“Não somos nós, é a realidade que se engana”. Esta era uma frase pintada no muro da Universidade Nova no final dos anos 80 mas que, hoje, serviria bem para caraterizar aquela que é a atitude do atual Governo. Na altura em que escrevo, anuncia-se para dia 7 de dezembro uma greve do setor dos transportes e outra greve, esta a dos juízes, paralisa os tribunais de todo o país. Muito recentemente, foi notícia que nestes três anos do Governo liderado por António Costa já houve mais greves da Função Pública do que em todo o período de mandato de Passos Coelho e Paulo Portas, contestado pelas consequências da intervenção da designada troika. E, no entanto, o discurso oficial socialista mantém-se, o do País das Maravilhas, camuflando e disfarçando uma realidade que não se engana quando as notícias revelam todos os dias um outro Portugal, inquieto, insatisfeito e – aos olhos deste Governo – invisível.

Foi também notícia que a despesa congelada pelo Governo de António Costa em três anos supera a despesa congelada ao longo dos cinco anos do governo PSD e CDS-PP. As cativações tornaram-se uma palavra corrente do dia a dia dos portugueses, atingindo este ano os 500 milhões de euros, com o ministro das Finanças Mário Centeno a ser cognominado já como “o Cativador”. Ao mesmo tempo, aumenta-se a já pesadíssima carga fiscal sobre os cidadãos, atrasam-se os pagamentos a fornecedores, por exemplo ao nível dos serviços hospitalares, corta-se nas manutenção dos equipamentos, etc., etc.  Ao que tudo indica, o buraco deve ser imenso, mas vai-se empurrando para a frente no tempo com a barriga, como se diz popularmente.

Como qualquer pessoa, gosto de boas notícias para o meu país. Mas isso não significa que tenha de pactuar com o disfarce da realidade por parte de um Governo que é bom a construir cenários e palcos, mas que nos impede de vermos o que efetivamente existe por detrás da cortina e das manobras de bastidores. “Aqui temos que correr duas vezes mais depressa só para conseguirmos ficar no mesmo lugar”, diz uma personagem de “Alice no País das Maravilhas”’. Neste Portugal das Maravilhas do governo de António Costa, os socialistas correm muito depressa, de um lado para o outro, de palco em palco, e com isso apenas conseguem pior do que ficar no mesmo lugar. Conseguem que Portugal inverta o caminho de crescimento económico e de desenvolvimento social que anteriormente vinha a ser prosseguido.  Comparando o desempenho de Portugal com os restantes 19 países nos dados do Eurostat, surgimos em sexto lugar no ranking dos países que menos cresce. Ou seja, há 14 Estados-membros a crescer mais do que nós, uma tendência que se tem vindo a verificar nos últimos anos.

Finalmente, acresce a esta situação uma atitude de inaceitável insensibilidade social, de que foram recentemente exemplo as declarações do ministro do Ambiente, Matos Fernandes, afirmando que as famílias deveriam diminuir a potência de eletricidade contratada nas suas casas para o nível mais baixo que existe, se quisessem gastar menos com a energia. Para além de insensível e impraticável, estas naturalmente polémicas declarações revelam que já foi ultrapassada uma linha divisória entre aquilo que é o habitual discurso político e esta nova atitude, recordando a famosa frase de Maria Antonieta na Revolução Francesa, sugerindo que os franceses sem dinheiro para o pão comessem brioches.

Assim vamos indo, de greve em greve, de uma má notícia para outra, sem que os portugueses vejam sinais genuínos de recuperação económica para além da cortina de fumo das palavras de circunstância. Veremos onde tudo isto nos levará, mas entretanto uma coisa é certa: é o governo que se engana, não a realidade.

 

 

Em plena luz do dia, numa rua que termina no polémico Miradouro de Santa Catarina, um comerciante foi espancado por traficantes que, recorrentemente, ocupam a rua para a sua atividade de tráfico de drogas pesadas. Lisboa não pode ver comprometida a sua reputação como cidade segura – para habitantes e visitantes. É urgente que o executivo socialista na CML atue em conjunto com as autoridades policiais e resolva esta grave situação.