[weglot_switcher]

Ouro em tempos de incerteza: ativo-refúgio atinge máximos de 2013

Ameaças de conflitos geopolíticos e atitude mais ‘dovish’ dos bancos centrais norte-americano e europeu está a marcar os mercados. Ouro sobe há seis sessões consecutivas e dólar cai, enquanto o menor espaço de manobra do BCE para cortar taxas de juros deverá beneficiar o Euro face à divisa norte-americana.
26 Junho 2019, 07h43

A guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, a tensão entre Washington e Teerão e a atitude mais dovish dos bancos centrais está a levar os investidores a fugirem do risco e a apostarem no euro, com esta commodity a somar ganhos há seis sessões consecutivas.

Esta terça-feira, o ouro subia 0,63% para 1.427,15 dólares e tendo durante o dia tocado máximos de seis anos (1.439,21) numa tendência que os analistas consultados pelo Jornal Económico antecipam que se deverá manter.

“A tendência do ouro será sempre de valorizações neste período em que as taxas de juro estão baixas e existe ameaças de conflitos geopolíticos: Irão, Venezuela, Coreia do Norte, Síria, e guerra comercial entre os EUA e a China”, refere Pedro Amorim, analista de mercados da corretora Infinox. “Desde a Guerra Fria que estamos a viver o momento mais tenso em termos políticos”, acrescentou.

Ricardo Evangelista, analista sénior da ActivTrades sublinha que “é provável que este ciclo que agora se inicia, se venha a manter, pelo menos, até ao fim do ano, já que a Reserva Federal americana (Fed) tende a não mudar a sua política monetária com frequência”.

Na semana passada, o banco central norte-americano manteve a taxa de juro de referência inalterada. No entanto, a instituição liderada por Jerome Powell sinalizou que poderá em breve decidir um corte na taxa de juro, ao remover do comunicado a palavra “paciente”, substituindo-a por “agir apropriadamente” face a incertezas no outlook económico e às pressões sobre a inflação.

Ricardo Evangelista considera que o discurso de Jerome Powell “não surpreende” num cenário “de inflação anémica, abaixo do objetivo de 2%, tensões comerciais entre os EUA e a China e instabilidade geopolítica no Médio Oriente, que ameaçam o crescimento da economia global e pressão política sobre a Fed para iniciar um novo ciclo de estímulos”.

“O dólar está no centro de uma tempestade perfeita”, acrescenta, já que desde então o dólar tem vindo a perder terreno face às principais divisas mundiais.

Filipe Garcia, economista e presidente da IMF-Informação de Mercados Financeiros realça a correlação negativa entre o dólar e o ouro: “No caso em concreto, taxas de juro mais baixas significam um custo de oportunidade mais baixo em deter ouro – que é um ativo que não espera rendimento. Por outro lado, há quem considere podermos estar a gerar um cenário inflacionista no futuro, sendo o ouro um bom refúgio para esse cenário e também perante riscos geopolíticos, que estão em crescendo”, destaca.

Também Pedro Lino, CEO da DIF Broker explica que relativamente ao ouro, existirão mais euros e dólares em circulação. Os investidores querem igualmente proteger-se de uma desvalorização de ambas as moedas face a outras moedas como o iene, yuan ou o franco suíço”

Euro beneficia de espaço de manobra reduzido do BCE 

A par da Fed, também o Banco Central Europeu (BCE) sinalizou na semana passada que poderão estar em cima da mesa novos estímulos à economia. Mario Draghi não descartou, em caso de necessidade, um novo corte na taxa de juros e revelou que, nas próximas semanas, o Conselho de Governadores irá deliberar sobre como é que as ferramentas de política monetária serão implementadas, de forma a serem adaptadas para mitigar os riscos.

Os analistas consultados pelo Jornal Económico destacam que, no entanto, o espaço de manobra dos dois bancos centrais para cortar as taxas de juro é diferente, beneficiando o Euro face ao Dólar.

“A postura dovish da Fed terá muito mais impacto, o que significa que o diferencial da taxa de juros com a zona euro está a diminuir”, explica Enrique Díaz-Álvarez, chief risk officer da Ebury. “Esperamos que o euro tenha um bom desempenho”.

Também Ricardo Evangelista sublinha que “não nos podemos esquecer que a Fed subiu as taxas de juro nove vezes desde o início do processo de normalização, enquanto o BCE não o fez em nenhum ocasião”. A opinião é partilhada por Filipe Garcia que destaca “no caso do BCE, esperava-se a manutenção das taxas de juro, mas mesmo que haja um corte o espaço para descidas é muito mais reduzido do que no caso do dólar. Portanto, em termos relativos, a mudança na comunicação da Fed acaba por ter mais impacto do que a do BCE, penalizado o dólar”.

É neste sentido que Pedro Lino sublinha que o Euro valorizou cerca de 2% na última semana face ao dólar, acrescentando ainda que “o presidente Trump, sinalizou por várias vezes que o Dólar está alto”.

(Cotações retiradas às 20h50 de terça-feira)

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.