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Personalidades JE: Marcelo Rebelo de Sousa – “Nadador fundista” da política portuguesa

Todas as sondagens mais recentes dão vitória a Marcelo Rebelo de Sousa na primeira volta das próximas Presidenciais, mas sem bater os resultados da reeleição de Mário Soares. No final do seu previsível próximo mandato Presidencial terá 77 anos, continuando mais novo que a idade atual de Joe Biden, próximo presidente dos EUA.
  • The President of Portugal Marcelo Rebelo de Sousa gives the trophy to Alan of SC Braga after his team win the Portuguese Cup Final match against FC Porto held at Jamor Stadium in Oeiras, outskirts of Lisbon, Portugal, 22 of May 2016. MIGUEL A. LOPES/LUSA
13 Dezembro 2020, 18h35

O Jornal Económico escolheu 30 personalidades dos últimos 25 anos que marcaram, pela positiva e pela negativa, a atual sociedade portuguesa: políticos, empresários, gestores, economistas e personalidades da sociedade civil. A metodologia usada para compilar as Personalidades JE está explicada no final do texto.

Sábado, 12 de dezembro de 2020, Marcelo Nuno Duarte Rebelo de Sousa (Lisboa, 1948) completou 72 anos de idade. É, por isso, mais novo que o próximo presidente dos EUA, Joseph Robinette Biden Jr., mais conhecido por Joe Biden, que já conta com 78 anos e que tomará posse a 20 de janeiro de 2021. Por enquanto, todas as sondagens mais recentes dão vitória a Marcelo Rebelo de Sousa na primeira volta das próximas eleições presidenciais, mas sem bater os resultados da reeleição de Mário Soares. A sondagem do ISCTE-ICS diz que dois em cada três portugueses pretendem votar em Marcelo.

Por isso, no final do seu previsível próximo mandato Presidencial terá 77 anos, continuando mais novo que a idade atual de Joe Biden. Apesar de septuagenário, o atual Presidente da República Portuguesa e candidato a um novo mandato, mantém uma atitude jovial e continua fã de praia e de mergulhos revigorantes. Antes de avançar na decisão de se recandidatar confirmou que estava em condições de saúde para enfrentar essa nova etapa, como referiu publicamente. Se a política fosse uma prova de natação – que é um dos seus desportos preferidos –, Marcelo seria um nadador fundista profissional. E é, sem dúvida, uma das personalidades mais relevantes de Portugal.

Sem se querer comparar a Mário Soares – que lhe atribuiu a Comenda da Ordem de Santiago da Espada –, Marcelo marcou o exercício da sua magistratura de influência como um dos Presidentes da República mais próximos à população portuguesa, senão mesmo o mais próximo, com os seus abraços a todos os portugueses, afirmando-se como “o Presidente dos afetos” – assim foi titulado no livro da jornalista Cláudia Sebastião.

Sobre Soares, ficou na história o resultado obtido em 1991, quando foi reeleito Presidente à primeira volta com a votação que mais nenhum outro político repetiu, de 70,4%. Exatamente, 3.459.521 boletins sufragados em seu nome, que corresponderam a 70,35% dos votos, numas presidenciais apoiadas massivamente pelo PSD e pelo PS, os dois partidos que Soares unira anos antes, em 1983, no Bloco Central. Daí, a moderação de Marcelo Rebelo de Sousa nas comparações com Soares.

Quanto à proximidade de Marcelo aos mais desfavorecidos, essa será uma constante na sua fortíssima formação cívica, atendendo a que a sua mãe foi assistente social.

De resto, a sua presença mediática é facilitada pela capacidade inata que tem para comunicar. Além de jornalista – os muitos episódios protagonizados no Expresso ilustram bem a sua capacidade de comunicação, quando ditava alternadamente temas diferentes, em roda, para várias secretárias, que iam tomando nota dos assuntos –, de professor, de comentador e de ser o político português com maior número de selfies na posse de portugueses e estrangeiros, Marcelo Rebelo de Sousa é um comunicador por excelência, em todas as facetas da sua vida, seja enquanto avô a matar saudades com os seus netos, seja como cidadão que explica, perante câmaras de televisão, a razão pela qual decidiu salvar duas jovens que corriam o risco de se afogarem, ou seja como adepto do Sporting Clube de Braga a recordar o quanto é importante o dia 22 de maio, justamente no dia em que os bracarenses fizeram as suas duas tournées triunfais, em 1966 e 2016, até ao Estádio Nacional, no Jamor, para arrebatarem a Taça de Portugal até ao coração do Minho.

Efetivamente, o seu SC de Braga foi sempre um motivo de orgulho que não faz questão de moderar, recordando, em declarações ao site do seu clube, quando “estava entre a adolescência e a idade adulta e estive no Estádio do Jamor na primeira conquista da Taça de Portugal do nosso Sporting Clube de Braga. Entrei no estádio e até quis entrar no relvado para celebrar o golo do Perrichon e uma vitória difícil num jogo muito disputado com o Vitória FC”. “Cinquenta anos depois entreguei-vos a Taça de Portugal uma segunda vez, como Presidente da República Portuguesa. Como poderia sonhar em 1966 que, cinquenta anos depois, no dia 22 de maio, estaria a presidir à final da Taça de Portugal e acabaria por entregar ao nosso Sporting Clube de Braga o seu segundo troféu”, rematou.

Várias gerações de fãs

Várias gerações de estudantes de Direito recordam igualmente Marcelo Rebelo de Sousa, pois exerceu o cargo de presidente do Instituto de Ciências Jurídico-Políticas da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa até ganhar as eleições presidenciais, em 2016.

A informação curricular disponível no site da Presidência da República recorda que é licenciado em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa com a classificação de dezanove valores. Sendo Doutorado em Ciências Jurídico-Políticas, em 1984, com Distinção e Louvor por unanimidade e Professor Catedrático de nomeação definitiva em 1992, também por unanimidade.

Refere o site da Presidência que depois de ter iniciado a sua carreira docente na área das Ciências Jurídico-Económicas, regeu todas as principais disciplinas do Grupo de Ciências Jurídico-Políticas e presidiu aos Conselhos Científico e Pedagógico e ao Instituto de Ciências Jurídico-Políticas da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, pertencendo, por inerência, a diversos órgãos, como o Senado Universitário. Também integrou o júri do Prémio da Universidade de Lisboa.

Em representação da Faculdade de Direito da U.L., presidiu à delegação que celebrou o primeiro acordo para a Faculdade de Direito de Bissau, e lecionou nas Universidades Agostinho Neto, Eduardo Mondlane e da Ásia Oriental. Foi Professor da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas e da Faculdade de Direito da Universidade Católica Portuguesa. Pertenceu à Comissão de Instalação e ao Conselho Científico da Faculdade de Direito da Universidade do Porto, por onde é doutor honoris causa. Como costuma dizer um dos seus mais antigos amigos – e parente –, “tudo coisas normais, porque Marcelo sempre foi aluno de dezanoves”.

Católico praticante

Católico convicto, aderiu ao Partido Social Democrata após a revolução de 25 de abril de 1974. Foi deputado à Assembleia Constituinte, eleito pelo PSD, secretário de Estado (1981-1982), ministro (1982-1983) dos Assuntos Parlamentares do Governo da Aliança Democrática, chefiado por Francisco Balsemão, e foi líder do PSD entre 1996 e 1999.

Filho de Baltasar Rebelo de Sousa (1921-2002), médico e político do Estado Novo, e de Maria Fernandes Duarte das Neves (1920-2003), assistente social, é irmão de António e de Pedro Rebelo de Sousa.

A sua família é oriunda de Celorico de Basto, Braga, terra da sua avó paterna. Marcello Caetano foi padrinho de casamento dos seus pais, tendo ainda conduzido o carro que levou a sua mãe à maternidade quando Marcelo Rebelo de Sousa nasceu – motivo pelo qual lhe escolheram o nome de Marcelo.

Foi colega de Eduardo Barroso no Externato Lar da Criança, em Lisboa. No Liceu Pedro Nunes, recebeu aos 15 anos o Prémio D. Dinis, atribuído aos melhores alunos do país. Licenciou-se em Direito em 1971 e doutorou-se em Ciências Jurídico-Políticas em 1984, com a tese “Os Partidos Políticos no Direito Constitucional Português”.

Em 1990 ascendeu a professor catedrático do Grupo de Ciências Jurídico-Políticas da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Mas também foi professor catedrático na Faculdade de Direito da Universidade Católica Portuguesa e professor catedrático convidado da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas daquela universidade, bem como professor catedrático convidado da Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa.

Foi presidente do Conselho Diretivo da Faculdade de Direito de Lisboa (1985-1989), do Instituto da Cooperação Jurídica (2004-2005) e do Conselho Pedagógico (2006-2010). É Doutor Honoris Causa pela Universidade do Porto desde 2005.

Acionista minoritário da Sojornal

Esteve ligado ao semanário Expresso desde a sua fundação, em 1973, sendo acionista minoritário da Sojornal, onde foi sócio de Francisco Pinto Balsemão, da Sociedade Nacional de Sabões, de Manuel Cordo Boullosa, da família Ruella Ramos (dona do Diário de Lisboa), de Botelho Moniz (do Rádio Clube Português), do tio de Francisco Balsemão, também chamado Francisco Pinto Balsemão, de Luiz Vasconcellos, de Francisco da Costa Reis, de António Patrício Gouveia, de Ruben A., de Luís Corrêa de Sá, de António Flores de Andrade, de Mercedes Balsemão e de António Guterres.

No Expresso – criado para ser o mais influente jornal português –, além de redator e editor de política e sociedade – criou a secção Gente, depois replicada no “Em Off” do caderno de Economia –, foi subdiretor (de 1975 a 1979) e diretor (de 1979 a 1981). A seguir dirigiu o Semanário (de 1983 a 1987), onde também foi acionista fundador, ao lado de Daniel Proença de Carvalho, José Miguel Júdice e Victor Cunha Rego. Mas a sua ligação ao jornalismo foi além da atividade que desempenhou em vários jornais, pois Marcelo Rebelo de Sousa integrou a comissão que elaborou a primeira Lei de Imprensa.

Entre as curiosidades da carreira profissional de Marcelo Rebelo de Sousa encontra-se a entrevista feita no Expresso, ao General António de Spínola, já no exílio, datada de janeiro de 1975, que foi incluída no livro de António de Spínola “Ao Serviço de Portugal”, e que é referenciada como a primeira entrevista que o ex-Presidente da República que deu exilado.

Viabilizou três orçamentos a Guterres

Marcelo Rebelo de Sousa Viabilizou três Orçamentos de Estado do governo minoritário de António Guterres. E reatou as relações institucionais entre o PSD e o PCP, depois de terem estado cortadas durante 20 anos. Muitos políticos criam inimigos e incompatibilidades para a vida, mas Marcelo Rebelo de Sousa conseguiu semear amizades que têm durado toda a vida, sobretudo as amizades que consolidou nos anos 70, entre o grupo do padre Vítor Melícias, conhecido como o “Grupo da Luz”, do seminário franciscano da Luz, onde vive Melícias – um grupo a que pertenceu o atual secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres.

A 9 de outubro de 2015 anunciou, na terra dos avós paternos, Celorico de Basto, em Braga, a candidatura às eleições presidenciais portuguesas de 2016. Tomou posse como Presidente da República perante o Parlamento, a 9 de março de 2016, mas estendeu as comemorações oficiais da tomada de posse até ao dia 11. Entre as solenidades relativas à ocasião esteve uma celebração inter-religiosa na Mesquita de Lisboa. O Papa Francisco recebeu Marcelo Rebelo de Sousa na sua primeira visita de Estado enquanto Presidente da República, ao Vaticano, em março de 2016.

Muitos portugueses recordarão a deslocação de Marcelo Rebelo de Sousa a Pedrógão Grande, em junho de 2017, durante a tragédia dos grandes incêndios. O Presidente da República fez essa viagem de madrugada, sem comitiva, apenas acompanhado dos seguranças, numa altura em que a maioria das estradas de acesso a Pedrógão Grande estavam cortadas porque o grande incêndio permanecia descontrolado. Ao longo desse ano, Marcelo Rebelo de Sousa regressou com regularidade intercalada aos locais da tragédia onde morreram mais de 100 pessoas no meio do fogo, para revisitar as populações e falar com elas várias vezes. Esse périplo culminou nas duras declarações que o Presidente da República fez em Oliveira do Hospital e que levaram à demissão da ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa.

METODOLOGIA

O Jornal Económico (JE) selecionou as 25 personalidades mais relevantes para Portugal nos últimos 25 anos, referentes ao período balizado entre 1995 e 2020, destacando as que exerceram maior influência no desenvolvimento da sociedade civil, da economia nacional, no crescimento internacional dos nossos grupos empresariais, na forma como evoluíram a diáspora lusa e as comunidades de língua oficial portuguesa, no processo de captação de investidores estrangeiros e, em suma, na maneira como o país se afirmou no mundo. Esta lista foi publicada a 4 de setembro de 2020, antes do primeiro fim de semana do nono mês do ano. Retomando a iniciativa a partir do último fim de semana de setembro, mas agora alargada a 30 personalidades, o JE publicará, todos os sábados e domingos, textos sobre as 30 personalidades selecionadas, por ordem decrescente. Aos 25 nomes inicialmente publicados, o JE acrescenta agora os nomes de António Ramalho Eanes, António Guterres, Pedro Queiroz Pereira, Vasco de Mello e Rui Nabeiro.

Cumpre explicar ao leitor que a metodologia seguida foi orientada por critérios jornalísticos, sem privilegiar as personalidades eminentemente políticas, que tendem a ter um destaque mediático maior do que o que é dado aos empresários, aos economistas, aos gestores e aos juristas, mas também sem ignorar os políticos que foram determinantes na sociedade durante o último quarto de século. Também não foram ignoradas as personalidades que, tendo falecido pouco antes de 1995, não deixaram de ter impacto económico, social, cultural, científico e político até 2020, como é o caso de José Azeredo Perdigão e da obra que construiu durante toda a sua longa vida – a Fundação Calouste Gulbenkian.

O ranking é iniciado pelos líderes históricos de cinco grupos empresariais portugueses, com Alexandre Soares dos Santos em primeiro lugar, distinguido como grande empregador na área da distribuição alimentar, e por ter fomentado a internacionalização do seu grupo em geografias como a Polónia – com a marca “Biedronka” (Joaninha) – e a Colômbia. Assegurou igualmente a passagem de testemunho ao seu filho Pedro Soares dos Santos. O Grupo Jerónimo Martins tem vindo a incentivar a utilização de recursos marinhos, pelo aumento da produção portuguesa de aquacultura no mar da Madeira – apesar de vários economistas terem destacado a importância da plataforma marítima portuguesa como fonte de riqueza, poucos empresários têm apoiado projetos nesta área, sendo o grupo liderado por Soares dos Santos um dos casos que não descurou o potencial do mar português.

Segue-se em 2º lugar Américo Amorim, que além do seu império da cortiça – o único sector em que Portugal conquistou a liderança mundial –, se destacou no mundo da energia e nos petróleos, assegurando a continuidade do controlo familiar dos seus negócios através das suas filhas. Belmiro de Azevedo aparece em terceiro lugar, consolidando a atividade da sua Sonae, bem como a participação no competitivo mundo das telecomunicações e o desenvolvimento do seu grupo de distribuição alimentar, com testemunho passado à sua filha, Cláudia Azevedo.

Em quatro lugar está António Champalimaud e a obra que o “capitão da indústria” deixou, na consolidação bancária, enquanto acionista do Grupo Santander – um dos maiores da Europa –, mas também ao nível da investigação desenvolvida na área da saúde, na Fundação Champalimaud. Em quinto lugar surge Francisco Pinto Balsemão que centrou a sua vida empresarial na construção de um grupo de comunicação com plataformas integradas e posições sólidas na liderança da imprensa e da televisão durante o último quarto de século.

Os políticos aparecem entre as individualidades seguintes, liderados por Mário Soares (que surge em 6º lugar). António Ramalho Eanes está em 7º lugar, António Guterres em 8º, seguindo-se Marcelo Rebelo de Sousa (9º), António Costa (10º), José Eduardo dos Santos (11º) – pelo peso que os elementos da sua família tiveram na economia portuguesa, sobretudo a sua filha Isabel dos Santos, e pelos investimentos concretizados em Portugal pelo conjunto de políticos e empresários angolanos próximos ao ex-presidente de Angola, atualmente questionados, na sua maioria, pela justiça angolana – e Aníbal Cavaco Silva (12º). Jorge Sampaio surge em 13º, seguido por Mário Centeno (14º), José de Azeredo Perdigão (15º), António Luciano de Sousa Franco (16º), Pedro Passos Coelho (17º), Álvaro Cunhal (18º), Ernesto Melo Antunes (19º), Luís Mira Amaral (20º), Pedro Queiroz Pereira (21º), Vasco de Mello (22º), Ricardo Salgado (23º), José Socrates (24º), Ernâni Rodrigues Lopes (25º), Francisco Murteira Nabo (26º), Rui Nabeiro (27º), Leonor Beleza (28º), António Arnaut (29º) e Joana de Barros Baptista (30º).

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