Faltam pouco menos de três meses para a entrega da proposta de Orçamento do Estado (OE) para 2019, mas o tema encontra-se bem vivo na agenda política.

Estamos a assistir a um jogo de sombras nas negociações do OE. Todos dizem o que não pensam e pensam aquilo que não dizem. Todos usam e abusam do bluff na praça pública. António Costa ameaça a Esquerda. Marcelo Rebelo de Sousa avisa. Augusto Santos Silva traça cenários catastróficos. Jerónimo de Sousa intimida com os sindicatos e a “sua” CGTP e avisa ou finge que vai romper a qualquer momento. Catarina Martins coage o mais que pode. E até Rui Rio não diz para já, de forma prudente, se viabilizará ou não, antes pelo contrário tudo dependerá não se sabe bem ainda de quê.

Encenações deste tipo quando um OE tem de ser negociado sempre existiram e sempre existirão. Mas este processo devia ser mais contido, sob pena dos entusiasmos negociais os poderem colocar a si mesmos num ponto de não retorno. Ou seja, de tanto dizerem que não vão ceder, PS, BE e PCP podem vir a dar por si numa situação em que as inevitáveis cedências mútuas que permitirão a viabilização do OE lhes retirarão o núcleo duro da sua credibilidade política.

É inegável que o Governo mudou de estratégia nos últimos meses, pois nos primeiros dois anos e meio de geringonça deu o que tinha e o que não tinha para garantir os votos da esquerda, mas o dinheiro acabou e o endividamento está em máximos históricos. E é aqui que António Costa inicia uma estratégia, que em linguagem popular se denomina de pisca-pisca, pois ora vira para a esquerda, ora vira para a direita, e são vários os apelos, consensos ou negociações que tenta fazer agora com a Direita e o PSD.

Não, muito obrigado. Como Conselheiro Nacional do PSD, entendo que o partido deve e tem de lutar pelo seu projeto político, pelo seu ideário, por vencer as eleições. Após quatro orçamentos apresentados, o PS não pode agora virar-se para o PSD no último OE antes das Eleições Legislativas de 2019.

É por isso que considero necessário que o líder do PSD assuma desde já que o Partido vai votar contra o próximo Orçamento e acabar, assim, com as especulações ou vozes que pelos corredores dizem que António Costa e Rui Rio vivem já “num espírito de bloco central”.

Pois assim, sem especulações à direita, os partidos da Esquerda devem anunciar sem reservas que, após estes quase três anos de inversão da democracia, têm agora a obrigação de aprovar com os seus votos maioritários (PS, PCP e BE) a viabilização do OE2019.

A geringonça poderá ganhar o OE mas perder o país nas eleições, pois esta fórmula de Governo de 2015 caminha no pântano e será irrepetível. E a próxima alternativa governativa que sairá das eleições só pode ser mesmo do PSD, desde que assuma com firmeza o seu voto contra as opções da geringonça, que não se entende entre si.

Quanto ao resto, o maior problema será para a política, independentemente dos partidos. Tanta teatralidade, de todos à esquerda e alguns à direita, não robustece a confiança dos portugueses na atividade política para além do resultado final da votação do OE. Pede-se um pouco mais de atenção e de contenção aos nossos políticos. Portugal agradece.