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Pagamentos eletrónicos: mais fáceis, seguros e menos evasão fiscal

Os pagamentos digitais já existem mas a tecnologia que os suporta vai aplicar-se a cada vez mais situações do quotidiano. Existem empresas que estão a desenvolver tecnologias para transformar não só a forma como pagamos mas também como compramos.
29 Setembro 2018, 20h00

A tecnologia digital parece não ter travões. O que antes comprávamos de uma maneira, agora podemos adquirir de variadíssimas formas, muitas vezes com maior conveniência, mais rapidez e a um preço mais interessante. A Mastercard que, através da sua tecnologia, quer “tornar os pagamentos seguros, simples e inteligentes em qualquer momento e em qualquer lugar” (tradução livre do inglês), está a desenvolver tecnologias para transformar não só a forma como pagamos, mas como compramos.

Na passada terça-feira, à margem do Mastercard Innovation Forum, que se realizou em Lisboa, o Jornal Económico foi convidado a passear numa sala inspirada por ficção científica. O nosso guia para este passeio futurista foi Bruno Degiovanni, vice-presidente para área de pagamentos digitais para a Europa ocidental da empresa, e vimos de perto como a tecnologia digital vai alterar a forma como compramos e pagamos. A longo prazo, o objectivo da Mastercard passa por “erradicar os cartões”, sejam estes de crédito ou de débito, assegurou Degiovanni.

Imagine que está num aeroporto à espera de saber a abertura da porta de embarque e que, passados uns minutos, apetece-lhe uma refeição. Pois bem, a Mastercard apresentou um protótipo de uma mesa – que funcionava – que mais parecia um tablet de grandes dimensões. A pessoa senta-se e tem diante de si um ecrã táctil onde insere o seu email e o seu número de voo. Depois, seleciona com a ponta do dedo a refeição desejada, entre múltiplas ofertas de vários restaurantes. Paga com um cartão contactless ou com qualquer dispositivo e, enquanto espera que lhe tragam a refeição, pode ler as notícias sobre o destino e obter informações sobre o seu voo. Dinheiro físico nesta transação? Nem um cêntimo.

E se precisar de ir comprar roupa, por exemplo. Fique a saber que no futuro nem sequer precisa de se deslocar a uma loja. Bastará colocar um capacete que, através da realidade virtual, poderá selecionar o que lhe interessa, com um simples clique no botão de um comando que segura na mão. Mas, no caso de preferir ir a uma loja, saiba que pode pagar diretamente no espelho dentro dos provadores de roupa usando um dispositivo. Dinheiro físico nesta transação? Nem vê-lo.

Degiovanni disse que, apesar de constituírem inovações, “estas demonstrações não se focam muito nos pagamentos, apenas demonstram como o digital mudará as coisas”.

Nenhuma destas inovações funcionaria sem a tecnologia que a Mastercard tem desenvolvido. O ‘Mastercard Digital Enablement Service’ ou MDES, como Degiovanni lhe chamou, é a tecnologia que suporta os pagamentos eletrónicos. Com este serviço, o portador de um cartão pode transformá-lo num token que, no fundo, é um cartão digital. Os detalhes do token são depois inseridos num dispositivo que tanto pode ser um smartphone, como um dos vários produtos de wearables com quem a Mastercard tem parcerias – anéis, canetas, pulseiras ou relógios. Assim, não vai ser preciso ter o cartão sempre consigo para efetuar pagamentos. “A Netflix está neste momento a fazer um teste-piloto com o MDES”, revelou Degiovanni.

Mas quais as vantagens de passarmos a ter um cartão digital em vez de um cartão físico, perguntou o Jornal Económico. “O MDES é o futuro dos pagamentos digitais”, assegurou Degiovanni. “Tornar o cartão físico num token, é algo que está a tornar-se num standard. Muitas empresas já trabalham connosco, como a Apple, a Google, a Samsung e, espero eu, a Amazon”, disse. “Mas o objetivo é livrarmo-nos dos cartões físicos e substituí-los pelos tokens, que são encriptados, e permitem aos consumidores saberem a que empresas deram as suas contas e cartões, algo que eu, por vezes, tenho dificuldade em lembrar-me”.

Certo, mas com os pagamentos digitais, o facto de não vermos notas e moedas a saírem da nossa carteira, não fará com que as pessoas passem a gastar mais dinheiro? Perentório, Degiovanni disse “é um mito controlar despesas com cash. O que interessa aqui, de facto, é a conveniência dos pagamentos eletrónicos”.

Além da conveniência dos pagamentos digitais, estes encerram outra vantagem que beneficia a sociedade. Questionado sobre a correlação entre este tipo de pagamentos e o decrescimento da economia paralela e da evasão ao fisco, Degiovanni esclareceu “que está absolutamente provado que os pagamentos em cash alimentam a economia”.

Além disso, em Portugal, um estudo da Comissão Europeia de 2014 estimou que ficaram por cobrar mais de mil milhões de euros em IVA, o que equivalia a cerca 1,5% do PIB nacional. Em 2015, um estudo do Observatório de Economia e Gestão de Fraude (OBEGEF), da Universidade do Porto, concluiu que a economia paralela crescia no país e ascendia aos 49 mil milhões de euros, isto é, 27,3% do PIB.

Uma vez que os pagamentos em dinheiro alimentam a economia paralela e contribuem para a evasão fiscal em sede de IVA, o estudo recomendou ao governo português generalizar os pagamentos eletrónicos como um mecanismo de combate à evasão fiscal e à economia paralela.

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