Entrámos num novo confinamento com indústrias e serviços a fechar. Possivelmente, alguns deles, na restauração e no turismo, não voltarão a abrir portas. Mas estamos sem margem para dar tréguas a uma doença que provoca mais de 11 mil infetados e mais de 150 mortos diariamente.

Estamos com números absurdos e o SNS ficou sob ameaça e, provavelmente a situação tenderá a agravar-se pois há um erro que os decisores políticos e os especialistas de saúde estarão a cometer: a não redução da exposição das crianças, mantendo as escolas abertas. São veículos de transmissão elevados e os mais velhos, concretamente os estudantes acima do 9º ano, não deveriam manter aulas presenciais. São eles que frequentam espaços de grupos e são eles que levam para casa, para os pais e os avós, a eventual transmissão.

Se houve epifenómenos como o Natal, também teremos o carnaval e a Páscoa como datas de maior ajuntamento de pessoas. Por isso, é previsível que este confinamento não se reduza a 15 dias, sendo as renovações inevitáveis. No final do mês, estaremos muito possivelmente com números graves, senão mesmo piores que os atuais.

E quando falamos de um país sem margem é porque neste início de 2021 estamos pior do que em abril/maio de 2020. Nessa altura, ainda existiam algumas reservas que as Finanças ou a Segurança Social podiam aplicar. No momento presente já se foram os anéis e ficaram os dedos, i.e. os dinheiros da ‘bazuca’ europeia, que vão pagar isto tudo, deslocando-se investimento reprodutivo para pagamentos de despesas passadas e sem nenhum impacto na economia do futuro.

Claro que há muito que ultrapassámos o endividamento. Os prognósticos do Governo para a recuperação da economia são sempre otimistas, esperando-se pelo regresso dos turistas e não se sabendo se o país continuará na moda. Também continuamos à espera da forte recuperação europeia, quando os números que nos chegam dos motores da economia da União, Alemanha e França, são desastrosos.

Talvez seja melhor o Governo começar a olhar para o país evitando o marketing de maus resultados. Desconfinámos no Natal e acreditámos nas vacinas, e o que temos é um número exponencial de doentes e mortes e poucas vacinas, com a agravante de que uma eventual estratégia de não ministrar a segunda dose nos timings previstos inicialmente para dar uma primeira dose a mais cidadãos, será apenas mais uma falácia. No fim de contas, ninguém ficará imune.

De regresso à economia é preciso, numa ótica menos otimista, começar a preparar os bancos para a necessidade de prolongar moratórias a empresas e particulares. Foi correta a decisão do executivo de suspender as execuções fiscais durante o tempo do confinamento, mas podemos esquecer o reverso, ou seja, o enfraquecimento das fontes de receita das Finanças e da Segurança Social, limitando a sua atuação. O regresso do lay-off com novas condições é outra boa medida, mas não podemos apenas pedir às pessoas para não trabalharem e aos empresários para pagarem e manterem os empregos. Isso não é sustentável e o marketing que se faz induz a população em erro.

E já que falamos de sacrifícios, como se explica que a EDP, uma empresa sempre preocupada com questões sociais, não apresente uma solução para reduzir o valor da energia a pagar por todos os clientes, à semelhança do que já apresentou o Governo? Seria uma ajuda à sociedade de uma empresa lucrativa e que tem o papel de incumbente.