O Estado lança, esta quarta-feira, uma nova oferta de Obrigações do Tesouro de Rendimento Variável (OTRV), ou seja, produtos de investimento direcionados para o pequenos aforradores e que visam estimular a poupança e investimento entre os portugueses. No entanto, os juros são cada vez menos atrativos e as comissões bancárias pesadas.
“Não recomendamos”, afirmou o economista da Deco Proteste Investe, António Ribeiro, ao Jornal Económico. É a sétima ronda de OTRV e a segunda que a Deco desaconselha já que os juros têm vindo a cair a cada nova emissão.
A subscrição das OTRV com maturidade a 23 de julho de 2025 está aberta desde as 8h30 de 4 de julho e dura até às 15 horas de 17 de julho. O juro semestral corresponde à taxa Euribor a seis meses, à qual acresce 1%. Retirando o valor pago em impostos, apenas garante um rendimento líquido de 0,7%, de acordo com os cálculos da associação, que não incluem as comissões bancárias.
As OTRV foram criadas pelo Estado em março de 2016, altura em que a taxa de juro bruta era de 2,2%, tendo caído em agosto desse ano para 2,05% e em novembro para 2%. Em 2017, em abril, a Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública – IGCP oferecia 1,9%, em julho 1,6% e em novembro 1,1%. Em todas as anteriores emissões a taxa de juro bruta foi superior à da nova emissão.
Euribor a subir ainda vai demorar a beneficiar o investidor
“As duas diferenças nesta emissão é o spread, que diminuiu para a taxa Euribor a seis meses mais 1%, enquanto a anterior era de 1,1%, e o prazo. Geralmente eram a seis anos e esta emissão é a sete anos, talvez porque a subida das taxas de juro não vai acontecer tão cedo e, mesmo que suba, não vai ter impacto imediato no cupão porque a Euribor a seis meses está em -0,27% e tem de chegar a terreno positivo antes de ter impacto”, explicou António Ribeiro.
O rendimento das OTRV varia em função da Euribor, que está atualmente em valores negativos e, caso suba, beneficia o investidor. A expetativa é que isso aconteça, em linha com a estratégia de política monetária do Banco Central Europeu, mas também que não aconteça a curto prazo e que seja lenta.
O valor nominal de cada obrigação é de mil euros, sendo que o mínimo é um título e o máximo mil (um milhão de euros). Cada investidor pode efetuar apenas uma ordem de subscrição, podendo alterá-la ou revogá-la até às 15 horas do dia 12 de julho.
Esta emissão tem a duração máxima de sete anos (mais dois anos que todas as outras colocações), sendo o reembolso semestral realizado a 23 de janeiro e julho de cada ano. Para já, o IGCP pretende emitir 500 milhões de euros em OTRV, mas avisou que poderá aumentar o valor, até ao final do dia 10 de julho. Em todas as anteriores emissões, a agência fez a salvaguarda e concretizou-a.
Comissões bancárias variáveis emagrecem ainda mais o lucro
Além da descida no juro oferecido pelo Estado, há que ter em conta os custos associados. O rendimento bruto mínimo é de 1%, mas há sempre a pagar um imposto de 28%, o que resulta nos 0,7% líquidos garantidos ao investidor. Ao contrário de outros produtos do Estado, como os certificados de aforro, as OTRV são subscritas num banco.
“Deve-se estar atento às comissões pedidas, que são variáveis”, refere o economista, justificando porque é que não podem entrar nos cálculos que a Proteste Investe faz. O investidor deve, no entanto, realizar simulações para perceber o peso de custos com comissões de subscrição, custódia, pagamento de juros e reembolso de capital, que podem diminuir bastante o rendimento, segundo alerta a associação.
Cada banco tem um preçário, em que as comissões devem estar discriminadas e que poderá permitir ao investidor verificar a taxa de rentabilidade líquida do investimento. Alguns bancos disponibilizam calculadoras online, enquanto a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) também apresenta simuladores com esse fim.
“Pelos nossos cálculos, uma aplicação de pequenos montantes será sempre penalizada. Em regra, devido aos custos, o rendimento das OTRV é menos penalizado apenas para montantes elevados, acima de cinco mil euros”, alerta a Deco Proteste Investe.
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