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Pandemia veio pôr à prova a resiliência dos líderes

“Esta característica pessoal é determinante nos líderes das organizações em geral e, neste momento, com muito destaque para as lideranças políticas”, aponta Filipe Vaz, diretor-geral da Tema Central, ao Jornal Económico.
  • Filipe Vaz, diretor-geral da Tema Central
9 Julho 2020, 07h40

A pandemia mudou muito mais do que apenas a forma de trabalhar, optando-se pelo teletrabalho, e por uma gestão à distância.

Em entrevista ao Jornal Económico, Filipe Vaz, diretor-geral da Tema Central (empresa de comunicação) fala sobre o papel de um líder numa empresa no mundo empresarial pós-Covid, nas aprendizagens que se podem retirar da pandemia na vertente da liderança e de quais serão as habilidade pedidas pelas empresas aos trabalhadores.

Em conversa com o JE, o diretor-geral da Tema Central abordou ainda a quarta edição da Leadership Summit Portugal, que tem sala marcada para o dia 7 de outubro. Para a edição deste ano, Filipe Vaz destacou a importância de “consciencializar as lideranças para os desafios que nos são colocados e definir caminhos que nos conduzam rapidamente ao crescimento económico e social de forma sustentada”.

O mundo ficou virado do avesso com a Covid-19. Podemos dizer, com certezas, quem liderou a resposta à crise mundial?

Neste momento, apesar de ainda estarmos em plena pandemia e ninguém saber muito bem como e quando vamos sair dela, eu diria que quem liderou a resposta à crise sanitária foram mesmo as pessoas, as populações. Em Portugal, e em muito outros países, vimos muitas vezes os governos e as organizações internacionais a irem atrás das decisões cautelosas que as populações resolveram assumir por sua própria iniciativa.

Veja-se o caso de Portugal, ainda andava o governo e as autoridades de saúde a dizer que a utilidade do uso das máscaras de proteção era não só duvidosa como até poderia ser contraproducente e já praticamente toda a população utilizava a máscara na rua. Ainda antes do confinamento foram muitas as empresas que enviaram os seus colaboradores para casa e o mesmo se passou com os pais que já não deixaram os filhos irem à escola, mesmo antes das escolas fecharem.

Ou seja, a generalidade da população revelou grande consciência e sentido cívico. Isso foi fundamental no combate à pandemia e também o será na recuperação da crise económica. Mais uma vez, será certamente a iniciativa privada a promover a recuperação económica. Esperemos que os governos estejam à altura dos acontecimentos.

Que aprendizagens de liderança podemos retirar da pandemia?

Creio que a maior lição de liderança que podemos retirar da pandemia é nunca dar nada como adquirido. É fundamental compreender que o mundo globalizado e em exponencial aceleração trouxe-nos inúmeras vantagens, mas estas não vieram sozinhas. Também os riscos são globais e a possibilidade de produzirem efeitos de forma rápida e planetária ficaram evidentes.

Após uma pandemia, que habilidades poderão ser exigidas?

O conceito de habilidade remete-nos muitas vezes para capacidades ou competências pessoais, algo que nasce connosco, “aquele rapaz tem muita habilidade para desenhar”. Não me parece que estejamos a viver um tempo de habilidades, estamos, isso sim, a compreender que a formação é fundamental, provavelmente agora mais do que nunca as organizações terão tomado consciência que só tendo pessoas efetivamente capacitadas para enfrentarem os tempos de incerteza, será possível alcançarem os resultados pretendidos. Sempre a formação.

A pandemia alterou as capacidades de liderança das organizações?

A pandemia veio pôr à prova uma das principais competências de um líder, a resiliência. A capacidade de conseguir “renascer das cinzas” e levar consigo toda a organização. Aliás, esta característica pessoal é determinante nos líderes das organizações em geral e, neste momento, com muito destaque para as lideranças políticas. Salvo raras e honrosas exceções, os líderes políticos mundiais não mostraram estar à altura dos acontecimentos. O mundo precisa de grandes estadistas, tal como aconteceu no pós-guerra.

Quais poderão ser os atributos mais importantes para um líder do futuro?

O líder terá de assumir que a transformação digital veio para ficar e que provavelmente nada será como antes na gestão das organizações. As lideranças terão de aprender a gerir pessoas à distância, formando-as, motivando-as e promovendo o trabalho de equipa, sem presença física. O teletrabalho revelou-se útil e viável, mas a par de efeitos muito positivos como a flexibilidade de horários, menos deslocações e mais tempo para a família, traz consigo uma pressão permanente e tendência para prolongar o tempo de trabalho para o período descanso. Gerir esta realidade será um grande desafio para as lideranças.

Por outro lado, o líder tem de conseguir decidir rapidamente. Nos tempos que correm, uma decisão tardia pode ser fatal. Não digo, como alguns, que mais vale decidir mal do que não decidir, mas certamente que mais vale decidir com dúvidas do que esperar por uma certeza absoluta.

Também será fundamental ter capacidade de adaptação às novas realidades externas e internas e conseguir determinar cenários a partir de variáveis incertas. Gerir bem na incerteza será o fator de distinção dos melhores líderes.

Como deverão ser as equipas do futuro? 

Exceto nas atividades que não o permitam, as equipas do futuro serão espacialmente fragmentadas, as pessoas terão a maioria dos contactos profissionais por via digital e terão de aprender a criar relações de trabalho dessa forma. Creio que este será o efeito imediato mais visível no mundo organizacional pós-pandemia.

A alteração do ambiente de trabalho (agora teletrabalho) pode alterar as perceções de liderança?

Sim, pode. Não só os colaboradores poderão sentir-se mais desacompanhados e em autogestão, como os líderes poderão questionar a sua própria capacidade de gestão da autoridade hierárquica e de reconhecimento pelas equipas. É fundamental promover reuniões regulares com a equipa, gerir por objetivos e prazos concretos, desenvolver ações motivacionais via digital ou híbridas com presença física, determinar escalas de utilização dos escritórios para garantir o sentido de pertença à organização e, sobretudo, ser sempre muito claro e verdadeiro na comunicação interna.

No que se vai focar a 4ª edição da Leadership Summit Portugal?

O grande tema da Leadership Summit Portugal é “And Now, In What Can We Trust?”. Nos tempos que vivemos a confiança revela-se como o bem mais valioso para a recuperação económica mundial e é sobre isso que iremos refletir no evento. Teremos slots que responderão a questões tão diversas como saber se esta pandemia nos tornou pandemaníacos, como renascer no mundo pós-apocalíptico, como poderá a tecnologia achatar a curva da crise, se o coronavírus é o derradeiro influencer, como combater o vírus do medo e que lições retirar da Covi-19.

O que se espera do evento?

Na Leadership Summit Portugal, à semelhança dos anos anteriores, temos como principal objetivo produzir conhecimento para líderes através de um encontro de gerações que coloque em contacto os líderes do presente com os líderes do futuro. É por essa razão que organizamos o evento com o hub de Lisboa dos Global Shapers do Fórum Económico Mundial e com a Câmara de Cascais, e temos como principais parceiros estratégicos a CIP, a APG e o International Club of Portugal. Contamos ainda com a participação ativa da Capgemini, Audi, Multipessoal, Consulting House, Multitempo, Lift, MTW, Made2web, FCB, Asus e Casino Estoril.

Este ano, mais do que nunca, parece-nos fundamental consciencializar as lideranças para os desafios que nos são colocados e definir caminhos que nos conduzam rapidamente ao crescimento económico e social de forma sustentada, por isso criámos também soluções que nos permitem fazem chegar o evento a um número muito significativo de pessoas. Além da presença de público no Casino do Estoril, este ano com lotação muito reduzida para respeitarmos todas as condições de higiene e segurança que o momento exige, vamos emitir o evento em direto nas redes sociais, no site e também na Líder TV na MEO. Esta nova plataforma vai possibilitar assistir ao evento e usufruir de uma qualidade broadcast que o digital nem sempre permite.

Este ano o evento é triplamente motivante, com a sua vertente presencial, online e televisão.

Com quem podemos contar no painel de convidados? E de que áreas?

Como sempre, teremos grandes oradores nacionais e internacionais. No palco estarão Ace Simpson, professor da Brunel University com vasta obra sobretudo em comportamento organizacional positivo, Bob Banerjee, professor da City University de Londres, especialista em sustentabilidade, responsabilidade social e movimentos de resistência, Yan Bai, professora de ética empresarial e responsabilidade social da Católica Business School, Viktoria Kaufmann, managing director da Siva com vasta experiência internacional no grupo Volkswagen, António Saraiva, Presidente da CIP, Isabel Vaz, CEO do grupo Luz Saúde, Pedro Castro e Almeida, CEO do Santander, António Costa e Silva, CEO da Partex, Salvador Cunha, CEO da Lift, Ricardo Vargas, CEO da Consulting House, entre outros que vamos anunciando ao longo das próximas semanas.

Vamos ter um encerramento surpreendente que anunciaremos na próxima semana.

Qual é a mensagem-chave que este evento, inserido numa realidade diferente dos outros anos, quer passar ao público?

A mensagem fundamental, neste momento, é que devemos saber adaptar-nos aos tempos que vivemos sem desistir dos nossos objetivos. É após as crises profundas que os organismos se reestruturam e se tornam mais fortes.

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