“Tudo lento, tudo excessivamente lento”. Este é o comentário mais ouvido entre empresários e entre famílias que serão dramaticamente afetados a partir de abril.

Vamos por partes. Comecemos pela moratória anunciada pelo Governo, para a qual espera as necessárias regulamentações durante esta semana.

Antes de mais, aquilo que alguns bancos andaram a propagar de ajudas às famílias e empresas a nível de suspensão de pagamentos de juros e amortizações é uma falácia, pois ninguém se irá mexer enquanto não entrarem em vigor as regras para que as moratórias dos créditos não fiquem marcadas como “non performing loans”.

A EBA (European Banking Authority) já deu a necessária ajuda, mas já sabemos que as NPV (Net Present Value) não poderão ser inferiores a 1%. Daqui se pode já inferir uma consequência que irá afetar dezenas e dezenas de milhares de famílias: quem tiver créditos antigos, dos tempos das taxas de juro baixas, não serão abrangidos, pois o sistema não deverá funcionar com quem tem taxas de juro contratadas abaixo de 1%.

Depois temos as ajudas globais que o Governo quantifica em três mil milhões de euros. Já aqui dissemos que são valores irrisórios para as necessidades do país em manter as estruturas de produção vivas. Saliente-se a propósito que só um dos grandes bancos do sistema tem planos para consumir a quase totalidade dessas linhas. Acresce o tema das Garantias Mútuas, ou seja, os financiamentos que serão concretizados junto da banca com o respaldo das Sociedades de Garantia Mútua. Ou seja, em última análise será o contribuinte a pagar o custo dos financiamentos quando os incumprimentos surgirem e as garantias forem acionadas.

E sobre este ponto há dois aspetos relevantes. Com todas as empresas a socorrerem-se destas linhas, a resposta das empresas de Garantia Mútua ficará imediatamente saturada e daqui a algumas semanas nenhuma empresa terá tesouraria. Depois, os bancos vão tratar de encostar os maus clientes – que são muitos – às linhas da Garantia Mútua para se livrarem, de uma vez por todas, de créditos de risco.

Dito isto, ficam grandes problemas por resolver. As linhas têm de ser alargadas à agricultura, às pescas, ao imobiliário, ao arrendamento e a muitos outros setores. As atividades tradicionais são críticas para manter o abastecimento e a sobrevivência, e, para o futuro, o país tem de aprender a manter setores estratégicos, mesmo que isso signifique custos acrescidos versus o modelo atual de importações massivas.

Acima de tudo, assistiremos a uma crise de confiança para muitos meses. O turismo e a gastronomia fecharam, vão reabrir no pico do verão para “tapar buracos”, voltarão a fechar e terão de esperar pela época de 2021. E não esqueçamos os pequenos negócios, como mercearias, oficinas ou cabeleireiros, que vão colapsar. Para tudo isto vai ser preciso muito dinheiro das entidades públicas e não será dinheiro para pagar no trimestre a seguir, quando muito para pagar daqui a 30 anos.