Vivemos dias tristes. Vivemos dias e práticas que era suposto estarem ultrapassadas. Optar por dividir a sociedade, acirrar ódios e pequenas invejas, é uma forma de actuação típica daqueles que têm uma fraca concepção da Liberdade e da Democracia.

Optar por explorar divisões é uma forma de actuar típica daqueles que recusam a dignidade da pessoa humana e a condição de igual respeito que todos devem merecer, independentemente da sua idade ou da sua situação profissional.

O ódio e as perseguições com base em pretensos pretextos de raça, religião, estatuto social ou outras, marcaram a Idade Média, primeiro, e os regimes totalitários na Alemanha e União Soviética, entre tantos outros casos de triste memória, na Europa e fora dela, ao longo do século XX.

Como Bertolt Brecht imortalizou num poema, o regime totalitário alemão tinha como prática corrente proceder a prisões arbitrárias, perante a complacência dos cidadãos face aos judeus, ciganos, comunistas e outras minorias. Mais recentemente, o ódio ao estrangeiro dominou a agenda política e mediática europeia por algum tempo, dos Pirenéus aos Urais.

As más notícias, infelizmente, é que por cá existe ainda quem queira ressuscitar uma bafienta e desacreditada luta de classes, o culto do novo em detrimento do velho, entre outras coisas que julgávamos irremediavelmente desacreditadas, depois de tudo aquilo que se passou ao longo do século XX na Europa.

Vem tudo isto a propósito da negociação sobre as actualizações salariais e demais cláusulas de expressão pecuniária, para o ano de 2018, que se arrastam penosamente, no sector bancário.

Os mais incautos que não se iludam. A saúde dos bancos tem muito que ver com a saúde geral da economia portuguesa. Na prática, foram anos a fio de duvidosas práticas de concessão de crédito, de sonhos de criação de conglomerados, e afins, que criaram um lastro de créditos incobráveis. Tudo isto fez com que os bancos portugueses, como um todo, estejam ainda numa situação que requer prudência, esforço de contenção, de retenção de resultados e de reforço de capitais próprios. Assim, a banca portuguesa tem vindo a fazer face a um contexto bastante adverso, com a totalidade das instituições a não possuírem ainda um rating que lhes permita emissões de longo prazo.

Por isso, um sindicato bancário que se quer construtivo e prospectivo, percebe a frágil linha de gelo em que nos movemos, mesmo não ignorando que os bancos, como um todo, tiveram um crescimento de mais de 80% dos seus resultados líquidos estimados, se compararmos o ano de 2018 relativamente a 2017.

Um sindicato bancário que se quer construtivo e prospectivo, percebe que todos, accionistas e trabalhadores, temos que fazer uma contenção de naturais ambições de melhores dividendos ou maiores remunerações.

Nesse sentido, louvamos a Caixa Geral de Depósitos e o Santander Totta, por exemplo, que demonstraram sentido de partilha e fecharam processos negociais, sempre complexos, em tempo útil. Nos dois casos, houve da parte destas instituições a preocupação de fazer uma actualização que, embora formalmente igual para todos (0,75%), premeia e bonifica o mérito (sinal de que um banco precisa dos mais valorosos e esforçados para o seu futuro) e protege os que menos ganham (com actualizações maiores e que podem chegar aos 2,5%). Simultaneamente, importa destacar, as duas instituições atribuíram um aumento mínimo para todos.

Nos antípodas desta atitude estão aqueles que querem ‘punir’ os mais velhos em detrimento do mais novos, e que querem ‘sacrificar’ os mais qualificados e com maiores responsabilidades.

Em lugar de premiar os mais novos e em fase ascendente das suas carreiras, há quem prefira punir e redistribuir, numa manobra indigna que nem os mais tristes ditadores se teriam lembrado. Pelos vistos, há quem prefira dividir a classe, acirrando velhos demónios que há muito se julgavam definitivamente enterrados no sótão das páginas mais negras da História.

Olvidados certamente da História e de algumas das suas páginas mais vergonhosas, há quem queira demonizar uns em detrimento de outros para tentar tirar ganhos de curtíssimo prazo.

Regressando à célebre reflexão de Brecht sobre a indiferença geral perante o Mal, a terminada altura já era tarde. Como não se importou com ninguém, quando foi a sua vez ninguém se importou consigo. Eis o corolário desta atitude.

Triste cenário: os bancários divididos e a classe com um processo de extinção marcado. Se isto não acordar as vossas consciências, o que acordará?

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.