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Pequim aumenta influência na Sérvia ‘à boleia’ da Covid-19

Os Balcãs Ocidentais encontram-se desde há décadas à porta da União Europeia, mas a entrada aguarda por melhores dias. Já a China não está para perder tempo.
25 Abril 2020, 21h00

O grupo chinês de biotecnologia BGI Group doou ao Estado da Sérvia equipamentos para a construção de dois laboratórios de testes da Covid-19, numa tentativa de ajudar na luta do país – mas também para aumentar a influência nos Balcãs, uma região que sonha há 20 anos com a entrada na União Europeia e que se mantém no centro dos interesses geoestratégicos da Rússia e da Turquia, para além dos da China.

A Sérvia é assim o primeiro país europeu a contar com um laboratório de testes para coronavírus da BGI – uma tecnologia a que o grupo chamou Huo-Yan Air Lab, que usa uma estrutura insuflável, pode ser facilmente transportado por via aérea com um simples frete comercial e é rapidamente implantada em qualquer lugar.

O centro médico nacional em Belgrado e a cidade de Nis, no sul do país, foram os locais escolhidos para a instalação dos laboratórios. Esta semana, a inauguração do laboratório instalado em Belgrado contou com a presença da primeira-ministra sérvia, Ana Brnabic, que chamou a atenção não apenas para o aumento da capacidade de resposta à pandemia, mas também para a aposta do país na digitalização da saúde.

“Depois da luta contra a Covid-19 teremos os melhores e mais atualizados laboratórios nesta parte da Europa, o que nos permitirá discutir com a BGI sobre como podemos vir a ter um instituto de investigação e desenvolvimento mais avançado na Sérvia”, disse Brnabic, expondo o crescimento da influência da China numa área onde a maioria dos países dos Balcãs tem grandes insuficiências.

A Sérvia – onde aparentemente o sentimento pró-União Europeia já foi mais forte – é um dos países dos Balcãs, juntamente com o Kosovo, Albânia, Bósnia-Herzegovina, Macedónia do Norte e Montenegro, que faz parte do grupo que a União Europeia vai mantendo em ‘banho Maria’, na perspetiva de vir a entrar no agregado.

Os mais céticos acreditam que aqueles países terão de passar pelo mesmo calvário da Turquia, e possivelmente com os mesmos resultados: a entrada nunca acontecerá. Os seus países resultaram do desmembramento da antiga Jugoslávia (exceto a Albânia, independente da federação liderada por José Tito) e envolveram-se em sucessivos conflitos armados durante as tristemente famosas guerras dos Balcãs. A Sérvia foi o último país a abandonar a designação ‘República Federal da Jugoslávia’, depois de o Montenegro ter preferido a independência (2006). O Kosovo fez outro tanto em 2008, mas há uma série não negligenciável de países da União que ainda não reconheceu a independência da região (que os sérvios continuam a considerar a sua pátria): Chipre, Eslováquia, Espanha, Grécia e Roménia.

Os dirigentes da Albânia, Bósnia-Herzegovina, Kosovo, Montenegro, República da Macedónia do Norte e Sérvia deveriam estar prestes a encontrar-se com os dirigentes da União Europeia na Cimeira de Zagreb, que deveria suceder em maio próximo, mas que entretanto teve de ser adiada.

Estes países têm de cumprir os critérios de adesão, que foram definidos pelo Conselho Europeu realizado na capital dinamarquesa em 1993 e são frequentemente denominados “critérios de Copenhaga”. Mas, além disso, têm ainda que dar mostras de conseguirem viver em sã vizinhança e respeitando a independência de cada um – o que claramente pode ser pedir demais a alguns deles.

Artigo publicado no Jornal Económico de 24-04-2020. Para ler a edição completa, aceda aqui ao JE Leitor

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