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“O que se passa nos mercados agora não é invulgar, 2017 é que foi atípico”

Com as economias dos EUA e da Europa a atingirem níveis de atividade excecionalmente altos, as boas notícias para os mercados vão se esgotar, resultando num ano mais difícil nas bolsas, prevê o economista-chefe da BMO Global Asset Manangement. Não espera, no entanto, uma espiral de quedas, pois a inflação permanece moderada.
  • Cristina Bernardo
14 Fevereiro 2018, 09h40

O selloff em Wall Street e o aumento da volatilidade nas últimas semanas surpreendeu muitos analistas, mas o movimento é natural após as fortes valorizações e a estabilidade que marcaram os mercados no ano passado, explica Steven Bell, economista-chefe da BMO Global Asset Management.

“O que se está a passar nos mercados agora não é invulgar. O que foi atípico foi o que aconteceu no ano passado, nunca vi uma progressão tão contínua nos mercados bolsistas como a do ano passado”, refere, em entrevista ao Jornal Económico.

Bell ilustra o argumento com dados sobre 2017. “Foi o primeiro ano – e os registos vêm desde os anos 1920 – no qual os mercados nos EUA subiram todos os meses. Não foi o ano de maiores subidas, houve anos superiores, mas foi o periodo mais longo na história sem uma correção de 5%”, diz, salientando que foi “um ciclo de estabilidade extraordinária, de baixa volatilidade e no qual quase todos os ativos de risco subiram”.

Na visão do economista, as causas das recentes quedas – dados fortes do mercado laboral nos EUA, que causaram receios sobre as yields das obrigações e sobre um aumento mais célere das taxas de juros pelo banco central, pressionando assim as cotações na bolsa – costumam ocorrer no fim do ciclo de ganhos.

Questionado se poderemos ver uma transição de um rally para um bear market em Wall Street, ou seja, um mercado em queda contínua, o economista responde negativamente. “A razão para isso ainda não acontecer é que a inflação ainda está moderada e não vejo ainda condições para chegarmos a uma recessão”, diz.

Um fator que poderia contrariar a tendência seria um disparo da inflação para níveis elevados, mas Bell não acredita que isso aconteça em breve.

Navegação incerta

Isso não significa, no entanto, que 2018 venha a ser um ano de navegação tranquila nos mercados. Antes pelo contrário. Bell sublinha que temos de aceitar que os indicadores mais observados atualmente em tempo real, os PMI [Índices de Gestores de Compras, que medem a atividade económica], estão em níveis extremamente elevados.

“Portanto estes vão começar a descer, as pessoas vão ficar preocupadas com isso e também creio que a economia norte-americana esteja a esgotar a folga de capacidade, portanto vai atingir um limite”.

O economista recorda que a maior economia do mundo beneficiou recentemente de um enorme estímulo fiscal com a aprovação da reforma apresentada por Donald Trump. Este teve um efeito de contágio, os analistas aumentaram as estimativas para as cotadas em 7 pontos percentuais e os índices acionistas dispararam. “Foram muitas notícias positivas. Até demais”.

“E se as bolsas reagem às notícias, que outras boas notícias poderão vir aí? As boas notícias vão se esgotar, as yields das obrigações estiveram muito baixas durante muito tempo e agora estão a subir e a penalizar os mercados acionistas”, frisa.

“Portanto vamos ver um ano muito agitado – isso é normal – e com períodos significativos nos quais os mercados bolsistas vão navegar sem direção certa”, conclui.

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