de segurança cibernética americana FireEye, disse, citado pela mesma agência, que as campanhas falsas no Twitter e no Facebook são “relativamente pouco sofisticadas” e “não muito diferentes do que vimos na Rússia há cerca de quatro ou cinco anos em termos de personalidades e mensagens muito simplistas“.

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