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O que espera Emmanuel Macron aos comandos de França

Negociação, muita negociação. A primeira preocupação do novo presidente francês é nomear um governo que passe o primeiro mês a fazer de conta que está a governar.
  • Lionel Bonaventure / Reuters
9 Maio 2017, 09h23

O novo presidente da República francesa, Emmanuel Macron, tem uma semana para ganhar forças para o que vem a seguir: com a tomada de posse agendada para o próximo domingo, a segunda-feira seguinte já é dia de trabalho. Ou, dito de outra forma, é dia de começar a negociar. O primeiro grande trabalho de Macron é encontrar um governo que seja tão milimetricamente posicionado ao centro que não incomode ninguém. Essa será a primeira função do novo governo gaulês: passar o primeiro mês de vida sem criar ‘ondas’.

É que, no final desse mês, há eleições legislativas e Macron, como toda a gente, não tem qualquer garantia de, no final da segunda volta, ter à sua frente um parlamento que lhe seja simpático.

Só a partir daí o governo poderá verdadeiramente começar a governar. E nesse quadro, Macron, que já foi ministro da Economia, sabe que será essa disciplina a comandar a agenda. A França não tem as contas públicas mais saudáveis da União Europeia, bem longe disso – só não está sob a alçada do procedimento por défice excessivo porque… é a França – e há alguns capítulos a merecerem atenção imediata: a dívida soberana (que está muito próxima dos 100% do PIB); o crescimento pouco musculado (1,2% no ano passado); aquilo que os anteriores primeiros-ministros de François Hollande consideravam o excesso de despesa do lado da segurança social; e o desemprego (com os números oficiais a baterem nos 10% e muitos desempregados a resvalarem para fora das estatísticas).

Mas isso é só o começo. A agenda social – um dos principais problemas de França desde há décadas – é outra dor de cabeça. Desde logo porque Macron, que ganhou muitos votos nas periferias onde vivem os filhos dos imigrantes de longa data, tem de engendrar uma política de pacificação social entre todos os franceses – sob pena de a luta contra o terrorismo entrar em colapso. E depois porque é a garantia de paz social que irá fazer aparecer o lugar para as reformas económicas – que de outra forma poderão ser violentamente contestadas na rua, como aconteceu nos meses anteriores às eleições.

Finalmente a Europa. Aí, Macron não tem, para já, qualquer preocupação: é a estrela do momento. A maioria dos líderes europeus – socialistas e social-democratas – deu saltos de alegria com a sua vitória e não passa pela cabeça da Comissão Europeia estrear um mau relacionamento com a França, numa altura em que o espectro dos extremismos perdeu fôlego mas está longe de desaparecer. Nesta frente, a incógnita é perceber-se que tipo de relacionamento vai Macron construir com os seus ‘vizinhos’ da Grã-Bretanha. A tentação napoleónica (a França a servir de barreira às políticas britânicas) não é uma boa opção (apesar, ou se calhar precisamente por causa do Brexit), mas Macron tem de saber encontrar uma forma de ser ao mesmo tempo distante e respeitoso.

De qualquer modo, e mesmo antes da tomada de posse, Macron tem de gastar os próximos dias a negociar. A negociar o seu próprio espaço político, num ambiente que lhe será provavelmente adverso.

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