Todos os anos somos recordados da gestão delapidadora que passou por várias empresas portuguesas. Depois de várias comissões parlamentares de inquérito, auditorias, investigações ou suspeitas, o país continua a assistir ao teatro da culpabilização. Infelizmente, o passa-culpas não resolve o problema, apenas retira a atenção e importância do que é verdadeiramente relevante e que foi o maior roubo de sempre aos contribuintes e ao país.

Não podemos criticar os fundos “abutre”, que tomam participações qualificadas em empresas, como a EDP, quando eles tentam maximizar o valor, ao invés da destruição de valor que assistimos em Portugal. Após perdas superiores a 25% do PIB em empresas como o BES, ESFG, Banif, CGD, BPN, ou à desvalorização de activos como os da Portugal Telecom, Cimpor ou BCP, continuamos a assistir ao teatro.

No caso do sector financeiro, para pagar o “buraco”, foi constituído um Fundo de Resolução, cuja contribuição é obrigatória por parte de todas as instituições financeiras, as que tiveram boas práticas e as outras. Para 2019, a taxa sobre os passivos aumenta de 0,0459% para os 0,057%, ou seja um agravamento de 24%! No fundo, quem quiser crescer em Portugal terá de pagar mais, não apenas pelo aumento da taxa, mas também do seu balanço, no que é um efeito duplamente penalizador para quem quer desenvolver uma actividade séria.

A teia burocrática, a falta de visão e a ausência de conhecimento do negócio, penaliza a boa moeda que acaba por ser substituída pela má moeda. A título de exemplo, as empresas financeiras portuguesas sofrem a concorrência de congéneres europeias criadas no Chipre ou noutro local cuja regulação é mais permissiva ou sem custos de resolução ou taxas sectoriais, contribuindo para a eliminação da concorrência, e com enormes dificuldades de supervisão por parte das autoridades nacionais.

Por outro lado, a ausência de medidas estruturais para limpar a banca europeia e libertá-la do peso da dívida malparada, está a contribuir para os maus resultados económicos que indicam uma recessão à vista.

Os políticos continuam descansados à sombra do BCE, na convicção de que este agirá sempre. O BCE, por sua vez, continua a não exigir reformas estruturais nas diversas economias europeias, e considera que os bancos irão optar pela fusão apenas porque é racional fazerem-no. O grande problema são as lutas de poder, que se agudizam numa época de recuperação, por pequena que seja. Não é do interesse dos accionistas promover fusões, nem dos políticos implementar reformas estruturais quando acham que o banco central vai salvar a economia.

Ninguém quer mostrar os buracos das suas instituições ou as fragilidades das suas economias.  Por exemplo, o excedente externo português é o menor em seis anos, e foi salvo pelo turismo. Vamos tendo sinais e não são nada bons. O Japão chegou à Europa naquele que pode ser um inverno prolongado.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.