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Panda Bonds: “Queríamos alargar a base de investidores”, disse Cristina Casalinho

A presidente da Agência de Gestão da Tesouraria e Dívida Pública falou sobre a emissão de dívida portuguesa em moeda chinesa. A operação demorou dois anos a ser negociada e, apesar de ter uma taxa de juro associada “significativamente” mais elevada, compensará no longo prazo.
24 Maio 2019, 13h14

Foi com confiança que a presidente do IGCP – Agência de Gestão da Tesouraria e Dívida Pública, Cristina Casalinho, respondeu à questão sobre a emissão dos ‘panda bonds’, isto é, a emissão de dívida portuguesa em renminbi, a moeda chinesa.

Oradora convidada na conferência “Portugal: from here to where”, promovida pela PSO e da qual o Jornal Económico é media partner, que se realizou esta sexta-feira na Fundação Calouste Gulbenkian, Cristina Casalinho reconheceu que a emissão dos ‘panda bonds’ da próxima semana tem uma taxa de juro “significativamente” mais elevada do que tem sido praticado recentemente, numa altura em que a República portuguesa se tem financiado às taxas de juro mais baixas de sempre em Obrigações do Tesouro, portanto, a dez anos.

O empréstimo do Estado português será feito na próxima semana, a 29 e 30 de maio, e ascenderá a dois mil milhões de renminbi, o que  equivale a 260 milhões de euros, e será pago em três anos.

Cristina Casalinho justificou a aposta na emissão de dívida em moeda chinesa porque, atualmente, Portugal depende “da base de investidores que temos”. Isto tornou-se particularmente mais relevante desde a crise porque passou a haver um diferencial de risco entre os países europeus. “O espaço europeu não é visto como uma unidade orgânica homogénea”, considerou a presidente do IGCP. “Investidores que investem na dívida alemã, não investem em dívida com risco mais elevado”, frisou.

Por isso, Cristina Casalinho optou por alarga “a base de investidores” e o mercado Chinês assume particular importância na medida em que “a China é um dos países com maior taxa de poupança do mundo”.

Financiamento à inovação não pode depender só da banca

Cristina Casalinho também abordou o financiamento à inovação em Portugal, que considera não ser adequado ao financiamento – opinião que abarca o financiamento europeu. “É cultural”, disse.

“O sistema financeiro na Europa é determinado pelo sistema bancário e este não é um sistema adequado ao financiamento à inovação. O que privilegia o aparecimento das startups é o shadow bank, é o financiamento na periferia da banca”, frisou.

O problema consiste na dependência do financiamento à inovação da capacidade do sistema bancário em financiar a economia. “Em Portugal, os bancos passaram uma década a limpar os seus balanços e, enquanto estavam a lamber as suas feridas, financiar a economia portuguesa não era uma prioridade”, frisou Cristina Casalinho.

A presidente do IGCP falou em alternativas de financiamento à inovação, nomeadamente casos atuais que são da responsabilidade da esfera pública. “O Estado finlandês tem um fundo grande que aposta todos os anos em muitos projetos, dos quais a taxa de sucesso é baixíssima”, explicou. E prosseguiu: “a sociedade finlandesa está disponível a perder dinheiro durante décadas para ter duas ou três histórias de sucesso, e numa economia que não é muito diversificada”.

Cristina Casalinho abordou ainda dois pontos importantes quando se fala em financiamento.  O primeiro consistiu “no nosso stock da dívida”, que é elevado. A presidente do IGCP salientou que uma das soluções para baixar o stock da dívida, Portugal tem “de começar a fazer a poupança interna”.

No segundo, a presidente do IGCP reconheceu a importância do setor privado no financiamento. “O financiamento é importante, mas não pode ser dependente do sistema financeiro, temos de pensar na produção de resultados das empresas. Temos de pensar em fundos para a inovação. E que o sistema financeiro não ancora apenas nos bancos”, concluiu.

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