Viktor Orban ganhou as eleições com uma maioria de dois terços no parlamento, 134 deputados em 199, o que lhe permite tudo pois basta para poder mudar a Constituição. Podem ser boas notícias para ele, mas não são boas notícias para a União Europeia.

Orban aproveitou para dizer aos húngaros e ao mundo que esta vitória lhe dá um mandato para “proteger a Hungria”. Aparentemente, uma das primeiras leis a ser apresentada ao Parlamento em maio será a “ lei stop Soros” (remake de uma versão de fevereiro). Esta lei deverá prever que: (1) as organizações não-governamentais que apoiem imigrantes se registem e informem sobre as suas atividades; (2) a tributação dos donativos de estrageiros que lhes sejam destinados à taxa de 25%; e (3) os estrangeiros e os ativistas húngaros que apoiem a imigração ilegal sejam proibidos de entrar no país. O que daqui sairá não pode ser bom, pois falamos do homem que construiu uma cerca de arame farpado na fronteira sul e proibiu George Soros de criar uma universidade na Hungria.

Com uma campanha que se opôs frontalmente à imigração e crítico do que diz ser ingerência estrangeira, basicamente visando a União, Orban não tenta esconder a sua deriva autocrática. Aliás, a OSCE é crítica das eleições, que diz terem sido dominadas pela retórica anti-imigração e intimidação, e pelo enviesamento da comunicação social, dominada pelo partido de Orban. E aos “amigos” de Soros deixou um aviso na campanha: haverá “moral, political and legal revenge.”

Mais uma vez estamos a afastar-nos de uma União unida e coesa. Acentuam-se, pelo contrário, as clivagens e os desafios aos valores e ao modelo político e social europeu, para não dizer do respeito pela liberdade, democracia e rule of law que presidiram à criação da CEE. A Hungria não está só: Szymanski, ministro polaco dos Negócios Estrangeiros, já disse que esta vitória não foi só de Orban, mas “a confirmation of Central Europe’s emancipation policy”, referindo-se às posições da Polónia, Hungria, Eslováquia e República Checa nestas matérias. É pouco provável que a União faça algo.

Juncker está perto do fim do mandato, Merkel enfraquecida por falhar a maioria que pretendia, Macron demasiado ocupado com diferendos internos e, quanto ao Reino Unido, se a presença não era extraordinariamente marcante, a sua ausência está a provar ser dramática. Tudo isto a pouco mais de um ano das eleições europeias, nas quais Marine Le Pen já vê a vitória dos nacionalistas depois de Orban ter conseguido o que ela falhou em França.

Temos portanto um período conturbado pela frente e, citando Stuart Mill “Bad men need nothing more to compass their ends, than that good men should look on and do nothing.”