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Os autarcas que vão enfrentar “dinossauros”

São 25 os autarcas “históricos” que regressam para disputar as câmaras municipais onde já foram felizes. Conheça os exemplos de Matosinhos, Oeiras e Gondomar, onde os incubentes enfrentam os “dinossauros”.
  • Rafael Marchante/Reuters
19 Setembro 2017, 07h35

Chamam-lhes “dinossauros” e trazem consigo uma elevada notoriedade, em primeiro lugar, mas também uma capacidade de intervenção no espaço público que torna difícil a tarefa daqueles que se opõem. São históricos que regressam para tentar recuperar poder que já foi seu.

“As pessoas não devem ficar eternamente impedidas de se recandidatar”, defende ao Jornal Económico Luísa Salgueiro, vereadora e candidata à Câmara Municipal de Matosinhos.

“O que não me parece justo é que essas pessoas atinjam um estatuto que lhes permita ter programas de televisão próprios, que não concorram em igualdade de circunstância com os outros”, diz. “Não há nenhum programa de televisão que nos permita a nós, candidatos contra os dinossauros, estar 45 minutos a falar sozinhos. Eles concorrem com um estatuto histórico que desvirtua as regras da democracia”, sustenta. Socialista, Luísa Salgueiro foi vereadora em Matosinhos entre 1997 e 2009 e irá a votos, quase, como incumbente, porque o actual presidente é o número dois da sua lista. Mas enfrentará, agora, Narciso Miranda, o ex-PS e agora candidato independente que foi presidente da autarquia durante 29 anos.

No distrito de Lisboa, no concelho de Oeiras, passa-se algo semelhante. Isaltino Morais presidiu à autarquia durante 17 anos, interrompendo só o percurso, em 2002, para desempenhar funções como ministro. Sai do governo um ano depois, mas volta a recandidatar-se a Oeiras e vence, por duas vezes, antes de ser forçado a abandonar. É substituído por Paulo Vistas, que era o seu braço direito e que agora terá de enfrentar o “dinossauro” Isaltino nas urnas.
Vistas, atual presidente de Oeiras diz que encarou a candidatura de Isaltino Morais com “incredulidade, mas sem qualquer preocupação”.

“Todos os candidatos são iguais”, defende. E acrescenta: “Todos os candidatos me confrontam enquanto presidente da câmara, com o balanço do meu mandato e com as nossas apostas para o futuro”.

“É o habitual em democracia”, diz.

O habitual em democracia é, também, a alternância, que foi o que aconteceu em Gondomar. Mas, para Marco Martins, o adversário que se apresenta a votos, foi o que foi sempre vencedor: Valentim Loureiro. “É um candidato que combati durante oito anos”, diz ao Jornal Económico o atual presidente da Câmara de Gondomar, referindo-se ao ‘major’, que conduziu os destinos da autarquia durante cerca de 20 anos – primeiro pelo PSD e, em 2005, como independente, depois de o partido lhe retirar o apoio devido ao envolvimento num caso judicial.

Martins, socialista, desvaloriza o peso histórico do ex-presidente e prefere colocar a tónica na avaliação que a população fará do seu próprio mandato: “Ele decidiu concorrer e eu quero que a candidatura dele vá até ao fim, para que sejam os gondomarenses a avaliar o trabalho que fizemos durante quatro anos”, frisa, preferindo concentrar-se nos três eixos estratégicos para o segundo mandato: ambiente, mobilidade e desenvolvimento económico.

Luísa Salgueiro diz que tem procurado responder à notoriedade que os “dinossauros” enfrentam ao apostar no contacto com a população, alternando com iniciativas mais mediáticas. “É preciso uma estratégia diferente para termos igualdade de oportunidades, não é para estarmos em vantagem”, diz. Mas vai mais longe e adverte que o problema não se esgota na comunicação social: “É preciso que também o poder político esteja atento, para que haja uma verdadeira transparência na democracia”.

Vistas, que quando venceu dizia ser “um privilégio suceder àquele que foi considerado o melhor autarca do país”, sublinha que não encontra “qualquer razão objetiva para candidatura [de Isaltino Morais]”. “Ele lá saberá o que o faz concorrer”, diz. “Tem pelo menos o mérito de ser alguém que conhece bem o concelho e ter tido um valioso contributo no passado para que Oeiras tenha atingido elevados patamares de desenvolvimento”, apesar de dizer que não foi tudo obra de um só homem: “Muitos de nós contribuímos ativamente para que tal acontecesse”, afiança.
“Tal como os outros candidatos, virá enriquecer a discussão e o confronto de ideias. Apesar de [Isaltino de Morais] não ter querido até agora participar em debates”, aponta.

Artigo publicado na edição digital do Jornal Económico. Assine aqui para ter acesso aos nossos conteúdos em primeira mão.

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