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Parlamento Europeu escolhe entre Ursula von der Leyen e a crise política

Voto secreto e difícil conciliação das diversas famílias políticas aumentam suspense quanto ao veredicto do Parlamento Europeu. Chumbo da ainda ministra da Defesa da Alemanha daria um mês para os Estados-membros encontrarem uma nova solução.
16 Julho 2019, 07h41

A votação por boletim secreto, marcada para as cinco da tarde de Lisboa, só acentua o suspense daquilo que está longe de ser uma mera formalidade: não é claro que a democrata-cristã Ursula von der Leyen, até agora ministra da Defesa da Alemanha, obtenha a maioria absoluta de 374 entre os atuais 747 eurodeputados necessária para suceder a Jean-Claude Juncker na presidência da Comissão Europeia.

Nem os 182 votos dos eleitos pelo Partido Popular Europeu (PPE) podem ser dados como absolutamente garantidos, tendo em conta os ressentimentos espalhados do Atlântico ao Báltico pela forma como a a chanceler alemã Angela Merkel “deixou cair” o compatriota e quase correligionário (pertence à CSU, ramo bávaro da CDU) Manfred Weber, oferecendo o cargo mais desejado ao socialista holandês Frans Timmermans, o que só não se concretizou devido a uma rebelião dos países de Leste.

Certo é que, apesar de a Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas (S&D), segunda maior família política (com 153 assentos), ter aprovado o acordo global que fez do italiano David Sassoli o novo presidente do Parlamento Europeu e torna o espanhol Josep Borrell o próximo alto representante para a Política Externa da União Europeia, vários eurodeputados do SPD alemão garantem que nunca votarão em Ursula von der Leyen. E o grau de entusiasmo dos socialistas de outras paragens, incluindo os portugueses, faz antecipar dificuldades. Ou até uma rejeição que relançaria a crise em Bruxelas, tendo os chefes de Estado e de Governo um mês para encontrar nova solução.

Completamente contrários à ministra da Defesa alemã, a qual anunciou nesta segunda-feira que, “seja qual for o desfecho”, abandonará o governo de Angela Merkel na quarta-feira “para servir a Europa com toda a minha força”, estão as famílias políticas mais à esquerda. A Esquerda Unitária Europeia-Esquerda Nórdica Verde, que tem nas suas fileiras os eurodeputados bloquistas e comunistas portugueses, deixou claro que votará contra, tal como os Verdes-Aliança Livre Europeia, onde se encontra o eleito do PAN, Francisco Guerreiro. No total são 115 boletins de votos contrários à possível primeira mulher a presidir à Comissão Europeia,

Mais à direita, entre o Identidade e Democracia, da Liga do italiano Matteo Salvini e da Reunião Nacional da francesa Marine Le Pen, há quem pondere aprovar Ursula von der Leyen. Mas mesmo que a intenção seja enfraquecê-la com tal apoio, os 73 eurodeputados da quinta maior família do Parlamento Europeu tornariam menos provável a hipótese de esta terça-feira culminar em desaire para a candidata saída do Conselho Europeu extraordinário que terminou a 2 de julho.

Verdadeira chave da eleição da governante alemã, única ‘sobrevivente’ do primeiro governo de Merkel, é o grupo centrista Renovar Europa. As últimas movimentações nas redes sociais da dinamarquesa Margrethe Vestager parecem indicar um apoio inequívoco a Ursula, mas os 108 votos do grupo que o presidente francês Emmanuel Macron criou a partir da Aliança dos Liberais e Democratas pela Europa dependem de uma série de condições, entre as quais não é de somenos o reconhecimento de Vestager como vice-presidente da Comissão Europeia em absoluta igualdade com Timmermans. Além de, claro está, a redução das emissões poluentes, rumo à neutralidade carbónica, e de firmes compromissos de sanções contra Estados-membros que violem determinados princípios.

Sendo esse um ponto dificilmente conciliável com a negociação do apoio do Identidade e Democracia e dos Conservadores e Reformistas Europeus, que detêm o poder na Itália e na Polónia, respetivamente, ou mesmo com o Fidesz (ainda parte do PPE), que governa na Hungria, resta a Ursula von der Leyen estar no seu melhor durante a sessão de perguntas que começará no Parlamento Europeu às oito e da manhã (hora de Lisboa).

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