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Paddy Cosgrave reúne-se esta quarta-feira com Carlos Moedas

Em entrevista ao Jornal Económico, Paddy Cosgrave diz que o convite partiu da equipa do novo autarca e defende ainda mais impostos para os mais ricos, em prol da inovação: “Se queremos mais inovação teremos de ter mais tributação. A maioria das tecnologias com as quais contamos hoje surgiu de financiamento público”, explica.
  • Cristina Bernardo
27 Outubro 2021, 07h50

O fundador e CEO da Web Summit está concentrado na final da sua “Champions League”, a conferência tecnológica com 40 mil pessoas que regressa ao Parque das Nações depois de uma edição 100% digital, e recusa pensar na crise política que se vive em Portugal, porque o que se aproxima a passos largos é um evento internacional. Em entrevista ao Jornal Económico (JE), Paddy Cosgrave conta que terá hoje a primeira reunião formal como o novo autarca de Lisboa e defende uma tributação mais rigorosa para os mais ricos em prol da inovação.

A denunciante Frances Haugen, ex-funcionária do Facebook, estará na abertura da Web Summit. O que motivou esta escolha para um palco de tecnológicas, tendo em conta que atingiu uma das redes sociais da qual muitas delas dependem?

Acho que Frances tem uma mensagem muito importante a passar. Ela está a tentar melhorar as redes sociais em prol da sociedades e dos utilizadores e se olhar para as primeiras páginas dos jornais de todo o mundo atualmente – o “New York Times”, o “Guardian”, o “Financial Times”… –  ela está primeira página de quase todos. Existe alguma história maior na área da tecnologia? Acho que não. Ela já falou publicamente fora do Congresso dos Estados Unidos ou do parlamento britânico? Não. Acho que será muito interessante para muitas pessoas poderem vê-la ao vivo, ouvirem-na e perceberem que não é uma coisa fácil o que ela está a fazer. O Facebook também estará lá, com o seu porta-voz Nick Clegg, a dizer o que tem para dizer. Há os dois lados e caberá aos jornalistas interpretá-los.

Há um ano, antes da versão online de 2020, referiu que a experiência digital da nova plataforma que acolheu o evento iria valer a pena. Valeu?

A maioria dos grandes eventos mundiais não conseguiu nada em 2020. Acho que fomos dos únicos desta dimensão que conseguiu acontecer, através do nosso software que impressionou, incluindo as Nações Unidas, que começaram a licenciá-lo. Portanto acho que tivemos muita sorte em, ao longo de quase dez anos, termos construído um software que é um dos principais diferenciadores da Web Summit ou de qualquer outro grande evento. Mas se me pedir para escolher entre uma conferência virtual ou uma presencial em Lisboa eu escolho todos os dias a presencial. É muito melhor. Não sou fã de conferências virtuais.

Não sou fã de conferências virtuais

O contrato que assinaram estabelece que a FIL tem de aumentar de espaço em 2022. Tem havido evolução nesse sentido, de ampliar as zonas da conferência?

Não sei como utilizar uma analogia de futebol mas diria que a final da Liga dos Campeões é na próxima semana. É nisso que eu posso pensar. Logo, todo o pensamento e todo o planeamento para a próxima temporada começa após a final, que é na próxima semana. Esse é o meu foco agora. Tenho certeza de que tudo ficará bem e estamos ansiosos para saber mais sobre esse assunto em 2022.

Já teve uma primeira reunião com o novo presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas?

Vou ter amanhã [esta quarta-feira, 27 de novembro]. E saberei amanhã a ordem de trabalhos, porque hoje ainda não sei. O convite partiu da sua equipa. Conheço o Carlos há meia década, desde que estive no Conselho Europeu de Inovação, da Comissão Europeia, e passámos muito tempo juntos. Acho que vai ser um fantástico presidente da Câmara de Lisboa, portanto estou muito entusiasmado para o felicitar pessoalmente e ter uma conversa construtiva com ele. Carlos Moedas também estará lá na noite de abertura da Web Summit e estará noutras partes importante dos evento e na promoção de eventos à margem. É incrivelmente pró-ativo. É um sonho ter um ex-comissário europeu para a Inovação como autarca em qualquer cidade da Europa. Conhece toda a gente, é eficaz… Acho que será um mandato muito interessante.

Está preocupado com a crise política que Portugal enfrenta?

Não penso muito sobre isso. O evento, a Web Summit, vai acontecer e estarão presentes várias entidades do Estado português. Trata-se de questões nacionais e este é um evento global. São relevantes, mas a minha função não é comentá-los.

O que se pode esperar da Web Summit deste ano?

Acho que existem alguns temas dominantes e um deles é a sustentabilidade Ambiental. Temos mais de 200 startups focadas nos ODS [Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU]. Inevitavelmente resolveremos os desafios relacionados com o clima através da inovação. Espero que os políticos cheguem a acordos importantes, mas no final o que conta é a inovação. Teremos inovar nos tipos de energia que consumimos, nos produtos que utilizamos, nos resíduos que criamos.

O maior desafio que enfrentamos não tem nada a ver com moderação de conteúdo no Facebook. É o clima.

A nossa obrigação é reunir as pessoas. E na minha opinião, talvez nenhum evento de negócios no mundo fale a sério e suficientemente sobre impostos. Acho que qualquer negócio sério e encontro entre os setores público e privado e cidadãos deve ter conversas sérias sobre o ambiente e impostos. Os ricos deveriam pagar impostos como o resto das pessoas. Aliás, deveriam pagar mais impostos.

Então concorda com a reforma tributária que a administração Biden está a fazer, por exemplo?

Considero-me um liberal clássico. Eu acredito piamente que a tributação deve ser paga. Adam Smith deixou-o bem claro no “A Riqueza das Nações” e essas mensagens foram ignoradas durante 50 anos, acabando numa situação em que as pessoas mais ricas do mundo quase não pagam impostos. Acho que se queremos mais inovação teremos de ter mais tributação. Não há inovação sem tributação, porque a maioria das tecnologias-base com as quais contamos nos dias de hoje surgiu como consequência de financiamento público.

Os ricos deveriam pagar impostos como o resto das pessoas. Aliás, deveriam pagar mais impostos.

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