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Pandemia faz crescer procura de espaços exteriores

Terraços, jardins e sustentabilidade são tendências que vão marcar o futuro do segmento residencial. Os especialistas ouvidos pelo JE acreditam que o teletrabalho é uma realidade que veio para ficar, mas não num regime de tempo integral, o que mexe com o mercado.
9 Outubro 2021, 16h00

A pandemia de Covid-19 veio alterar vários aspetos da vida quotidina da população, trazendo mudanças e novos hábitos que passaram a ter uma maior valorização. Uma das novas realidades foi o teletrabalho que permitiu a cada um observar a sua habitação e perceber que a grande maioria das suas casas não estavam construídas e equipadas para lidar com uma pandemia. Daí que, durante o período de confinamento, muitos portugueses tenham aproveitado para fazer obras em casa. Contudo, há medida que o desconfinamento foi avançando a procura de habitação tem vindo a crescer, registando-se contudo novos requisitos na hora de escolher.
“A procura tem sido, na maioria, por casas com espaços exteriores. Por apartamentos com varandas e terraços, por moradias com áreas de jardins e piscina. Há também uma maior tendência para cozinhas abertas para as salas e para quartos em suite. Após a pandemia, surgiu também a procura para casas com divisão para um escritório ou soluções onde se consegue através de estruturas amovíveis criar condições para se trabalhar em casa”, diz ao Jornal Económico (JE), Patrícia Barão, Head of Residential da consultora JLL.

Outras das tendências que têm vindo a crescer no sector da habitação e que ganharam maior preponderância com a pandemia foram a sustentabilidade e eficiência energética, para que “se adaptem ao nosso estilo de vida e nos proporcionem o conforto necessário, para que a casa se torne um espaço verdadeiramente cómodo para desfrutar e descansar”, refere ao JE, Pedro Barceló, CEO da empresa espanhola Giménez Ganga, especializada em soluções de proteção solar, dando o exemplo do conceito ‘passivhaus’, que além de aproveitar a energia solar para melhorar a climatização, reduz o consumo de energia em cerca de 70%, em comparação com as construções tradicionais.

Por outro lado, e com a última fase do desconfinamento em andamento desde o passado dia 1 de outubro, muitas empresas promoveram o regresso integral aos seus locais de trabalho, nomeadamente os escritórios. Um segmento que sofreu várias transformações durante a pandemia e que deverão continuar a acontecer no futuro. Ao JE, Carlos Cardoso, Managing Diretor da Tétris, empresa especialista em projetos de arquitetura defende que “o escritório é hoje um espaço de interação social, geração de ideias e de cultivo da comunidade”, sendo uma “ferramenta decisiva para atrair e reter talentos”. No entanto, e tal como na habitação poderá ser necessário encontrar novos espaços de escritórios que se adaptem ao novo normal. Carlos Gonçalves, CEO do Avila Spaces, refere ao JE que “depois da moda do ‘open space’, as empresas apostam agora na concepção de vários ambientes de trabalho na mesma área de escritório. Os espaços de trabalho do futuro serão cada vez mais um “mix” de vários ambientes, por forma a dar resposta ao tipo de trabalho que é desenvolvido no momento, mas também à personalidade e preferências dos profissionais”.

Apesar do regresso em peso ao trabalho presencial, os especialistas acreditam que o teletrabalho veio para ficar. “Começou por ser um ‘recurso’ para muitas empresas devido à pandemia, mas acreditamos que permanecerá no futuro naquelas onde a experiência correu bem, ainda que não num regime de full time. Da parte das empresas, há um claro reconhecimento das vantagens do teletrabalho, mas há também a consciência plena de que o processo de colaboração interpessoal e a própria socialização entre pares é essencial para a produtividade das equipas”, salienta Carlos Cardoso da Tetris.

Por sua vez, Pedro Barceló, da Gangas Giménez acredita que “irá prevalecer o estabelecimento de um sistema híbrido, entre o trabalho presencial e o teletrabalho”.

Por seu turno, Carlos Gonçalves, do Avila Spaces, defende que “grande parte das empresas perceberam que o trabalho remoto funciona, mas também entendem que o teletrabalho a partir de casa a 100% não é saudável, a bem da cultura empresarial e da ligação emocional das equipas”.

 

Sistema híbrido e teletrabalho para evitar risco de surtos
Por outro lado, a adaptação do sistema híbrido ou teletrabalho são também duas formas de evitar um maior aglomerado de pessoas e com isso prevenir mais casos ou surtos de Covid-19 nas empresas.
Em declarações ao JE, Gustavo Tato Borges, vice-presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública (ANMSP), frisa que sempre que houver essa possibilidade, o sistema híbrido e o teletrabalho “têm que continuar em cima da mesa até termos uma situação bastante tranquila”, para assim poder “minimizar o número de pessoas que estão em conjunto no mesmo espaço físico, e assim reduzir o risco da criação de um surto”, salientando, contudo, que “como nem todas as empresas têm esta possibilidade, o fundamental é o uso de máscara, a desinfeção do espaços e o uso de barreiras de acrílicos em cada posto de trabalho para que estas medidas em conjunto, associadas à vacinação, nos permita ter uma situação de maior segurança e um inverno mais tranquilo que é o que neste momento nos preocupa mais”, conclui.

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