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Parlamento discute hoje criação de uma comissão de inquérito sobre Tancos

A proposta foi apresentada pelo CDS-PP, que considera que o Governo, “numa primeira fase, desvalorizou o sucedido” e tentar encerrar o problema “sem retirar as devidas consequências”.
24 Outubro 2018, 07h25

A Assembleia da República vai discutir esta quarta-feira a criação de uma comissão parlamentar de inquérito sobre as consequências e responsabilidades políticas do furto de material militar em Tancos. A proposta foi apresentada pelo CDS-PP, que considera que o Governo, “numa primeira fase, desvalorizou o sucedido” e tentar encerrar o problema “sem retirar as devidas consequências”.

“O CDS-PP assinalou, desde o início deste processo, que este incidente se afigurava tão grave quanto preocupante. Grave porque constituía – e constitui – o maior assalto a armamento militar deste século no continente europeu. Preocupante porque, quinze meses depois, permanece por esclarecer o que verdadeiramente aconteceu”, lê-se na exposição dos motivos para a constituição da comissão de inquérito, entregue pelo CDS-PP na Assembleia da República.

No projeto de resolução, o CDS-PP diz que “perante todas as contradições que têm vindo a público, o país continua sem perceber o que o Governo não sabe – e devia saber: o que o Governo não sabe – e devia saber – porque não quis saber; bem como o que o Governo não sabe porque lhe foi ocultado”. “E neste caso, em que momento, por quem e com que consequências. Tudo isto é revelador da necessidade de apuramento de responsabilidades”, explica o partido.

O desaparecimento do material foi detetado no final de junho do ano passado. Na lista do arsenal roubado encontravam-se quase 1.500 munições de nove milímetros, mais de 100 granadas de mão de diversas valências, 44 granadas-foguete antitanque de 66 mm e vários explosivos de elevada potência. O material foi encontrado encontrado na zona da Chamusca, a 21 km dos paióis de Tancos. A Polícia Judiciária Militar recuperou quase todo o material militar que tinha sido furtado, à exceção de munições de nove milímetros.

O Tribunal de Instrução Criminal em Lisboa abriu um processo para averiguar melhor o caso. No âmbito da operação “Húbris”, como ficou conhecida, foram constituídos nove arguidos, sete militares e dois civis. Entre os detidos encontra-se o diretor-geral da Polícia Judiciária Militar, Luís Vieira.

O CDS-PP quer ainda que a comissão “permita uma reflexão e avaliação sobre o funcionamento do Ministério da Defesa Nacional, assim como das formas de articulação entre as Forças Armadas e as diversas Forças e Serviços de Segurança e órgãos de polícia criminal, com tutelas dispersas em vários Ministérios”.

As suspeitas de que o ministro da Defesa, Azeredo Lopes, teria conhecimento do encobrimento do caso criaram uma crescente tensão no Governo, que levou à demissão do governante no início do mês. Numa carta enviada ao primeiro-ministro, Azeredo Lopes afirmou que “não podia deixar que as mesmas Forças Armadas fossem desgastadas pelo ataque político ao ministro que as tutela”.

A proposta de abertura de uma comissão de inquérito sobre Tancos deve ter como votos favoráveis do PSD e do PS, pelo que a sua aprovação é já dada como garantida.

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