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Orçamento de von der Leyen poderá apoiar UE se o Fundo de Recuperação não for aprovado

O economista-chefe do BNP Paribas, William de Vijlder, referiu que se o Fundo de Recuperação de 750 mil milhões de euros não for aprovado, o apoio à economia ficará a cargo do Orçamento da União Europeia. BNP Paribas estima que o PIB da zona euro recue 9,2% em 2020 com uma recuperação parcial de 5,8% em 2021.
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9 Junho 2020, 14h53

O Conselho Europeu tem a ambição de fazer tudo para chegar a um acordo antes das férias do verão sobre o Fundo de Recuperação , proposto pela Comissão Europeia, no valor de 750 mil milhões de euros. As discussões terão início no próximo dia 19 de junho, e vão incluir o novo Quadro Financeiro Plurianual (QFP), o orçamento delineado para a União Europeia para 2021 e 2027, delineado por Bruxelas, que integra o Fundo de Recuperação e que tem um valor total de 1,85 biliões de euros.

Decidir sobre o Fundo de Recuperação será, no entanto, um processo “complexo”, referiu William de Vijlder, economista-chefe do BNP Paribas, na teleconferência “After the peak in the pandemic, which recovery, which economic policy?”, que se realizou esta manhã. “Exige a unanimidade dos Estados Membros”, explicou.

O primeiro-ministro português, António Costa, disse que a proposta da Comissão Europeia foi “ambiciosa”, e Mário Centeno, enquanto presidente do Eurogrupo, referiu que se tratava de um salto na integração europeia. Estas opiniões não surpreendem quando se analisa o impacto económico dos 750 mil milhões de euros propostos por Bruxelas para estimular a economia europeia.

“Os 750 mil milhões de euros são obviamente um valor importante, que terão um impacto no PIB da zona euro de 1.¾% no final de 2021. É um um impacto grande se tivermos em consideração as expectativas normais de crescimento do PIB em termos de normalidade”, reforçou o economista-chefe do BNP Paribas.

Em termos “puramente económicos”, o Fundo de Recuperação terá “efeitos multiplicadores maiores na concentração de capital nos países que foram mais afetados pela pandemia que, por sua vez, terão efeitos de arrastamento (spillover effect) entre fronteiras, na zona euro e, em última análise, na União Europeia”, frisou.

Questionado sobre a possibilidade de o Fundo de Recuperação não ser aprovado — a Finlândia já se mostrou aberta a negociar, mas quer reduzir a fatia fundo perdido e defende o aumento dos empréstimos — poderia colocar em perigo a União Europeia, William de Vijlder foi comedido na resposta. “O sentimento sobre a dificuldade de fortalecer a construção europeia poderia intensificar-se. Mais não digo. Mas isto significaria que o apoio do orçamento da União Europeia permaneceria”, sugeriu.

Além da Finlândia, também os denominados de “quatro frugais” poderão criar obstáculos à aprovação do Fundo de Recuperação — Áustria, Dinamarca, Holanda e Suécia.

No plano avançado pela Comissão Europeia, o Fundo de Recuperação de 750 mil milhões de euros será financiado por dívida assumida pela instituição liderada por Ursula von der Leyen, e terá duas componentes. Uma, de 500 mil milhões, será ‘entregue’ para os Estados Membros enquanto subvenções, isto é, empréstimos a fundo perdido. Outra, de 250 mil milhões de euros, será canalizada para os Estados Membros através de empréstimos com condições favoráveis.

Segundo os critérios de distribuição dos fundos já divulgados pela Comissão Europeia, Portugal poderá arrecadar 26,3 mil milhões de euros, dos quais 15,5 mil milhões a fundo perdido e 10,8 mil milhões em empréstimos.

Recessão será “curta”, mas recuperação vai ser “lenta”

Para o BNP Paribas, a “recessão vai ser profunda, mas será curta”, referiu Louis Boisset, economista sénior do BNP Paribas com o pelouro de análise da zona euro. “Com as medidas de desconfinamento poderemos antecipar a retoma da atividade económica e da procura na segunda metade de 2020”.

As projeções do banco francês apontam para uma recuperação do PIB da zona euro a partir do terceiro trimestre, crescendo 7,7% nesse entre julho e setembro, e expandindo 4,1% nos últimos três meses do ano. Ainda assim, “em termos anualizados, o PIB da zona euro contrai 9,2% em 2020, com uma recuparação parcial de 5,8% em 2021”, adiantou Louis Boisset.

“Esperamos que a Covid-19 terá um efeito duradouro quer na procura, quer na oferta. As sociedades terão de se adaptar a viver com o vírus e a procura agregada poderá estar sob pressão por um longo período devido, por exemplo, às medidas de precaução tomadas pelas famílias” para minimizar os riscos de contágio, explicou o economista sénior do BNP Paribas.

Louis Boisset alertou ainda para a contração da capacidade de produção causada pela pandemia, com a possibilidade de virem a ocorrer falências das empresas e o aumento do desemprego. “Para manter as empresas em atividade, poderemos assistir a despedimentos, o que iria aumentar a taxa de desemprego, ou implementar políticas de moderação nos salários”, disse.

“Ambas as medidas — os despedimentos e moderar os salários — poderão ter menos efeitos na procura estimada do que nos investimentos das empresas”, concluiu.

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