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PSD: o tom da oposição vai depender do som das sondagens

Eleição de novo líder do PSD exige nova estratégia de oposição ao Governo. Efeitos imediatos serão poucos, mas já se pensa nas legislativas de 2019.
12 Janeiro 2018, 15h30

Com uma nova temporada entre os sociais-democratas prestes a ser inaugurada, mais do que a melodia que será tocada a partir de segunda-feira no Parlamento, Rui Rio e Pedro Santana Lopes sabem que o real espetáculo acontece em 2019. Entre picardias e pouca discussão sobre o futuro do partido e do país, os dois maestros concentraram-se em esclarecer se querem uma performance a solo ou dividir atenções com a orquestra vizinha e deixar actuar o velho Bloco Central.

A mudança de maestro é formal porque desde que anunciou a renúncia, após as autárquicas, Pedro Passos Coelho saiu das luzes da ribalta, mas para já o impacto será sobretudo indireto. O politólogo e professor na Universidade de Aveiro Carlos Jalali considera que “com a demissão de Passos Coelho e a consequente indefinição no PSD, o quadro político manteve-se em suspenso”. Uma nova liderança irá permitir “percebermos as opções políticas do PSD”.

Até aqui parte da estratégia social-democrata estava vocacionada para a crítica a um possível incumprimento das metas do défice pelo Governo e as expectativas são que o novo líder marque um novo registo. “O regresso de Passos Coelho ao poder dependia da ‘geringonça’ falhar, o que não aconteceu. A primeira mudança reside aqui: o próximo líder vai ter que se sustentar numa afirmação diferente da que esta solução irá colapsar e mostrar que a proposta é outra, diferente”, defende o investigador do ISCTE Pedro Adão e Silva. E de que forma é que uma mudança na narrativa do PSD terá reflexos no entendimento da esquerda? “Uma das explicações para esta solução governativa era o PSD ter mantido o líder, uma explicação particularmente importante numa fase inicial, ainda que agora menos relevante. Mas a partir de segunda-feira um novo líder pode explorar divergências internas na ‘geringonça’”, salienta.

Também Carlos Jalali diz que “o futuro da ‘geringonça’ será sobretudo ditado pelas dinâmicas dos partidos à esquerda”, até porque é “importante também salientar que o último grande marco para a geringonça é a aprovação do OE para 2019”. Mas para o politólogo um novo líder social-democrata não significa necessariamente uma oposição mais forte aos socialistas.

“Muito vai depender do rumo nas sondagens do PSD com a nova liderança. Um PSD que se aproxima do PS irá permitir uma oposição mais forte. Mas, inversamente, um PSD que não se aproxima do PS irá obrigar o próximo líder a ter de lidar com pressões internas muito fortes, que obrigarão a desviar atenção estratégica para o interior do partido”, diz Jalali, acrescentando que “essa é a experiência de sucessivos líderes do PSD na oposição, o que se reflecte também na elevada rotatividade de líderes quando o partido está na oposição – por exemplo, nos sete anos em que o PSD esteve na oposição antes de 2011, o PSD teve cinco líderes”.

Com a fricção entre Passos Coelho e António Costa fora do palco, Pedro Adão e Silva acentua a ideia que “podemos antever menor diferenciação em questões centrais”, ainda que exista “uma pressão para que o PSD cavalgue algumas ondas mais mediáticas”.

Onde se acertaram compassos durante a campanha interna foi na posição dos dois candidatos sobre o cenário pós-legislativas em 2019. Santana Lopes clarificou não estar disposto a viabilizar um Governo minoritário caso o PS vença, depois da leitura dos resultados em 2015. “Foi rompida a prática constitucional portuguesa de que o partido que vence eleições governa”, disse. Mas antes acusou o adversário Rio de revelar falta de fé numa vitória do partido: “Estar a falar de hipóteses dessas a ano e meio de eleições é quase uma confissão antecipada de falta de confiança nas possibilidades próprias”. Rio não descarta um apoio aos socialistas nesse cenário, até porque é a forma de “afastar a esquerda do poder”, considera, preferindo uma “geringonça mais à direita”.

Para o politólogo e coordenador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa António Costa Pinto, “não é de prever grandes alterações nas relações com o PS e o CDS. Ambos se apresentarão em 2019 num confronto com o PS e as suas alianças à esquerda, sendo os debates entre eles para consumo interno. É natural que Santana apresente Rio com “Bloco Central” e este responda da mesma forma, mas não é verdade para nenhum”. Antevê, assim, que “salvo catástrofe, mesmo se ganhador em 2019, o PSD terá que fazer uma coligação com o CDS, o que já é descontado pelo eleitorado de centro-direita. É natural que o CDS tente o mais possível capitalizar com a crise de sucessão do PSD, mas dificilmente alterará a balança eleitoral relativa entre os dois partidos.” Independentemente do cenário pós-eleitoral, é na hora da corrida que a escolha deste sábado poderá afectar mais o PS ou o CDS. “Rui Rio coloca maiores dificuldades ano PS e Santana Lopes ao CDS” na captação do eleitorado, realça Adão e Silva.

“Dadas as declarações, tanto de Rui Rio como de Santana Lopes, é expectável alguma recentragem do PSD no espectro político. Isso levará, potencialmente, a uma maior ocupação de espaços que o PS procura para ganhar (e procurar uma maioria absoluta) as próximas legislativas. O PS está, em larga medida, focada no eleitorado ao centro, até porque o entendimento parlamentar com PCP e BE reduz os efeitos do discurso do voto útil à esquerda. Leva também a uma maior ocupação de espaços que o CDS de Assunção Cristas tem procurado ocupar para se afirmar no espaço político da direita, aproveitando também a indefinição no PSD”, explica Jalali.

A opinião é partilhada por Adão e Silva: “A partir de agora um eleitor da direita pode votar à direita do PSD e saber que é possível que o CDS possa formar governo. O CDS fica mais liberto para não ser vítima do voto útil. Por outro lado se Rio ganhar, liberta mais os eleitores que estavam presos a Passos Coelho e poderão votar no CDS e isso é mais exigente”.

Em 2019, fica claro que futuro para o novo líder do PSD, mas também para o atual primeiro-ministro. Segundo Jalali, “a questão que fica é se as divisões entre direita e esquerda que se geraram em 2015 se cristalizaram, ou se uma nova liderança mais centrista do PSD gerará o regresso às dinâmicas que dominaram o sistema partidário sobretudo entre 1987 e 2005, com aproximações dos dois principais partidos ao centro, e como tal também um ao outro, em termos programáticos”. As legislativas de 2019 ainda vêm longe mas já marcam o ritmo.

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