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Ordem quer levar arquitetura às escolas e pôr os mais pequenos a pensar o espaço

A arquitetura explicada de forma “leve e lúdica” é a base do projeto vencedor de um concurso lançado pela Ordem dos Arquitetos que quer pôr crianças do pré-escolar e do 1.º ciclo a pensar e trabalhar o espaço público.
9 Junho 2019, 16h42

“Arquitetura da Diversidade – Ferramentas para uma educação em arquitetura” é a proposta da arquiteta Sara Vargues, que convenceu o júri do concurso lançado pela Ordem dos Arquitetos Secção Regional Sul e que tem na base uma perspetiva de inclusão, partindo para a construção do projeto com uma questão guia: “como garantir que todos têm a mesma oportunidade de uso do espaço?”.

“Partimos de uma questão que nos orientou na construção da proposta e com isso tentar levar para a escola, tanto pré-escolar como 1.º ciclo, a discussão da arquitetura, não só enquanto espaço físico, mas todas as questões sociais que estão relacionadas, que podem estar relacionadas a arquitetura, como a diversidade, a igualdade de oportunidade e tudo o mais. E o objetivo é precisamente que a turma e que as crianças desenvolvam um olhar crítico sobre todo o ambiente que as rodeia, do qual fazem parte, constroem, transformam, habitam. E isso levado à questão mais cívica, de entender o espaço”, explicou à Lusa a autora do projeto vencedor.

O objetivo, acrescentou Sara Vargues, é a “participação das crianças, para que todos tomem decisões e realmente façam parte consciente do processo”.

Paula Torgal, presidente da Ordem dos Arquitetos Secção Regional Sul, disse à Lusa que acredita no potencial do projeto vencedor para contribuir para uma educação em arquitetura e para “a dignificação e valorização da profissão de arquiteto”, esperando agora conseguir o apoio do Ministério da Educação para implementar o projeto já a partir do próximo ano letivo, em pelo menos uma escola, num modelo de projeto-piloto.

A candidatura vencedora propõe um trabalho assente em workshops que vão acompanhar e desenvolver todas as fases do projeto, começando pela seleção do espaço a trabalhar.

“A ideia é através de uma conversa coletiva, começar a criar uma discussão com as crianças, muito prática e muito simples, para mostrar alguns exemplos da arquitetura, do que significa algumas experiências de edifícios, de espaços públicos, tentar explicar o que isso significa na vida, no quotidiano delas. E depois perguntar sobre o espaço da escola de forma simples. Quais são os espaços que formam a escola? Ou seja, nós estamos dentro de uma sala de aula, depois temos um corredor que levam a um pátio. O que se faz no pátio? Quais são as funções de cada lugar? Quem utiliza a sala? São os alunos? Os professores? Quem utiliza o pátio, de que forma utiliza?”, exemplificou a arquiteta.

A partir desse “pequeno jogo” pretende-se que as crianças vão descobrindo aquele que é o seu primeiro espaço público por excelência, a escola, e que pensem sobre ele, associando-lhe funções, utilidade, mas também sensações, fazendo-as refletir sobre os espaços onde se sentem melhor, mais confortáveis e porquê, e sobre as características que podem implicar segregação.

“[Pretende-se] olhar para esse espaço com alguns conceitos de arquitetura, nomeadamente a temperatura, a textura, o que é que isso promove no bem estar deles, entender se há algum espaço que acaba por segregar, perceber se há alguém que não se sente bem naquele espaço e porquê”, disse Sara Vargues, que explicou ainda que o projeto não é apenas teórico e quer levar as crianças a ‘pôr as mãos na massa’.

“A ideia é precisamente a construção de um protótipo. Achamos que a escola também funciona como um bom objeto de estudo e quer-se chegar a uma conclusão de como transformá-lo, para que ele seja um espaço para todos, para que todos se sintam nele não apenas como usuários, mas transformadores. A ideia é mudar o espaço que se selecionou”, afirmou Sara Vargues, dizendo que para isso as crianças fariam uso de materiais que habitualmente já usam nestas idades, como as canetas de feltro ou as cartolinas.

Sara Vargues admite que seria pouco exequível ter um arquiteto a acompanhar o projeto nas escolas, sobretudo se chegar a uma fase de generalização, daí que um dos elementos que consta da proposta seja o de guia teórico para os professores das turmas, que pretende sobretudo dar-lhes autonomia na aplicação da ideia, mesmo que isso implique um ‘workshop’ de formação inicial.

Construído para ser aplicado num período letivo, ou seja, com uma duração entre dois a três me ses, e com um custo estimado de dois mil euros, o projeto teve ainda em conta as metas curriculares do 1.º ciclo, integrando objetivos curriculares de ambos os níveis de ensino, mas também conceitos de cidadania retirados da Convenção sobre os Direitos da Criança e os Objetivos de Desenvolvimento do Milénio das Nações Unidas.

Sara Vargues tem também a esperança que o projeto possa sair para fora do espaço escolar.

“Espero que os professores se sintam encorajados para aplicar isso fora da escola. Por exemplo, dependendo do tipo de aprendizagem, dependendo do tipo de currículo da escola, eles podem ir para uma praça, podem incentivar as crianças a fazer em casa ou aumentar a escala ou mesmo replicar para outros tipos de situações. Acho que é o nosso grande objetivo que as coisas se tornem autónomas e que possam depois ser replicadas de uma forma natural”, disse.

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