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Onde está Emanuela? Vaticano exuma sepulturas em busca de rapariga que desapareceu misteriosamente há 36 anos

A família da rapariga recebeu este ano uma carta anónima que mostrava a fotografia de um anjo em cima de um túmulo. As autoridades do Vaticano vão exumar duas sepulturas esta quinta-feira em busca dos restos mortais de Emanuela Orlandi.
11 Julho 2019, 12h06

No dia 22 de junho de 1983, Emanuela voltava para casa depois de uma aula de flauta. Ela foi vista pela última vez numa paragem de autocarros, no centro de Roma. Depois disso, a rapariga de 15 anos na altura desapareceu sem deixar rasto.

Passaram 36 anos desde o seu desaparecimento que nunca obteve grandes conclusões, mas este ano, em março a família recebeu uma carta anónima que mostrava a fotografia de um anjo em cima de um túmulo, no Cemitério Teutónico do Vaticano.

Esta quinta-feira, a polícia vai entrar no cemitério fechado ao público para exumar duas sepulturas em busca da rapariga desaparecida.

“Muitas pessoas me disseram: esquece, aproveita a vida e não penses mais nisso”, referiu o irmão mais velho, Pietro, à BBC. “Mas eu não posso. Eu não posso ficar em paz até que isto fique resolvido”.

É importante referir que Emanuela era filha de um trabalhador do Banco do Vaticano. Esse facto suscitou dúvidas sobre se o seu desaparecimento estivesse relacionada com a função do pai, mas apenas se seguiram décadas de especulação. Teria sido raptada ou assassinada? Se sim, onde estaria o corpo? A fotografia era uma pista sobre onde estaria o corpo de Emanuela?

“Para eles [o Vaticano], o caso estava encerrado”, continuou Pietro. “Com o Papa Francisco, o muro ficou mais alto. Eu conheci-o poucos dias depois de ele ter sido eleito (em 2013) e ele disse-me: ‘A Emanuela está no céu'”, contou ao jornal britânico. “Eu pensei: ‘Bom, o Papa Francisco sabe de alguma coisa’. Então eu preenchi todos os tipos de pedidos para me encontrar com ele novamente, para obter uma explicação. Mas ele nunca mais me quis ver novamente.”

A família sabia que tinha que pedir autorização ao Vaticano para entrar no cemitério onde costumam ser sepultados membros de instituições católicas de língua almã. Mas não foi bem-sucedida das primeiras vezes que entrou em contacto com a Igreja Católica. A família teve então de apresentar um pedido para que o Vaticano autorizasse a exumação. Um tribunal da cidade do Vaticano concedeu finalmente a autorização.

“Pela primeira vez, o Vaticano demonstra que considera a possibilidade de haver responsabilidades internas no desaparecimento de Emanuela”, insistiu o irmão mais velho à BBC.

Contudo, o gabinete de comunicação do Vaticano afirmou que a polícia entrará no cemitério para investigar a possibilidade de a adolescente ter sido ali enterrada, e não o seu desaparecimento. Essa é uma jurisdição que compete às autoridades italianas.

Quando a polícia exumar as duas sepulturas, a família Orlandi poderá participar, se desejar, bem como os familiares das pessoas enterradas nesses túmulos. Depois serão realizados testes de ADN nos restos mortais, um processo que pode levar semanas.

“A última vez que a vi não é exatamente uma boa memória”, conta Pietro. “Discutimos porque ela tinha uma aula de música. Estava muito calor e eu recusei-me a ir com ela porque tinha outras coisas para fazer”, confessou durnte a entrevista. “Depois ela bateu com a porta e saiu. Essa foi a última vez que nos vimos. “Eu sempre penso: o que teria acontecido se eu tivesse ido com ela?”

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