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Pedrógão Grande: perito diz que origem do incêndio pode ter sido um “raio positivo”

Os raios positivos ocorrem a elevada altitude e podem alcançar uma zona da superfície terrestre a longas distâncias do local da trovoada, sem que se oiça o trovão. Esta explicação não contraria o que disse a PJ ou o homem que chamou o 112.
  • Rafael Marchante/Reuters
29 Junho 2017, 07h10

A origem do incêndio de Pedrógão Grande pode estar em causas naturais, na descarga de um “raio positivo”, segundo o especialista na área de riscos naturais e incêndios florestais Emanuel de Oliveira.  O responsável não faz parte da equipa que está a fazer a investigação em Pedrógão, mas procedeu à analise a partir dos dados.

Em declarações ao Jornal Económico, Emanuel de Oliveira explica que estes “raios positivos”, que se formam no topo das nuvens, criam situações em que “existe relâmpago, mas não se ouve o trovão”.

“Normalmente, entre 90 e 95% dos raios são do tipo negativo”, diz, explicando que estes raios “produzem-se quando a base da nuvem, a parte mais escura, está carregada negativamente e a superfície do solo por baixo da nuvem tem uma carga positiva”.

“Neste caso vai produzir-se uma descarga da base da nuvem para o solo”, aponta.

Já com os raios positivos, “ocorre uma transferência do topo da nuvem que alcança uma elevada altitude (14 quilómetros) para o solo, podendo alcançar uma zona da superfície terrestre a longas distâncias do local da trovoada”.

Diz Emanuel de Oliveira que os raios positivos são os mais perigosos e que, “segundo a agência americana para a observação da atmosfera – NOAA –, são considerados responsáveis por uma grande percentagem de incêndios florestais”.

O cenário descrito pelo especialista não contraria as declarações do cidadão Daniel Saúde, que alertou o 112 e, 39 minutos depois, tirou a primeira fotografia do incêndio, garantindo que a zona à tarde foi efectivamente afetada por uma trovoada mas que no momento da chamada não tinha caído nenhum raio, como noticou o jornal Expresso.

Para Emanuel de Oliveira, “esta situação em que existe relâmpago mas não se ouve o trovão” – e que é definido pelos meteorologistas como um relâmpago térmico – “é um fenómeno muito comum em pleno verão em regiões muito quentes”, sendo a temperatura na zona de Pedrógão Grande, no momento da ocorrência, de 40 ºC.

“O relâmpago térmico é apenas um raio de uma trovoada distante, cujo som é abafado pela longa distância ou pelo bloqueio do terreno montanhoso”, diz.

Oliveira refere que, segundo os registos da agência EUMETSAT, através do satélite Meteostat, ocorreu cerca das 13:45 UTC uma descarga de raio positivo. O período em que o cidadão que alertou as autoridades terá ocorrido cerca das 13:43 UTC, muito próximo dos registos da agência, pelo que este cenário não ficará excluído.

O primeiro-ministro avançou no próprio domingo do início da tragédia a ideia de que a origem do fogo poderia residir na ocorrência de uma trovoada seca, ainda que tenha realçado ser cedo para tirar ilações. Já o director da Polícia Judiciária, Almeida Rodrigues, em declarações posteriores disse que a PJ, articulada com a GNR, “conseguiu determinar a origem do incêndio” e  que  “tudo” apontava “muito claramente” para “causas naturais”.

“Inclusivamente encontramos a árvore que foi atingida por um raio”, referiu.

Mas a partir daí as dúvidas escalaram. Esta quarta-feira, na Assembleia da República, os deputados acordaram a necessidade de ser criada uma comissão técnica para investigar os incêndios florestais, ainda que sem o apoio do PCP e do PEV, ainda que o modelo da mesma não tenha ficado definido.

O Jornal Económico apurou junto de fontes ligadas à investigação que, embora à partida nenhum cenário seja excluído, nada do investigado até agora coloca em causa o que foi indicado primeiramente pelas autoridades sobre possíveis causas naturais.

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