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Partidos ensaiam primeiros passos para a segunda parte da legislatura

António Costa criticou o PSD e o CDS. O líder da oposição, Pedro Passos Coelho, ripostou contra Costa e, no intervalo, atirou-se ao Bloco. A coordenadora dos bloquistas, Catarina Martins, não virou a cara e contra-atacou. A rentrée política já começou.
28 Agosto 2017, 07h30

As temperaturas desceram em todo o país, mas, em fim-de-semana de rentrée política, o debate aqueceu. O primeiro-ministro, António Costa, cruzou o papel de primeiro-ministro com o de secretário-geral do PS e, na festa do partido, criticou o PSD e o CDS. O líder da oposição, Pedro Passos Coelho, ripostou contra Costa e no intervalo atirou-se ao Bloco. A coordenadora dos bloquistas, Catarina Martins, não virou a cara e contra-atacou. Começa o ensaio para a segunda parte da legislatura e estão abertas as hostilidades.

António Costa deu o tom da melodia que o PS quer tocar nas próximas semanas, no discurso de cerca de 40 minutos, na festa da Pontinha, que marca a rentrée política dos socialistas. A cerca de um mês das autárquicas, as políticas florestais foram o mote para as críticas que tinham alvos definidos: os líderes do PSD e CDS-PP, Pedro Passos Coelho e Assunção Cristas.

Relembrou os quatros anos da líder centrista – a quem se referiu como “aquela senhora” – como ministra da Agricultura, no anterior Executivo, para a acusar de “nada” ter feito pela floresta e questionou Passos Coelho sobre se “vai fazer alguma coisa” pelo setor. Para o secretário-geral do PS, só a calamidade dos incêndios levou a que os líderes “acordassem e viessem ao debate”.

O líder dos sociais-democratas não deixou Costa sem resposta e acusou-o de ausência de sentido de Estado: “Nem uma tragédia como a de Pedrógão deu sentido de Estado e seriedade política ao primeiro-ministro”, considerou Passos Coelho, este domingo.

Mas o chefe do Executivo já aponta baterias para o pós-autárquicas e, no mesmo discurso em que criticou o contributo da direita para as atuais políticas, na Pontinha, lembrou que “é bom que ninguém se exclua nem que ninguém seja excluído”. O recado aos sociais-democratas ficou dado, depois de em entrevista ao Expresso já ter desafiado o PSD para um pacto sobre o investimento em obras públicas antes de fechar as negociações para o novo quadro de fundos comunitários.

Escalões de IRS aumentam no OE2018 e PSD diz que anúncio é “demagogia”

O primeiro-ministro – a aproveitar a bonança do recuo do défice até julho, segundo os dados da execução orçamental, e que levaram o ministro das Finanças, Mário Centeno, a garantir que a meta do défice para 2017 será cumprida – prometeu continuar a trajetória, numa altura em que as negociações para o Orçamento do Estado de 2018 (OE2018) entraram num período decisivo.

Assegurou que o OE2018 continuará a aumentar o rendimento das famílias e serão introduzidos mais escalões no IRS, para melhorar a progressividade fiscal – uma das medidas centrais em discussão com o PCP, Bloco e PEV. Não explicou quantos escalões serão introduzidos, nem apontou valores, mas a piscar o olho às propostas dos partidos à esquerda o Governo já tinha sinalizado que poderia ir além dos 200 milhões de euros, inscritos no Pacto de Estabilidade.

“Aumentar o rendimento das famílias é essencial para melhorar a nossa situação económica e é por isso que vamos melhorar a progressividade do IRS”, defendeu António Costa, acrescentando que o Governo irá “aumentar os escalões do IRS para que quem ganha menos pague menos, porque é com maior justiça fiscal que nós também melhoramos o rendimento das famílias”.

Pedro Passos Coelho classificou o anúncio como uma forma de governar “interesseira” e de “demagogia, propaganda e populismo”, num discurso em Ribeira de Pena.

“O nível de escalões que hoje existe, o nível de progressividade que existe, no IRS é adequado. Se o Governo entende que há condições para aliviar a carga fiscal que o faça sobre os escalões que existem”, defendeu o líder do PSD. Para o social-democrata a questão dos escalões “é apenas para manter equilíbrios de sobrevivência política do próprio Governo que depende do Bloco de Esquerda e do PCP”.

E questionou o primeiro-ministro sobre o timing escolhido para o anúncio sobre o aumento extraordinário de pensões: “Por que não as aumentou em janeiro?”; “Por que é que aumenta as pensões em agosto, nas vésperas das eleições?”.

PSD e Bloco abrem “guerra”

Entre a discussão sobre as políticas do passado e do futuro, houve ainda espaço para a questão dos trabalhadores da PT marcar a agenda. O líder do PSD desafiou o Bloco de Esquerda, no sábado, a retratar-se das declarações sobre a Altice.

“Uma infundada acusação que não encontrou respaldo naquilo que foi o trabalho realizado pela Autoridade para as Condições do Trabalho”, disse Pedro Passos Coelho, em referência ao relatório da Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT), cujas conclusões apontam para 124 autos de notícias nas inspeções feitas à PT.

Catarina Martins respondeu, no discurso de encerramento do Fórum Socialismo 2017, a rentrée política do BE e que também se realizou este fim-de-semana: “Quando Pedro Passos Coelho vem dizer que a ACT não dá razão ao Bloco de Esquerda, com certeza não leu o relatório com atenção ou, então, talvez tenha lido com atenção e esteja a ser só igual a si próprio”.

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