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Oficial: MP requer julgamento de Bruno de Carvalho, Mustafá, ex-OLA e mais 41 adeptos do Sporting

Requerimento do MP visa 41 adeptos do Sporting, ex-presidente do clube, líder da Juve Leo e Bruno Jacinto . Justiça assegura que “foram recolhidos abundantes meios de prova” e que processo conta já com 68 testemunhas.
  • Rodrigo Antunes/Lusa
16 Novembro 2018, 13h48

O Ministério Público pediu nesta sexta-feira, 16 de novembro, o julgamento em tribunal colectivo de 44 arguidos envolvidos no processo de Alcochete, após as agressões, a 15 de maio, à equipa do Sporting na academia do clube por um grupo de adeptos encapuzados.  Segundo a Procuradoria Geral Distrital de Lisboa (PGDL), é pedido o julgamento de 41 membros do grupo organizado de adeptos; do líder da Juve Leo, Mustafá; do ex- oficial de ligação aos adeptos do clube, Bruno Jacinto; e do então presidente do clube, Bruno de Carvalho. O MP assegura que “foram recolhidos abundantes meios de prova” e frisa que estes três últimos arguidos “nada fizeram para impedir a prática de tais actos violentos contra os ofendidos”, recordando que as críticas sucessivas os jogadores que, diz, potenciaram um clima de violência contra os mesmos.

“O Ministério Público requereu o julgamento em tribunal colectivo de 44 arguidos (à data, 41 deles, pertencentes a um grupo organizado de adeptos, e os demais: um o seu líder, outro o oficial de ligação aos adeptos do clube e outro o presidente do clube)”, avança, em comunicado, a PGDL, dando conta que em causa está prática dos crimes de introdução em lugar vedado ao público, ameaça agravada, ofensa à integridade física qualificada, sequestro, terrorismo, dano com violência, detenção de arma proibida agravado, resistência e coacção sobre funcionário e tráfico de estupefacientes.

A PGDL realça que “no essencial ficou fortemente indiciado que 41 dos arguidos agiram, em comunhão de esforços e intentos, com a finalidade de executarem um plano comum previamente traçado, querendo e conseguindo: criar um clima de medo e terror junto dos jogadores da equipa principal de futebol do clube e dos elementos da equipa técnica, através de ameaças e agressões; atingi-los com tochas, cintos, paus e bastões em regiões do corpo, provocando-lhes as lesões; privá-los da liberdade enquanto decorriam as agressões, as ameaças e o arremesso de tochas, com a intenção de originar um ambiente de pânico e sofrimento físico e psicológico, sujeitando-os a tratamento não compatível com a natureza humana”.

Já sobre Bruno de Carvalho, Nuno Mendes (Mustafá) e o ex-OLA, a PGDL avança que ficou “fortemente indiciado” que “conheciam o plano delineado pelos restantes 41 e determinaram-nos à prática de actos constitutivos dos crimes de ameaça, ofensa à integridade física e sequestro, sabendo que tais actos violentos provocavam nos ofendidos medo e receio pela sua segurança, lesões corporais e que os privava da liberdade”.

Em comunicado, é realçado que Bruno de Carvalho, Mustafá e Bruno Jacinto “nada fizeram para impedir a prática de tais actos violentos contra os ofendidos, tanto mais que criticaram sucessivamente os jogadores, potenciando um clima de violência contra os mesmos”.

Segundo o MP, na sequência da invasão das instalações da Academia do Sporting Clube de Portugal (SCP) e posteriormente, no decurso das investigações “foram recolhidos abundantes meios de prova”. Em causa estão, adianta a PGDL, objetos transportados nas viaturas dos arguidos, autos de visionamento de vídeo vigilância e fotogramas, relatórios fotográficos, relatórios de inspeção judiciária, acrescentado que foram incorporados vários inquéritos crime, efectuadas perícias, junta documentação diversa e que foram indicadas 68 testemunhas.

Na sequência de buscas foram apreendidos, nomeadamente, material informático, quantias em dinheiro, munições, as peças de vestuário utilizadas pelos arguidos, telemóveis, tochas, potes de fumo, bastões, usados para o planeamento e concretização de acções violentas levadas a cabo contra os jogadores. Foi ainda apreendido produto estupefaciente.

Segundo a PGDL, os arguidos que detinham objectos pirotécnicos, munições, produto estupefaciente  e “sabiam que a respetiva utilização/detenção é proibida e mesmo assim não deixaram de os ter na sua posse utilizando-os com fins ilícitos, para além dos estupefacientes cuja venda é proibida”.

A investigação foi dirigida pelo MP do Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa, com a coadjuvação da PSP e GNR-UI.

Requerida manutenção de prisão preventiva
A PGDL avança ainda que o MP promoveu, nesta sexta-feira, 16 de novembro, ”a manutenção da prisão preventiva de todos os arguidos anteriormente submetidos a esse regime, com excepção daqueles que foram colocados em liberdade provisória e cujo prazo de eventual recurso se encontra em curso”.

Em causa está a renovação da prisão preventiva dos 38 detidos do processo de Alcochete, após as agressões, a 15 de maio, à equipa do Sporting na academia do clube por um grupo de cerca de 40 alegados adeptos encapuzados.

A GNR deteve no próprio dia 23 pessoas e efetuou, posteriormente, mais detenções, que elevaram para 40 o número de arguidos, dos quais 38 estão em prisão preventiva.

O ataque motivou o pedido de rescisão unilateral de contrato de nove futebolistas, alegando justa causa, alguns dos quais recuaram na decisão e continuam a representar os “leões”, e lançou o Sporting numa das maiores crises institucionais da sua história.

O ex-presidente do Sporting, Bruno de Carvalho, foi acusado pelo Ministério Público de ser autor moral de crimes classificados como terrorismo e outros 98 ilícitos criminais, no âmbito da investigação sobre o ataque à Academia de Alcochete.

De acordo com partes do despacho de acusação do DIAP de Lisboa, a que a Lusa teve hoje acesso, Bruno de Carvalho está acusado de 40 crimes de ameaça agravada, 19 de ofensa à integridade física qualificada, 38 de sequestro, um de detenção de arma proibida e crimes que são classificados como terrorismo, não quantificados.

Os mesmos crimes são imputados a Nuno Mendes, líder da claque Juventude Leonina, conhecido por Mustafá, e Bruno Jacinto, que à data dos factos tinha as funções de oficial de ligação do Sporting aos adeptos e que está em prisão preventiva desde 9 de outubro. Mustafá está também acusado de um crime de tráfico de droga.

Bruno de Carvalho e Mustafá foram libertados nesta quinta-feira, 15 de novembro, pelo juiz de instrução criminal Carlos Delca, do Tribunal do Barreiro, e ficaram sujeitos a apresentação diária às autoridades e ao pagamento de uma caução de 70 mil euros, depois de terem sido detidos no domingo por suspeitas de envolvimento no ataque.

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