Hoje, é de uma raça em extinção: é um dos poucos políticos que não têm receio de falar livremente com os jornalistas, dando o peito às balas pelas ideias que defende, sem medo do efeito que isso terá nas sondagens. “Antigamente, isso fazia parte do nosso trabalho”, disse o velho político tory, numa entrevista que concedeu há dias ao Channel 4. E prosseguiu, com palavras certeiras: a classe política é “quase desprezada pela maioria da população”, porque os políticos bombardeiam os cidadãos com “slogans estúpidos e repetitivos”, criados por especialistas em comunicação que os convencem a dizer apenas aquilo que não os faça perder pontos nas sondagens. Falta-lhes autenticidade, que é uma condição essencial para que exista verdadeiro carisma. Clarke tem razão, trata-se de um problema de comunicação: a proliferação de especialistas em relações públicas (muitos deles antigos jornalistas) levou a que os políticos e outras figuras sejam cada vez mais seletivos na forma como comunicam. Não dão entrevistas a qualquer jornalista, falam apenas quando aconselhados pelos seus “especialistas” e gerem cirurgicamente os timings das intervenções públicas. Isto pode ser eficaz a curto prazo, mas no fim do dia retira autenticidade, empobrece o debate público, mina a confiança e afeta a própria qualidade do jornalismo. Já na Ilíada era assim: todos os heróis são feitos de luzes e de sombra, de qualidades e defeitos. Os grandes homens e mulheres são seres humanos de carne e osso e não figuras perfeitas, moldadas de acordo com o políticamente correto de cada época. Talvez por isso tantas pessoas se queixem que já não existem líderes como antigamente.

 

Nota: Esta coluna regressa em setembro. A todos os nossos leitores, parceiros e anunciantes, deixo os meus votos de um excelente mês de agosto.