1. José Silvano, secretário-geral do PSD, falhou sessões parlamentares mas alguém se fez passar por si com a devida password. Rio, o líder do PSD “chuta” para canto com uma resposta em alemão e ficamos preocupados. O que se segue? Será que o PR Marcelo passa a responder em crioulo? E será que a generalidade dos deputados passa a falar em mirandês?

Que ilação podemos retirar de uma polémica que certamente não saiu de nenhum funcionário parlamentar, mas sim de dentro do grupo do PSD? A história das presenças falsas e das assinaturas verdadeiras, mas sem a presença no local de trabalho, é algo que sempre existiu no parlamento português. O que está em causa é algo preocupante que é a falta de credibilidade dos deputados. Aliás, o país não acredita na credibilidade de políticos, professores, elementos das forças armadas e de segurança e também na de muitos gestores.

Relembremos um pouco de história quando, no século XIX, os parlamentares lusos optaram, em dada altura, pela gratuitidade das suas funções. Foi o início do fim! Durante estes cento e muitos anos percebemos que não há nenhum controlo interno capaz de responder à verdade, ou seja, capaz de demonstrar que um político faz o que lhe compete. Hoje assina-se o ponto e depois abandona-se o parlamento.

Mas a democracia precisa dos partidos porque até ao momento ainda não se criou nenhuma outra forma de representar os cidadãos de forma tão transparente. E não sendo esta a melhor defesa de Silvano, e muito menos de Rio, questionamos porque não pode um secretário-geral ou um presidente de partido receber o que recebe um ministro, pois tem um trabalho político muito mais intenso que os camaradas, e sem precisar sequer de estar presente no espaço parlamentar.

Esta solução é tão democrática como a de dormitar na última fila do hemiciclo ou pintar as unhas num total desprezo pelos camaradas que discursam.

O problema não está nesta solução de equidade, mas na chacota generalizada. Silvano é mais um, mas todos (os parlamentares) têm o mesmo drama. É o bem da ética, algo de que muito se orgulha o líder parlamentar do mesmo partido. E depois, claro, há logo alguém – alegadamente – a lembrar a estória da Câmara do Porto e do fotógrafo. E outro alguém a recordar a piada parlamentar de quem assinava a presença com um risco e que foi alertado para o perigo de cópia fácil dessa mesma assinatura. A resposta do parlamentar foi taxativa: “Mas é isso mesmo que quero!”

Enfim, piadas à parte, todos sabem que os partidos estão desprestigiados, não há forma de controlo e há sempre solidariedade dentro da classe.

2. As eleições intercalares norte-americanas determinaram a perda da Câmara dos Representantes pelos Republicano, que cantam vitória porque aumentaram a maioria no Senado, e os Democratas cantam vitória porque venceram nos Representantes. Lembremos que, desde Kennedy, manda a tradição que o vencedor seja quem está fora do poder.